SOS Sado interpõe providência cautelar para travar deposição de areias em zona de pesca
Os sedimentos das dragagens no Sado poderão ser depositados numa zona de pesca em Tróia conhecida pelos pescadores como Restinga, habitat de várias espécies de peixes e bivalves.
O Movimento Cívico SOS Sado, de Setúbal, avançou nesta quinta-feira com uma providência cautelar no Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada com o objectivo de suspender a licença para a deposição de sedimentos das dragagens numa zona considerada sensível.
"O Movimento Cívico SOS Sado intentou uma providência cautelar no Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada com vista à suspensão do edital n.º 5/2018 – Título de Utilização Privativa do Espaço Marítimo (TUPEM) para deposição de 2,6 milhões de m3 de sedimentos de classe 1 e 2 de contaminação numa área defronte e perpendicular à península de Tróia, num local conhecido pelos pescadores como Restinga, zona de berçário e alimentação de várias espécies de peixes e bivalves que constituem parte fundamental da economia local", refere em comunicado o movimento.
A licença foi emitida pela Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), no dia 8 de Janeiro, para a deposição de sedimentos das dragagens de alargamento e aprofundamento do canal de navegação do estuário do Sado.
As dragagens para melhoria das acessibilidades marítimas ao porto de Setúbal prevêem a retirada de cerca de 6,5 milhões de metros cúbicos de sedimentos do estuário do Sado que deverão ser depositados em três locais distintos: uma parte junto ao terminal ro-ro, para expansão dos terminais portuários de Setúbal, outra a sul da barra e uma terceira, a mais polémica, na zona da Restinga, que constitui uma das principais zonas de captura para uma comunidade de cerca de 300 pescadores.
A licença já emitida pela DGRM (TUPEM 5 - Título de Utilização Privativa de Espaço Marítimo) é, precisamente, para a zona da Restinga, a que suscita maiores preocupações à comunidade piscatória e que motivou o protesto imediato das associações de pesca da região.
O grupo de cidadãos de Setúbal contestou também o pedido de TUPEM através do portal Participa, referindo que existem "irregularidades no processo, e deixou o apelo à DGRM para que garanta o "cumprimento das leis da República no que concerne a imersão de dragados e protecção da orla costeira".
"O movimento SOS Sado saúda todos os que participaram nesta consulta pública, tendo sido registadas dezenas de contestações formais, exigindo maior esclarecimento das populações sobre o porquê da obscuridade dos processos de decisão da DGRM e as consequências deste pedido e do projecto de dragagens no rio Sado", concluiu.