Em 2020, a Praça de Espanha perde carros e ganha árvores
Obras de novo parque urbano arrancam este ano e a câmara prevê terminá-los a tempo da Capital Verde Europeia, que se assinala em 2020. Antes disso haverá mudanças viárias.
Quando hoje se sai da estação do metro na Praça de Espanha, a primeira coisa que se vê à frente são vias de trânsito e, atrás, um parque de estacionamento e terminal rodoviário. Daqui a pouco mais de um ano, promete a câmara de Lisboa, a paisagem será radicalmente diferente. Essa saída de metro estará no centro de um extenso parque urbano que ali vai nascer e, em vez de estrada, o que se vai ver é uma ponte pedonal, uma clareira relvada e um riacho.
O futuro parque da Praça de Espanha, projectado pelo atelier de arquitectura paisagista NPK, começa a ganhar forma esta semana, com a aprovação em câmara do lançamento de um concurso público para as obras. “Contamos que as obras estejam concluídas no próximo ano”, disse Fernando Medina esta segunda-feira na apresentação pública do projecto.
O primeiro passo é a mudança da rede viária. A praça vai passar a ter dois cruzamentos, no enfiamento das avenidas Calouste Gulbenkian e Columbano Bordalo Pinheiro, desaparecendo a ligação directa, pelo meio, entre ambas. “A circulação vai ser melhorada, vai ser mais fluida”, garantiu o presidente da câmara, sublinhando que ir da Av. de Berna para a Av. Gulbenkian e da Av. dos Combatentes para a Av. António Augusto de Aguiar (e vice-versa) será mais rápido, pois deixa de se dar a volta à rotunda agora existente.
Para Medina, este projecto é o “símbolo de uma cidade em transformação no caminho da sustentabilidade ambiental”, uma marca da “Lisboa do futuro”. “Reforçamos as ligações pedonais, cicláveis, o sistema de transporte público”, disse. “Por cada mil pessoas que possam mudar do automóvel para transportes públicos e bicicleta são menos cinco quilómetros de filas na cidade.”
José Veludo, do atelier NPK, descreveu o futuro parque como “um elemento de coesão do espaço público”, prolongando os jardins da Fundação Gulbenkian quase até Sete Rios. Será um “parque central” na cidade, “preparado para receber vários públicos e várias sensibilidades”, em que se conjuga uma “praça pavimentada e um espaço aberto muito grande”, explicou o arquitecto. A saída do metro ficará na parte pavimentada, onde “um sistema de palas dá sombra e protege da chuva”, servindo ainda para albergar um café com esplanada.
Um dos requisitos do concurso internacional de ideias lançado pela câmara há dois anos era a valorização da água e o projecto escolhido contempla-a, trazendo de volta à superfície uma ribeira esquecida. “A proposta recusa permanecer com esta água escondida nos tubos. Não se trata de recriar o que já foi, mas de alcançar um maior equilíbrio entre o sistema cultural, a cidade, e o sistema natural”, referiu José Veludo.
Ao longo do vasto espaço, com quase cinco hectares, haverá ainda “equipamentos infantis e juvenis, bancos e bancadas”, disse o arquitecto. Haverá igualmente “uma intervenção artística” oferecida pela Gulbenkian, anunciou Isabel Mota, presidente da Fundação, cujo jardim estará ligado ao centro da praça através de uma ponte pedonal. Também no próximo ano se pode esperar a ampliação do Jardim Gulbenkian em quase 8000 metros quadrados, até à esquina da Av. Duque de Ávila. O concurso de ideias para esse trabalho vai agora ser lançado.
“Este é, sem dúvida, o projecto mais marcante do ponto de vista da afirmação do verde na qualidade de vida da cidade”, afirmou ainda Medina.
“É um bom projecto para a cidade”, reconheceu João Pedro Costa, vereador do PSD, que estava na cerimónia. Ainda assim, o social-democrata diz ter “grandes dúvidas em relação à solução viária” e pede ao executivo que siga o exemplo do concurso para o parque urbano, fazendo o mesmo para as estradas. “Não há que ter medo de ouvir mais do que uma equipa de projectistas.”
As mudanças rodoviárias na Praça de Espanha deverão custar cerca de seis milhões de euros aos cofres da autarquia. Brevemente, os lotes vagos à volta da praça serão ocupados por edifícios de escritórios (pertencentes ao Montepio e à Jerónimo Martins) e por uma nova unidade do Instituto Português de Oncologia.