Ministro da Defesa: “O primeiro-ministro deve ser António Costa”
Ministro por “12 meses”, João Gomes Cravinho não abre o jogo sobre se está disponível para integrar um próximo Governo de António Costa. Mas garante que se sente “perfeitamente confortável” num Governo suportado pelo BE e pelo PCP, embora como responsável pela Defesa Nacional procure convergências alargadas.
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Aos 54 anos, João Gomes Cravinho regressou ao Governo como ministro da Defesa, depois de ter sido secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros entre 2005 e 2011, nos governos de José Sócrates, de cuja acusação por corrupção tomou conhecimento “com surpresa”. Já sobre António Costa afirma que é para si “um ponto de referência” política, daí que tenha sido com “gosto” que aceitou integrar o Governo, sentindo-se “privilegiado" por poder fazê-lo.
Se o PS ganhar as eleições legislativas, está disponível para reassumir a pasta num futuro Governo de António Costa?
Não. Aceitei o convite de António Costa para ser ministro da Defesa no âmbito desta legislatura, é evidente.
Se António Costa o voltar a convidar, está disponível?
Acho em primeiro lugar que o primeiro-ministro deve ser o António Costa. Deve no sentido de ser mais provável e de ser desejável. Agora, em Outubro de 2019 veremos quais os resultados e o primeiro-ministro da altura. O novo governo escolherá como lhe compete.
Aceitou voltar ao Governo por ser próximo de António Costa ou porque tinha saudades de participar num?
Aceitei porque é um desafio ao qual não podia dizer que não. António Costa é um ponto de referência para mim, politicamente, e é-o há muitos anos, décadas. Portanto, foi um enorme gosto receber esse convite e aceitá-lo. Foi também, não vou negar, muito bom voltar a Portugal, estive sete anos fora do país, vi com grande satisfação as mudanças, as transformações em curso nestes últimos anos. Participar nesse processo obviamente que também me dá gosto e sinto-me privilegiado por poder fazê-lo.
Sente-se confortável com o facto de o secretário-geral do PS ter assumido uma aliança de poder com o PCP e o BE?
Perfeitamente confortável. Vamos lá ver... O Ministério da Defesa é o único que é referido no seu nome como é, nacional, ou seja, temos a obrigação, nestas funções, de nos mantermos acima das intrigas e dos conflitos partidários, acima dos ciclos políticos mais imediatos, pensar no médio e longo prazo, procurar sempre que haja a convergência possível. Às vezes, sabemos que não é possível a convergência com esta ou aquela força partidária, mas o esforço tem de lá estar. Portanto, embora me sinta perfeitamente confortável neste enquadramento, não é esse enquadramento político que me move. Da minha parte vou sempre procurar convergência à direita e à esquerda, o Ministério é da Defesa Nacional.
Acredita que é possível o PS procurar a maioria absoluta nas legislativas?
É fundamental explicar aos portugueses o que foi feito e quais são os projectos para a próxima legislatura e os portugueses decidirão em função disso. O PS, julgo que será o maior partido, vai ter de analisar a partir dos resultados qual é a situação em que se encontra e qual a natureza do governo que deve ser formado.
Como vê, depois já do fim do governo em que participou, o processo judicial e a acusação de corrupção feita ao então primeiro-ministro, José Sócrates, com quem trabalhou?
Com enorme desconforto. As acusações são graves. O que eu espero, acima de tudo, é que a verdade venha ao de cima, agora nesta próxima fase, no julgamento e que as consequências apropriadas sejam tiradas. Não posso ir além disso. As acusações que são feitas são de matéria que me é completamente alheia, desconheço, nunca tive qualquer tipo de conhecimento dessas matérias e, portanto, foi com surpresa que tive conhecimento das acusações.
Defende a abertura das Forças Armadas à sociedade civil. De que nasce essa defesa?
É uma questão fundamental e não é exclusivamente portuguesa. Há um afastamento, ao longo das últimas décadas, da nossa sociedade em relação às Forças Armadas. Daí resulta um desconhecimento da sociedade sobre aquilo que é a sua realidade hoje. Também penso que elas têm alguma responsabilidade, estiveram demasiado fechadas, durante demasiado tempo. No momento em que tudo do ponto de vista estratégico é incerto, em que nenhum de nós é capaz de dizer como vai ser o mundo e quais as condicionantes da nossa segurança daqui a dez anos, parece-me imperativo que haja um conhecimento muito mais aprofundado da realidade das Forças Armadas e, por outro lado, que estas reflictam mais fielmente a sociedade. Um exemplo: temos 11% de mulheres nas Forças Armadas, é muito pouco. Não digo que seja necessário uma paridade completa, mas uma percentagem superior, 25%, 30%, transformaria de forma muito positiva as Forças Armadas. Temos a obrigação de promover essa aproximação.
Uma das suas primeiras medidas foi pedir ao CEME que se demitisse. Não temeu que isso fosse interpretado como uma vingança política pela queda do seu antecessor?
De forma alguma. Não me passou pela cabeça. Aquilo que se sentia era a necessidade de virar a página, de haver um novo comando, uma nova confiança por parte das estruturas do Exército. Estou muito satisfeito porque isso foi conseguido, o general Nunes da Fonseca tem feito o trabalho que lhe tinha pedido. Tanto assim que hoje em dia essa problemática de Tancos não faz parte, de todo, do dia-a-dia das Forças Armadas.
Que sentiu quando um oficial afirmou que encobriu o descobrimento do material roubado em Tancos por interesse nacional? Em democracia, quem define o interesse nacional?
Evidentemente que são as instituições próprias, nomeadamente o Presidente da República, a Assembleia da República e o Governo. Não compete a um indivíduo nessas funções definir o que é o interesse nacional e tomar iniciativas. No entanto, acompanhei essa matéria de longe, lendo os jornais, não estava cá e não posso comentar sobre aquele momento preciso.