Rui Pinto à espera de saber se é extraditado para Portugal
Aguarda recurso para saber se se mantém em prisão domiciliária. Ministério Público húngaro pede prisão preventiva e defesa liberdade.
Vinte e dois dias depois de ter sido detido na Hungria, Rui Pinto, mantêm-se em prisão domiciliária em Budapeste. Aguarda um recurso, que tanto pode restringir mais a sua liberdade como ampliá-la. Isto só até que a juíza que está com o seu caso aceite ou recuse a sua extradição para Portugal.
O seu advogado português, Francisco Teixeira da Mota, explica os próximos passos do processo. “Aguardamos que seja fixada a audiência para discutir os argumentos que justificam a nossa oposição à extradição”, afirma o defensor, que admite como provável que essa sessão seja realizada na próxima semana. Poucos dias depois deverá haver uma decisão.
A defesa de Rui Pinto tem alegado que em Portugal o “denunciante” do Football Leaks, que também é suspeito de ter roubado os famosos emails do Benfica, não teria um julgamento justo. O próprio Rui Pinto afirmou isso mesmo na semana passada numa entrevista à revista alemã Der Spigel. “Tenho quase a certeza que não terei um julgamento justo em Portugal. O sistema judicial português não é inteiramente independente; existem muitos interesses escondidos”, afirmou o suspeito. E completou: “Claro que há procuradores e juízes que levam o seu trabalho a sério. Mas a máfia do futebol está em todo o lado. Querem passar a mensagem que ninguém se deve meter com eles.”
Outra questão que está em discussão é se Rui Pinto vai ficar em prisão domiciliária até saber se é extraditado para Portugal, já que estão pendentes dois recursos sobre esta questão. O Ministério Público húngaro pede que aguarde a decisão em prisão preventiva e a sua defesa sustenta que apenas deveria estar sujeito à medida mínima: ficar em liberdade, mas impedido de sair de Budapeste, onde reside. Ainda não há decisão do tribunal superior húngaro que está a analisar os recursos.
Nos mandados que foram emitidos pela Ministério Público português são imputados ao pirata informático de 30 anos seis crimes, nenhum dos quais envolvendo o Benfica ou o FC Porto. O único clube de futebol visado nesta panóplia de crimes é o Sporting, que terá sido vítima de um crime de acesso ilegítimo.
O mesmo terá acontecido com o sistema informático do fundo de investimento Doyen Investment Sports, que financia passes de jogadores e treinadores de futebol. Este fundo, sediado em Malta, também terá sido visado pela tentativa de extorsão que o Ministério Público imputa a Rui Pinto.
Em causa está o facto de o hacker ser suspeito de ter contactado, a 3 de Outubro de 2015, através de email, o representante da Doyen, Nélio Lucas, informando-o de que estaria na posse de informação confidencial relativa ao fundo, que estaria na disposição de manter privada mediante uma “doação generosa”. Isto depois de, no último dia de Setembro, já ter divulgado vários contratos do Sporting através do site Football Leaks.
Na troca de mensagens com Nélio Lucas, o pirata — que se apresentaria como Artem Lobuzov e com um email registado no Cazaquistão — terá considerado apropriado, para não divulgar a informação, um valor entre 500 mil euros e um milhão de euros.
O jovem terá referido ainda que a negociação deveria ocorrer através de advogados afectos a ambas as partes, sendo, no seu caso, representado pela sociedade de Aníbal Pinto. Foi este que se apresentou a 21 de Outubro de 2015 num encontro com Nélio Lucas e o seu defensor, na estação de serviço de Oeiras da A5.
Nessa reunião, garante o MP, o advogado terá admitido que o seu cliente era o autor e criador do domínio e conteúdos do site Football Leaks e que pretendia celebrar um acordo com a Doyen. Contactado pelo PÚBLICO, Aníbal Pinto reconhece ter estado presente no encontro, mas apenas para firmar um contrato de trabalho e que, mal se apercebeu de que havia suspeitas de extorsão, se retirou.