Os “melhores” do vinho em Portugal

Fevereiro é o mês da passadeira vermelha no vinho português. As principais revistas da especialidade entregam os seus prémios anuais, distinguindo vinhos e pessoas. Aqui na Fugas acrescentamos mais algumas distinções.

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O Globo

Fevereiro é o mês da passadeira vermelha no vinho português. As principais revistas da especialidade entregam os seus prémios anuais, distinguindo vinhos e pessoas. São miminhos que todos gostam de receber, por mais que o desvalorizem ou neguem. Uns anos calha a uns, noutros anos a outros. Com paciência, acabará por tocar a todos, porque há muita vida pela frente e não fica bem distinguir sempre os mesmos.

Aqui, na Fugas, também quisemos associar-nos a este momento “quero agradecer à minha família, sem ela nunca teria conquistado este prémio”, e acrescentamos mais algumas distinções.

Prémio Jovem Produtora: Dolores Aveiro, mãe de Cristiano Ronaldo e avó de Cristianinho Ronaldo e que acaba de anunciar o lançamento de um vinho e de um azeite do Alentejo com o seu nome. Leu bem, é mesmo Alentejo. Dolores Aveiro nasceu e viveu na Madeira, mas consta que o seu 18.º avô paterno era natural de Reguengos de Monsaraz. Há muita gente que acha isto muito pimba. Se o vinho tivesse um nome aristocrático, mesmo de alguém falido e vigarista, era chique. Porra, o povo também tem direito a vender vinho, a ser cool, romântico, freak, geek, vintage!... Força, Dona Dolores. Aguardo, ansioso, o seu vinho de talha.  

Prémio Pintas: Fátima Campos Ferreira. Pelo que disse no último Prós e Contras sobre o vinho duriense do casal Jorge Serôdio Borges e Sandra Tavares da Silva. “Um vinho caríssimo”, tão caro que Fátima "nunca" o provou, feito “com as vinhas velhas do Douro, lá no Vale Mendiz”. Sandra Tavares da Silva, sempre simpatiquíssima, ia rindo. Devia ser de vergonha alheia. Cada televisão tem a Manuela Moura Guedes que merece.

Prémio Solidariedade: População portuguesa honesta e cumpridora dos seus deveres cívicos. Pelo apoio financeiro que, numa fase difícil e a bem da economia nacional, prestou a produtores de vinho em dificuldades (como é caso de Joe Berardo) e a outros com excesso de terra (como é o caso de Henrique Granadeiro). Não é à toa que os estrangeiros gostam de nós. Somos mesmo assim. Até damos a camisa, se for preciso.

Prémio Infelicidade: revista digital MAGG, do Observador. Escreveu a revista que a empresa espanhola da marca Gik Live, a primeira a comercializar um vinho azul, criou agora um rosé que, “jura a pés juntos”, é mesmo feito com lágrimas de unicórnio. Esta criatura mitológica estará escondida num local secreto que só os donos da GIK Live conhecerão. Deve estar acorrentado, para poder chorar com mais facilidade e produzir as lágrimas necessárias ao rosé. Cada pack de três garrafas custa 39 euros. “Infelizmente”, lamenta a jornalista da MAGG, “ainda não exportam para Portugal”. Infelizmente?

Prémio Grande Moca: Associação das Empresas de Vinhos do Porto (AEVP), pela sua luta contra a cannabis. Em 2018, as vendas de vinho do Porto no Canadá caíram 9,7%. Em declarações ao Expresso, a secretária-geral da AEVP, Isabel Marrana, justificou esta quebra com a liberalização do consumo de cannabis naquele país. “A cannabis tornou-se uma verdadeira ameaça em países como o Canadá, onde há monopólio do Estado no vinho. (…). Fazem-se filas à porta das lojas para a cannabis, que se está a revelar super-rentável. O foco foi desviado para esta substância e os outros produtos do monopólio do Estado estão a sofrer com este boom", explicou Isabel Marrana. O sector está preocupado, uma vez que o Canadá é um mercado relevante para o vinho do Porto. Para contrariar o declínio das vendas, Isabel Marrana defende que é importante manter aquele país “na mira do investimento promocional”, anunciando para Maio uma acção conjunta da AEVP, Confraria do Vinho do Porto e Instituto dos Vinhos do Douro e Porto que envolve apresentações de vinhos, um concurso de sommeliers e a entronização de confrades locais. E que tal fazerem também harmonizações de cannabis com vinho do Porto? Em novo, já experimentei e garanto que resulta. Uma coisa puxa a outra (isto é uma brincadeira, não me acusem já de estar a apelar ao consumo de drogas. Na verdade, quando era jovem, fumei, mas não travei!).

Prémio Inveja: Pedro Garcias, Fugas, por ter criado estes prémios só porque não recebeu nenhum dos outros. Nem um W, sequer, desses que Aníbal Coutinho distribui a esmo.

PS: Agora um prémio a sério. Podia ter o nome de "O Papa sou eu" e teria que ser entregue a João Paulo Martins (cronista do Expresso e da revista Grandes Escolhas), que está a comemorar os 30 anos de carreira. Não é bem o Robert Parker português, até porque, hoje em dia, essa comparação seria ofensiva. Mas ninguém, na escrita de vinhos em Portugal, foi - e continua a ser – tão influente e reconhecido como ele. Os colegas chamam-lhe “Papa” e com razão. Como qualquer pessoa, tem as suas preferências e há muita gente que não se revê no seu “gosto”. Porém, o que ninguém pode negar a João Paulo Martins, para além do seu papel decisivo como divulgador e educador de vinhos, é competência, frontalidade e isenção. Sou testemunha dessas qualidades. E também de alguma teimosia e impaciência em relação a vinhos mais fora da caixa, com aromas e sabores que fogem dos seus padrões de prova (e de qualidade). Percebe-se: João Paulo Martins é um clássico. Todos nós, à medida que envelhecemos, vamos ficando cada vez mais clássicos nos gostos. É uma virtude, não é um defeito. Em regra, a idade torna-nos mais sábios, mais exigentes e mais intolerantes com o que é mau - mas também menos receptivos a algum experimentalismo e devaneio juvenil, sempre saudáveis e inspiradores. Não, não estou a chamar velho a João Paulo Martins. Perante a sua memória vínica e a sua capacidade de prova, velho sou eu.

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