O’Leary deixa os comandos directos da Ryanair

Transportadora irlandesa teve um prejuízo de 19,6 milhões no terceiro trimestre, acentuado pela pressão de redução dos preços. Michael O’Leary passa a presidente executivo da nova estrutura de grupo.

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O’Leary vai liderar a nova holding, mas ainda não foi anunciado quem o irá substituir na transportadora Ryanair Nelson Garrido
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Empresa vai passar a ter uma estrutura de grupo "semelhante à da IAG", e onde se inclui a Niki EPA/FOCKE STRANGMANN

A Ryanair anunciou esta segunda-feira uma mudança na organização da empresa com a criação de uma holding liderada por Michael O’Leary. O gestor deixa assim a chefia directa da transportadora irlandesa low cost, ficando com a estratégia global do grupo (que inclui a austríaca Niki). Em comunicado, a empresa reportou também uma perda de 19,6 milhões de euros no terceiro trimestre do seu ano fiscal (que terminou no final de Dezembro).

Além da passagem de Michel O’Leary para a presidência executiva da estrutura de grupo que vai ser criada nos próximos doze meses, foi também anunciada a saída do actual presidente não executivo da Ryanair, David Bonderman.

Enquanto presidente executivo do grupo, diz a empresa, O’Leary vai ser apoiado pelos gestores que ficam à frente da Ryanair – neste caso falta encontrar um sucessor –, da Ryanair Sun (com base na Polónia), da Ryanair UK e da Nikki (com base na Áustria). No caso da Niki, a empresa irlandesa assegurou há poucas semanas 100% do capital ao ficar com a fatia que o antigo piloto de F1, Niki Lauda, ainda detinha.

De acordo com o comunicado hoje divulgado, O’Leary, que assinou um novo contrato de cinco anos, vai “concentrar-se no desenvolvimento do grupo”, com missões como a redução de custos, projectos de investimento, aquisições de aviões e oportunidades de fusões e aquisições “de pequena escala” (à semelhança da Niki). Com 57 anos, o gestor lidera a  low cost irlandesa desde 1994.

Tanto o histórico gestor da Ryanair com o presidente do conselho de administração, David Bonderman, foram alvo de críticas por parte dos trabalhadores e dos accionistas no último ano. Agora, a empresa anuncia que Bonderman vai sair do cargo que ocupa desde 1996 após a assembleia-geral de Setembro de 2020, e substituído por Stan McCarthy (que está na administração desde Maio de 2017).

Entre as críticas à administração estava a forma de O’Leary lidar com as reivindicações laborais dos trabalhadores, que levou a greves e custos adicionais para a Ryanair, bem como à queda das acções, e a falta de independência de Bonderman em relação ao presidente executivo.

Pressão nos preços

Ao nível das contas, o prejuízo de 19,6 milhões de euros registado no terceiro trimestre do ano fiscal foi justificado parcialmente pela pressão de redução dos preços das tarifas praticadas devido à forte concorrência no mercado europeu.

Em comunicado, a Ryanair destaca ainda o aumento dos custos com combustível, das despesas com pessoal (no âmbito das reivindicações laborais dos trabalhadores) e dos custos ligados aos cancelamentos e indemnizações de passageiros.

Em idêntico período do exercício passado, a empresa tinha registado um lucro de 105 milhões de euros. A 18 de Janeiro, a transportadora aérea irlandesa reviu em baixa, pela segunda vez, a sua perspectiva de lucro para o ano completo. Este deverá agora situar-se entre um e 1,1 mil milhões de euros, menos cem milhões do que tinha sido anunciado até aqui.

Já ao nível das receitas, estas subiram 9% para 1,5 mil milhões de euros no terceiro trimestre, com o número de passageiros a crescer 8% para 32,7 milhões.

Para Michel O’Leary, o prejuízo é “desapontante”, mas defende que isso quer dizer que os clientes estão a beneficiar de preços “historicamente baixos”, o que, por sua vez, é positivo para o “actual e futuro crescimento de tráfego”.

De acordo com a transportadora irlandesa esta conjuntura de excesso de oferta e de tarifas baixas vai levar a uma maior consolidação do sector, com mais concorrentes a fecharem ou a serem comprados.

A empresa nota ainda que o risco de um “Brexit” sem acordo se mantém elevado, ao mesmo tempo que assegura ter tomado “todas as medidas necessárias” para diminuir o impacto negativo. Entre elas está a imposição de restrições nos direitos de voto e na venda de acções, durante um determinado período, por parte de cidadãos que não sejam da União Europeia. Isto de modo a garantir que a empresa se apresenta como sendo maioritariamente de capital da UE, beneficiando do respectivo mercado único.

As acções da Ryanair fecharam a perder 1,89%, para 11,18 euros (o máximo foi atingido a 15 de Agosto de 2017, quando o título chegou à casa dos 19 euros).

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