João Ferreira: “Este Governo nem sequer é de esquerda”

Em entrevista à Agência Lusa, o eurodeputado e cabeça de lista da CDU (PCP-PEV) às eleições europeias rejeitou a ideia de suceder a Jerónimo de Sousa como líder dos comunistas.

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Nuno Ferreira Santos

O cabeça de lista da CDU às europeias sublinha que os quatro últimos Orçamentos do Estado foram do PS, apesar dos votos de PCP, PEV e BE. João Ferreira disse, em entrevista à agência Lusa, que este nem é "sequer um Governo de esquerda", mas sim um executivo minoritário dos socialistas.

"A questão dos Orçamentos do Estado, não foram orçamentos do PCP, foram orçamentos do Governo do PS porque este é um Governo PS, não é um Governo das esquerdas, nem sequer um Governo de esquerda. É um Governo do PS, que não se libertou em aspectos essenciais e estruturantes das políticas de direita que levou à prática no passado", afirmou João Ferreira.

Porém, o dirigente comunista realçou a acção preponderante de PCP e "Os Verdes" em alguns avanços de rendimentos e direitos das pessoas, pois "algumas das medidas que foram tomadas nestes três anos nunca foram tomadas antes nem seriam nunca tomadas por um Governo do PS com maioria absoluta", referindo-se às negociações orçamentais bilaterais.

"A relação de forças é a que é. O que tivemos nestes três anos foi determinado por um quadro em que o PS tem um Governo minoritário, o PSD e o CDS, juntos, também não têm maioria, mas em que a relação ainda é a que é. Os três partidos juntos têm uma proporção muito significativa dos lugares na Assembleia da República e, várias vezes, os três se juntaram para inviabilizar propostas positivas feitas pelo PCP", lamentou.

Sobre o dilema de as forças à esquerda do PS reclamarem algumas "bandeiras" para si, mas renegarem o respeito pela disciplina financeira imposta por Bruxelas e o eventual ganho eleitoral dos socialistas, nomeadamente nas últimas autárquicas, João Ferreira atribui essa noção a uma "deficiente percepção" do público, dada a menor presença no espaço mediático de PCP e PEV, por discriminação e silenciamento da comunicação social ou sobrevalorização de iniciativas de outros partidos.

"O que a situação demonstra é que o que é necessário não é andar para trás do ponto de vista do que foi esta alteração positiva na relação de forças. O facto de o PCP e a CDU terem crescido nas eleições ajudou ao que temos hoje e para irmos além do que temos hoje - é uma lição que estes três anos nos dão - o caminho passa pelo reforço da CDU necessariamente", garantiu.

João Ferreira reconheceu que o principal móbil da denominada 'geringonça' de esquerda - o PS com acordos com bloquistas, comunistas e ecologistas - foi desalojar a direita do poder, terminando o seu projecto de "subversão constitucional" e de "cortes" para dar lugar à reversão de tais medidas.

O também vereador da Câmara Municipal de Lisboa vincou que foi a CDU "a primeira força política" a dizer na noite eleitoral de Outubro de 2015 que "eles perderam" (PSD/CDS-PP) quando outros partidos "baixavam os braços".

João Ferreira exclui subida a secretário-geral do PCP em 2020

O cabeça-de-lista da CDU às europeias rejeita a hipótese de suceder a Jerónimo de Sousa, mesmo que só dentro de dois anos, como secretário-geral do PCP, no Congresso Nacional ordinário dos comunistas, previsivelmente em Dezembro de 2020.

Em entrevista à agência Lusa, o dirigente comunista, João Ferreira, relevou antes os cargos de vereador na autarquia lisboeta e parlamentar em Bruxelas e Estrasburgo em detrimento da eventual liderança do partido, frisando a diferença face a outras forças políticas do PCP, com a sua tradição e prática de cariz colectivista.

"As responsabilidades que admito são as de vereador na Câmara Municipal de Lisboa, pelo menos até 2021, e de deputado no Parlamento Europeu nos próximos cinco anos. São as responsabilidades que me motivam, neste momento. Está a falar com um actual membro do Comité Central, que continuará com essa condição, pelo menos, até ao próximo congresso do partido", disse.

O biólogo de 40 anos é pela segunda vez o primeiro nome da coligação que congrega PCP e "Os Verdes" na lista para o Parlamento Europeu, depois de já ter encabeçado o rol de candidatos autárquicos a Lisboa também por duas ocasiões, além da presença semanal em comentário televisivo, sendo assim um dos militantes comunistas com maior visibilidade a seguir ao actual secretário-geral, o antigo operário Jerónimo de Sousa, com 71 anos e há mais de 14 à frente do partido.

"De certeza que não. Certamente que não", respondeu rindo-se sobre a possibilidade de vir a tornar-se líder comunista, a partir de 2020.

Relativamente à sua contínua presença mediática, o eurodeputado e recandidato nas eleições europeias de 26 de Maio relativizou, pois "há muitos militantes do PCP com visibilidade em função das tarefas que desenvolvem".

"Houve outros que as tiveram antes de mim e tiveram igual visibilidade. É sinal de uma intervenção destacada que o PCP e a CDU têm em muitas frentes, mas é fruto, sobretudo, não de rasgos individuais, mas de um colectivo. Nós somos um partido diferente em várias coisas, também desse ponto de vista. Nós temos uma liderança que é, sobretudo, uma liderança colectiva", afiançou.