Enfermeiros: Cristas diz que ministra tem demonstrado "incapacidade", Rio afirma que ambas as partes "têm razão"
A greve dos enfermeiros em blocos operatórios de sete hospitais públicos começou hoje às 8h e estende-se até ao final de Fevereiro.
A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, considerou nesta quinta-feira que a ministra da Saúde tem demonstrado "incapacidade para governar a sua pasta", referindo-se ao diferendo com os enfermeiros. Já o presidente do PSD apelou a um esforço por parte do Governo e dos enfermeiros para alcançarem um acordo porque "ambos têm razão". No fim, quem acaba por sofrer o impacto das greves são os doentes, declarou.
"Eu peço que haja equilíbrio aos enfermeiros, percebendo que o Estado não está em condições de poder dar tudo o que eles querem. Mas, também peço ao Governo que perceba que, tendo os enfermeiros razão, alguma coisa tem de ser feita", disse Rui Rio aos jornalistas, após uma visita ao Hospital de Faro.
Afirmando não "simpatizar" com a forma como vai ser feita a greve, o líder do PSD disse, no entanto, compreender as reivindicações dos enfermeiros, que são "justas", razão pela qual não pode "atacar totalmente os enfermeiros" por estarem "sempre em greve", quando depois não conseguem "rigorosamente nada" daquilo que reivindicam.
A greve dos enfermeiros em blocos operatórios de sete hospitais públicos começou hoje às 8h e estende-se até ao final de Fevereiro, com os profissionais de saúde a reivindicarem o descongelamento das progressões na carreira e o aumento do salário base. "Eu se fosse neste momento chefe do Governo pediria à ministra ou ao ministro que fosse para as negociações com a maior abertura possível. E depois, publicamente, pediria à outra parte que fizesse o mesmo. E da parte do Governo tem de haver também essa abertura", defendeu Rui Rio.
"Incapacidade para governar"
Confrontada com a possibilidade avançada pela ministra da Saúde, Marta Temido, de recorrer aos tribunais para travar a greve dos enfermeiros, a presidente do CDS-PP Assunção Cristas disse esperar que o "Governo seja capaz de resolver esta questão".
À margem de um encontro com os jovens da Escola Secundária Domingos Sequeira, em Leiria, a líder do CDS-PP salientou que os utentes querem que seja "restabelecida a tranquilidade e a normalidade nos serviços".
"A senhora ministra tem demonstrado absoluta incapacidade para governar a sua pasta", frisou.
Para Assunção Cristas, a greve cirúrgica retomada pelos enfermeiros é uma "grande preocupação", sendo uma forma evidente de que "o Governo continua incapaz de resolver o relacionamento com os enfermeiros".
"Isso é um sinal apenas dos inúmeros problemas que há na área da saúde, onde se sente uma degradação a olhos vistos, onde há um caos total. Ainda esta semana houve mais notícias de demissões (directora das Urgências na Guarda). Portanto, esta questão [enfermeiros] é uma no meio de tantas outras que mostram a absoluta incompetência e incapacidade do governo de tratar desta área da saúde. Mudou de ministro, não mudou de política. É um problema do Governo, não é um problema da pasta", acrescentou.
Gestão danosa
A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) rejeitou entretanto que as suas reivindicações ponham em causa a sustentabilidade dos serviços públicos, afirmando que isso já acontece "há muitos anos" com a má gestão que tem sido feita.
"A questão da sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde [SNS] já está posta em causa há muitos anos com a má gestão que tem sido feita dos recursos do SNS", afirmou a presidente da ASPE, Lúcia Leite, que comentava à agência Lusa declarações da ministra da Saúde.
A ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou na quarta-feira, numa entrevista à RTP, quando questionada pela greve dos enfermeiros iniciada nesta quinta-feira, que compete ao Governo responder "a dois problemas, o problema dos utentes do SNS e da sustentabilidade dos serviços público".
"Portanto, não podemos fazer escolhas que ponham em causa nenhum dos dois aspectos", afirmou Marta Temido, referindo que "não é possível fazer um reposicionamento que implique um aumento salarial de 400 euros para 42 mil pessoas", apontando que só esta exigência implica um custo de 216 milhões de euros.
A presidente da ASPE, um dos sindicatos que convocaram a paralisação, reconheceu que os valores podem ser "relativamente elevados", porque a paragem em termos de carreira tem muitos anos.
"Recuperar o passado nalguns casos de 20 anos tem um impacto financeiro imediato grande, nós temos consciência disso e por isso propusemos um faseamento" para recuperar com algum tempo esse prazo o que não foi aceite pelo Governo.
Contudo, "fazer crer à população que são os enfermeiros que estão a pôr em causa o SNS" é um "argumento de muito má fé".
Lúcia Leite deu alguns exemplos da "má gestão" dos recursos do SNS, como o investimento que o Serviço Nacional da Saúde faz no Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia.
"Chega a pagar a um único médico numa tarde o ordenado de um enfermeiro de um mês, o que considero uma gestão danosa do SNS e que tem implicado custos elevadíssimos, com um aumento progressivo dos vales de cirurgia e que transfere para os serviços privados o pagamento de serviços que os serviços públicos deviam estar a assegurar", exemplificou.