Overdoses aumentaram 41% em 2017

Coordenador-geral do SICAD, João Goulão, espera ter os kits anti-overdose nas mãos das equipas de rua "dentro de dois ou três meses".

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Nuno Ferreira Santos

As 38 mortes por overdose registadas em 2017 representam um aumento de 41% face às 27 overdoses de 2016. Ainda assim, os números estão aquém das 40 mortes que tinham sido registadas em 2015. O relatório frisa ainda que, nos últimos sete anos, os valores mantêm-se abaixo dos verificados 2008 e 2010. AO PÚBLICO, o coordenador-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Adictivos e nas Dependências, João Goulão, reconhece que “o aumento percentual é muito significativo”, mas lembra que “os números continuam a ser muito baixos” e, mais do que isso, “os mais baixos da Europa”.

“Temos que perceber se há aqui uma tendência ou se foi uma ocorrência ocasional”, acrescentou, dizendo-se esperançado de que os kits anti-overdose, “cujo medicamento já foi autorizado no mercado português, possam começar a ser distribuídos às equipas de rua já nos próximos dois ou três meses”.

“Se com esse investimento conseguirmos evitar uma, duas ou três overdoses por ano, já valeu a pena o investimento”, referiu.

A possibilidade de distribuir kits de naloxona (um antagonista dos receptores opióides no sistema nervoso central que ajuda a reverter as overdoses) sob a forma de sprays nasais é uma reivindicação antiga do SICAD que assim procura seguir o exemplo de mais de uma dezena de países. Na região da Catalunha, por exemplo, esses kits já são distribuídos directamente aos consumidores de drogas nas salas de consumo assistido. 

No ano a que se refere o relatório, morreram mais homens (34) do que mulheres (4) por overdose, maioritariamente indivíduos acima dos 34 anos. Dito de outro modo, a idade média à morte das vítimas fixou-se nos 41 anos. “No entanto”, sublinham os autores do relatório, “é de notar que a proporção de jovens e jovens adultos (29%) foi a mais elevada dos últimos cinco anos”.

Na maior parte dos casos, em 2017 como nos outros anos, substâncias como opiáceos, cocaína e metadona surgiram misturados com álcool e benzodiazepinas, sendo que as 38 overdoses de 2017 se inscreveram no universo de 259 óbitos em que o Instituto Nacional de Medicina Legal detectou a presença de substâncias ilícitas.

As restantes 221 mortes cujas autópsias acusaram a presença de drogas foram sobretudo atribuídas a morte natural (38%) e a acidentes (33%), seguindo-se-lhes o suicídio (23%) e o homicídio (3%).

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