Cantinho do Estudo: uma ferramenta contra o insucesso escolar
Melhorar as condições de estudo e aprendizagem das crianças – esta é a missão do Cantinho do Estudo. A iniciativa tem três anos de existência e já ajudou 51 crianças das freguesias de Canidelo e de Avintes. O projecto psicossocial do Município de Gaia e da Fundação Manuel António da Mota está agora numa nova etapa e pretende chegar a cerca de trezentas famílias de todo o concelho.
O Cantinho do Estudo, iniciativa criada em 2014 pelo Município de Vila Nova de Gaia com o apoio da Fundação Manuel António da Mota (FMAM), das juntas de freguesia de Canidelo e de Avintes e da Gaiaurb, evoluiu e expandiu-se a todo o concelho. O projecto começou por criar melhores condições nas habitações de crianças entre os 7 e os 11 anos identificadas como carenciadas, e que demonstrassem esforço e dedicação na aprendizagem. Proporcionar algum conforto e tranquilidade para o estudo, em casa, provou ser uma motivação. António Duarte, director do Agrupamento de Escolas D.Pedro I, em Canidelo, assegura que “as condições melhoraram a aprendizagem, os alunos tiveram sucesso”. Simbolicamente, o propósito principal era criar um espaço, um “cantinho”, para que as crianças pudessem concentrar-se nas tarefas escolares. Também as condições básicas de habitabilidade das casas foram melhoradas, provando que o Cantinho do Estudo tem “outras virtudes, como dar resposta a problemas sociais”, remata o professor.
Este projecto pretende, através da criação de espaços de estudo mais confortáveis e com melhores condições, ser uma ferramenta no combate ao insucesso escolar.
Para Cláudia Vieira, assistente social da Junta de Freguesia de Avintes, “o facto de os espaços ganharem dignidade ajuda os residentes a saírem de alguma depressão em que vivem e a ganharem alento. As crianças revelam dar valor ao facto de terem um espaço com mais condições e passam a valorizar a manutenção da organização dos espaços.”
Até ao momento, o projecto já ajudou 51 crianças e prevê, até ao final de Fevereiro, juntar mais 10 a esta iniciativa.
Uma nova fase, mais apoios
O Cantinho do Estudo foi criado pelo Município, mas nesta fase de expansão – que se estenderá até meados de 2020 – foi aprimorado em colaboração com a Fundação Manuel António da Mota na preparação da candidatura aos apoios financeiros da iniciativa Portugal Inovação Social. Aprovada a proposta, a FMAM assume agora um papel mais interventivo na iniciativa. Rui Pedroto, presidente da fundação, falou-nos sobre o papel das empresas na comunidade, destacando a Educação como “um pilar fundamental do progresso e do desenvolvimento de qualquer sociedade.”
“A economia não vive à margem da sociedade”
Assim o afirma Rui Pedroto, presidente da FMAM desde a sua criação formal, em 2010. Na sua génese está intrínseca a homenagem ao legado de Manuel António da Mota, cuja dedicação ao Grupo Mota-Engil e à comunidade ultrapassou largamente o âmbito industrial.
“Vivendo as empresas inseridas na sociedade e sendo parte da vida humana, é-lhes pedido que vão além desse propósito, que é a sua génese, a sua matriz fundamental, e que ajudem a comunidade a desenvolver-se, a progredir”, afirma. O grupo já tinha uma política de Responsabilidade Social (interna) à qual decidiu dar uma versão mais organizada, definindo três eixos principais de envolvimento com a comunidade – Desenvolvimento Social, Educação e Cultura.
Sobre o Cantinho do Estudo, começa por destacar que “a educação não é a mera instrução – a educação é mais do que a mera aprendizagem de conteúdos; visa essencialmente o desenvolvimento integral do homem enquanto pessoa (…). Não é tarefa exclusiva da escola e envolve outros agentes educativos, a começar pela família”. A singularidade do projecto é conseguir melhorar o ambiente doméstico das crianças e das famílias. Não sendo condição única, o conforto não deixa de ser uma condição necessária para o sucesso da aprendizagem.
Para Rui Pedroto, a essência do projecto é “mexer na componente imaterial, na cabeça das crianças e das famílias” que têm de ser um agente activo na melhoria do processo educativo: “se as famílias se desinteressarem da escola e do futuro académico dos filhos, (estes) dificilmente terão o estímulo necessário.”
De financiadora a executora, a FMAM está neste momento a desenvolver um trabalho que envolve uma equipa multidisciplinar de cinco pessoas ligadas ao Apoio Social e à Psicologia que, em contacto com os 14 agrupamentos de Gaia, está a sinalizar crianças do 4.º e do 6.º ano de escolaridade. No projecto inicial, era valorizado o rendimento escolar dos alunos – apesar das fracas condições em casa, este apoio era visto como um reconhecimento pela boa prestação escolar. Actualmente, os alunos seleccionados têm em comum um percurso de insucesso escolar, reforçando o teor motivacional do Cantinho do Estudo.
Apesar de as autarquias não terem a tutela de muitos domínios na área da educação, ao estarem mais próximas dos agrupamentos está-lhes inerente um contacto mais directo com estes casos de desigualdade social e um papel preponderante de intervenção. Rui Pedroto reforça, por isso, a importância desta e de outras parcerias entre autarquias e empresas que garantam a coesão social: “O progresso sustentável é o equilíbrio entre o económico, o social e o ambiental”. Lembra, ainda, que as empresas, ao exercerem uma política de Responsabilidade Social, estão a contribuir para esses objectivos mais vastos do Desenvolvimento Sustentável.