Sindicatos querem levar trabalhadora despedida de corticeira à Assembleia da República
Cordão humano de apoio juntou, este sábado, cerca de 130 pessoas em Santa Maria da Feira.
O pedido está feito e agora é só aguardar. Cristina Tavares, a trabalhadora despedida este mês pela Fernando Couto Cortiças SA, que fora obrigada a reintegrá-la por ordem judicial, em Abril, deverá encontrar-se em breve com representes dos grupos parlamentares na Assembleia da República. Os pedidos para que a trabalhadora de 48 anos seja recebida deverão começar a seguir já este domingo e são apenas mais um dos passos no braço-de-ferro sem fim à vista entre a mulher que quer reaver o posto de trabalho, contando para isso com o apoio dos sindicatos, e a empresa corticeira. Este sábado, cerca de 130 pessoas participaram numa marcha de apoio.
Estava anunciado como um cordão humano, mas que acabou por ser simbólico. Em fila indiana, esticando-se através das ruas em torno do edifício da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, os participantes gritaram frases de protesto em que “O trabalho é um direito, sem ele nada feito”, foi das mais repetidas.
É que é só isso que Cristina diz querer. A mulher insiste que está pronta para regressar ao trabalho. Mesmo depois de, após a reintegração, a terem obrigado a carregar a mesma palete durante meses a fio – razão pela qual a empresa foi condenada pela Autoridade para as Condições do Trabalho a pagar uma multa de 31 mil euros. Mesmo depois de lhe ser instaurado um processo disciplinar que serviu de justificação para o despedimento concretizado este mês e que a mulher vai contestar, de novo, nos tribunais. “Eu só quero o meu posto de trabalho. Vou trabalhar, entro, faço as minhas tarefas e venho-me embora”, diz Cristina, como quem justifica o porquê de não se importar com eventuais hostilidades que possa encontrar na empresa, caso lhe seja permitido o regresso.
Durante a acção de apoio deste sábado mais do que uma pessoa a tratou como “heroína”, mas ela não parece prestar muita atenção. Diz que tem um filho cujo sustento depende do ordenado que ela levar para casa e que para lidar com as despesas que, mensalmente, lhe caem na vida, também só depende disso. “Para que me servia uma indemnização? E depois?”, diz como quem sabe que esse dinheiro não duraria muito.
Alírio Martins, do Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte (SOCN), encabeçou a marcha, com Cristina ao lado, e o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, logo atrás. Os dois sindicalistas garantiram que a luta é para continuar. “Não sabemos quando vai acabar, mas estamos convictos que vai acabar bem”, disse Arménio Carlos no final da manifestação de apoio, garantindo: “Estamos convictos de que é uma luta para travar e para ganhar.”
Já Alírio Martins garantiu que Cristina pode contar com o apoio do SOCN “para tudo, absolutamente tudo”. Para já, os aspectos mais visíveis desse apoio são a preparação da contestação judicial do despedimento, que está em curso, e a organização de novos protestos, o próximo dos quais será a 9 de Fevereiro, em Lourosa, e foi apresentado como uma “tribuna pública”.
Este sábado, Cristina voltou para casa com palavras de apoio, palmas e um ramo de flores. A trabalhadora completou 48 anos na sexta-feira e teve direito a que lhe cantassem os parabéns, com uma pequena adaptação. Em vez de “para a menina Cristina, uma salva de palmas”, cantou-se “para a trabalhadora Cristina”. E bateram-se palmas.