Mulheres condenadas por deixarem água e comida para migrantes no deserto
Segundo dados do grupo humanitário Humane Borders, desde 2000 já morreram quase 3000 migrantes no sul do Arizona.
Um juiz federal condenou quatro mulheres por entrarem sem permissão numa reserva natural, no deserto do Arizona (EUA), para deixarem água e comida para os migrantes que por lá passam.
As activistas foram condenadas nesta sexta-feira pelo juiz norte-americano Bernardo Velasco, naquela que é já considerada a primeira sentença criminal por causas humanitárias no espaço de uma década, segundo o diário britânico The Guardian.
As quatro mulheres, Natalie Hoffman, Oona Holcomb, Madeline Huse e Zaachila Orozco-McCormick, são voluntárias do grupo activista “No More Deaths” (“Não a mais mortes”, na tradução em português) que luta contra a morte de imigrantes ilegais que atravessam o deserto junto à fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Natalie Hoffman foi considerada culpada por conduzir um veículo no interior da reserva nacional Cabeza Prieta (Arizona) e por ter entrado na zona federal protegida, sem permissão, para deixar cântaros de água e enlatados em Agosto de 2017. As restantes activistas foram condenadas por entrarem na reserva natural sem autorização e por lá deixarem bens pessoais.
Todos os anos centenas de migrantes morrem e outros tantos são resgatados pelas patrulhas de controlo fronteiriço ao tentarem chegar aos Estados Unidos. Segundo a agência Reuters, o deserto de Sonora, que atravessa o Arizona, é um dos locais de travessia mais mortíferos.
Desde 2000, o gabinete de medicina legal do condado de Pima (Arizona) em parceria com o grupo humanitário Humane Borders ("Fronteiras Humanas" em português) tem vindo a monitorizar o número de migrantes mortos no condado e no sul do Arizona, com os números a chegarem quase aos três mil. No entanto, o número total de mortes pode ser mais elevado tendo em conta que muitos dos corpos nunca chegam a ser resgatados.
À semelhança do que acontece no deserto do Sara, uma grande parte dos migrantes morre devido ao calor extremo, por exaustação, falta de água e comida ou abandonados por traficantes, muitos dos quais vindos da América Central e a viajar em família e com crianças, explica o Guardian.
Em Dezembro passado, uma criança de sete anos da Guatemala morreu de choque e desidratação num centro de detenção de imigrantes no estado norte-americano do Novo México, depois de ter atravessado o deserto entre os estados do Arizona e do Texas.
Já na semana passada, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez um discurso ao país onde falou sobre os seus receios com a imigração ilegal, referindo-se ainda a uma “crescente crise humanitária”. A paralisação parcial do Governo já dura há 29 dias, sem acordo à vista no Congresso para financiar a construção de um muro com o México.