Hacker Rui Pinto assume ser denunciante no Football Leaks
Comunicado dos advogados avança ainda que o hacker se irá opor ao pedido de extradição.
A defesa de Rui Pinto, o hacker suspeito do roubo de correspondência electrónica do Benfica, assume, num comunicado enviado ao PÚBLICO, que o jovem foi “denunciante” no caso Football Leaks, invocando esse estatuto (whistleblowers) previsto na legislação europeia.
Essas normas destinam-se a proteger pessoas como Julian Assange, protagonista do escândalo Wikileaks ou Edward Snowden, que revelou as práticas de vigilância usadas pelas autoridades norte-americanas, denunciantes que puseram a nu práticas de duvidosa legalidade com manifesto interesse público.
No site do Football Leaks foram divulgados 70 milhões de documentos com informação sensível sobre os bastidores do mundo do futebol, que deram origem a inúmeras notícias em todo o mundo e até a investigações criminais.
Rui Pinto foi detido na tarde de quarta-feira em Budapeste e os advogados avançam que se irá opor ao pedido de extradição feito pelas autoridades portuguesas, que pediram o mandado europeu que esteve na origem da sua detenção.
No comunicado, os defensores, Francisco Teixeira da Mota e William Bourdon (que representou Julian Assange e Edward Snowden), estranham a rapidez com que foi executado o mandado e deixam no ar uma frase enigmática: "A súbita celeridade do processo não deixa de levantar diversas questões para as quais deverão ser dadas respostas precisas".
Os advogados dizem que Rui Pinto lhes transmitiu que desde que foi lançado o Football Leaks, em Setembro de 2015, o cliente "foi seriamente ameaçado, sendo o seu silêncio o objectivo de muitos intervenientes no mundo do futebol".
E alertam: "Ao contrário do que pretendem aqueles que têm vindo a perseguir o Sr. Rui Pedro Gonçalves Pinto, a importância da indústria do futebol não deve ser utilizada para manter na opacidade as práticas gravemente contrárias à lei que no mundo deste desporto se verificam".
Os advogados sublinham que Rui Pinto se tornou “num importante denunciante europeu no âmbito dos chamados Football Leaks” e justificam essa actuação com o facto de o “jovem português amante de futebol” se sentir “indignado com práticas vigentes neste desporto”. Na nota, os defensores dizem que o cliente decidiu contribuir para o conhecimento público de práticas criminosas, visto estas “não dignificarem a comunidade dos jogadores, além de prejudicarem a imagem dos mesmos”.
A equipa de defesa sustenta "o incrível paradoxo que resulta da tentativa de criminalização do seu cliente, quando, na verdade, o seu gesto cívico e as suas revelações permitiram a numerosas autoridades judiciais europeias um avanço histórico no conhecimento das práticas criminosas no mundo do futebol".
Teixeira da Mota e Bourdon dizem ter conhecimento de uma queixa-crime apresentada pelo fundo de investimento Doyen Investment Sports, que financia passes de jogadores e treinadores de futebol, contra Rui Pinto, mas defendem que as autoridades portuguesas “ter-se-ão precipitado na detenção do seu cliente”.