Shutdown: Pelosi pede a Trump para adiar discurso do Estado da União
Líder dos Democratas no Congresso sugere ao Presidente que protele ou envie por escrito o tradicional discurso por “razões de segurança”. Sondagens mostram que Presidente está em minoria.
Ao dia 26 do actual encerramento de agências públicas norte-americanas – no mais longo shutdown de sempre –, a presidente da maioria democrata na Câmara dos Representantes escreveu uma carta a Donald Trump pedindo-lhe que adie o discurso do Estado da União, previsto para 29 de Janeiro. Em alternativa, Nancy Pelosi sugere que o Presidente apresente o discurso por escrito ao Congresso.
“Infelizmente, dadas as preocupações de segurança e a não ser que o Governo reabra esta semana, sugiro que trabalhemos em conjunto para determinar outra data adequada para este discurso, depois da reabertura do Governo, ou que considere apresentar o seu Estado da União por escrito ao Congresso”, escreveu Pelosi na missiva que esta quarta-feira chegou à Casa Branca.
Recordando que durante o século XIX e até ao Presidente Woodrow Wilson “as mensagens anuais sobre o Estado da União eram enviadas por escrito ao Congresso”, Pelosi lembra ainda que “em Setembro de 2018, a secretária [da Segurança Interna Kirstjen] Nielsen designou as Mensagens do Estado da União um Evento Especial de Segurança Nacional, reconhecendo a necessidade de ‘contar com todos os recursos do Governo Federal’ para garantir a segurança destes eventos”.
Na prática, escreve Pelosi, um evento com esta designação “exige semanas de planeamento envolvendo dezenas de agências que devem preparar a segurança de todos os participantes”. Actualmente, isso não é possível, diz, já que tanto “os Serviços Secretos dos EUA como o Departamento de Segurança Interna não são financiados há 26 dias”, com o shutdown a colocar muitos dos seus funcionários de licença forçada (sem salário).
O Presidente não reagiu de imediato à carta de Pelosi, mas nas horas que antecederam a divulgação da carta já tinha publicado dois posts no Twitter a defender a necessidade do muro ao longo da fronteira dos Estados Unidos com o México para o qual exige financiamento – os democratas, em maioria na Câmara dos Representantes desde as eleições de Novembro de 2018, recusam incluir no orçamento dinheiro para a sua construção (5,7 mil milhões de dólares, quase 5 mil milhões de euros); Trump recusa aceitar um orçamento que não financie a sua promessa eleitoral para travar a imigração irregular.
Ninguém cede
Terça-feira, Trump escreveu que “as sondagens mostram que as pessoas estão a começar a compreender a Crise Humanitária e de Crime na Fronteira” Sul do país. “Os números estão a subir depressa, mais de 50%. Em breve, os Democratas serão conhecidos como o Partido do Crime. É ridículo que não queiram Segurança na Fronteira”, acrescentou o Presidente, sem especificar a que sondagens se referia.
Ora precisamente esta quarta-feira o instituto Pew Research Center divulgou uma sondagem que dá conta da continuação da oposição ao muro, com 58% dos inquiridos a oporem-se a qualquer expansão (já existem algumas zonas da fronteira divididas por um muro) – e 40% a favor.
Desta vez, o Pew foi um pouco mais longe e perguntou às pessoas se estariam dispostas a aceitar o contrário do que defendem se isso significasse o fim do shutdown – no caso de se oporem ao muro, se apoiariam o fim do encerramento parcial do Governo federal mesmo que isso implicasse incluir no orçamento dinheiro para a sua construção; no cenário em que defendem que seja erguido, se estariam dispostos a apoiar um acordo desistindo do seu financiamento.
Não restam grandes dúvidas: sete em dez dos que apoiam o muro dizem opor-se a qualquer compromisso, mas quase nove em dez dos que estão contra a sua construção também não estariam dispostos a ceder para conseguir o fim do shutdown. Ou seja, mais de metade do país está contra o muro que Trump considera tão essencial e opõe-se a qualquer cedência.
O que sobra a Trump são os Republicanos Conservadores, o grupo onde mais gente considera que o shutdown não é muito problemático – em geral, 20% dos inquiridos partilham esta visão; mais de metade diz tratar-se de “um problema sério”.