Quais os próximos passos no labirinto do “Brexit”?

Acordo negociado por Theresa May foi esmagado no Parlamento, mas a primeira-ministra sobreviveu à moção de censura, promovida pelo Partido Trabalhista. Continua tudo em aberto no calendário para o divórcio.

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Protesto contra o acordo do "Brexit" de Theresa May Clodagh Kilcoyne/REUTERS

Qual é a estratégia da primeira-ministra?

Uma emenda aprovada na semana passada, na Câmara dos Comuns de Westminster, reduziu de 21 para apenas três o número de dias úteis que Theresa May tem para apresentar o seu “plano B” para o “Brexit”, depois de confirmado o chumbo do seu acordo na terça-feira. Trocado por miúdos, a primeira-ministra terá de revelar a sua estratégia até segunda-feira.

May sobreviveu à moção de censura promovida por Jeremy Corbyn e prometeu negociar com os todos os partidos, “num espírito construtivo”, para identificar o que é necessário para obter o seu apoio. Na segunda-feira apresentará o resultado dessas conversas no Parlamento, sob a forma de uma moção, que poderá ser alvo de emendas.

Em cima da mesa pode estar um regresso a Bruxelas para tentar renegociar alguns pontos do acordo ou fazer alterações à declaração sobre a relação futura entre o Reino Unido e a UE. Hipóteses que dependem sempre da boa vontade dos líderes europeus.

A data limite para os deputados votarem o “plano B” de May é o dia 30 deste mês.

Isto significa que May está segura no poder?

A oposição continuará a pedir a sua demissão e May continuará a rejeitar ceder à pressão. E enquanto não existir uma alternativa à estratégia da primeira-ministra para o “Brexit”, capaz de lograr um apoio maioritário do Parlamento, May manter-se-á no cargo. 

Dentro do Partido Conservador a segurança é maior. Não por não haver contestação à sua líder e ao seu “Brexit” – que há, como ficou provado na votação do seu acordo –, mas por causa do resultado da moção de desconfiança interna, realizada em Dezembro.

O triunfo de May na votação tory, promovida pela facção eurocéptica do partido, deu-lhe um salvo-conduto de 12 meses para continuar à frente dos destinos do Partido Conservador, sem poder ser desafiada.

E o que vai fazer Corbyn? 

O líder do Partido Trabalhista ameaçou apresentar múltiplas moções de censura ao Governo, até o fazer cair ou convocar eleições, mas ainda não é certo se seguirá esta estratégica.

Corbyn, eurocéptico por natureza, torce o nariz aos pedidos dentro do Labour para que promova um segundo referendo e acredita que o próximo primeiro-ministro terá um mandato para renegociar o acordo com a UE.

A sua prioridade será continuar a lutar contra May para aproximar o Reino Unido do caminho das urnas.

As últimas votações em Westminster excluíram algum cenário?

Não. O chumbo do acordo obrigou May a apresentar um plano alternativo e a rejeição da moção apenas lhe garantiu dias relativamente menos conturbados para preparar os próximos passos.

Assim, a renegociação do acordo, o adiamento da saída, a convocação de eleições, a saída sem acordo ou o segundo referendo continuam a ser cenários em cima da mesa, naturalmente dependentes da vontade dos vários actores no jogo do “Brexit” – Governo, Bruxelas e deputados britânicos – de os fazer cumprir.

A única certeza é a de que quanto mais o Governo e o Parlamento prolongam este impasse, mais riscos correm de chegar ao dia 29 de Março e sem um acordo de saída.

Um cenário assumido por todos como o mais nefasto para a económica britânica (e europeia) e cuja imprevisibilidade pode forçar o Governo a pedir a extensão do artigo 50.º do Tratado da UE e adiar a saída.

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