Um túnel horizontal: a nova esperança no resgate de bebé em Málaga

Das opções avançadas na segunda-feira para o resgate do menino, nenhuma vai ser posta em prática. Eram demasiado lentas. O novo plano: abrir um orifício lateral na horizontal, aproveitando um declive natural.

Fotogaleria
Bombeiros de Málaga
Fotogaleria
EPA/DANIEL PEREZ

As operações para encontrar com vida o menino de dois anos que caiu num poço em Málaga, no Sul de Espanha, recomeçaram na manhã desta terça-feira, por enquanto sem sucesso. Logo pelas 7h da manhã, as autoridades começaram a escavar um túnel horizontal, aproveitando um desnível natural, para chegar o mais depressa possível ao local onde se pensa estar Julen.

Das três opções avançadas na segunda-feira para o resgate do menino, nenhuma se mostrou eficiente. Todas elas são demasiado lentas para uma operação em que todos os minutos contam para se encontrar o menino com vida. Para além da profundidade e da orografia do terreno – o poço, com mais de cem metros de profundidade e apenas 25 centímetros de largura situa-se na serra de Totalán, em Málaga —, as operações de socorro depararam-se com outro tampão de terra húmida e rochas que os impede de progredir, escreve o El País.

Na segunda-feira, chegou ao teatro de operações um camião de bombeamento para tentar extrair esse segundo tampão de terra por sucção, mas esta alternativa revelou-se demasiado lenta. Numa noite de trabalho só se conseguiram retirar cerca de 60 centímetros de terra. Depois disso, o tubo que estava a aspirar partiu-se.

As operações desta madrugada não tiveram êxito, e, por isso, a manhã começou com uma abordagem nova. A ideia, conforme detalha o jornal malaguenho Sur, é abrir um orifício lateral na horizontal, com 50 a 80 metros de comprimento, aproveitando um declive natural. Este segundo túnel deverá encontrar-se com o primeiro a 80 metros de profundidade, exactamente no ponto onde as autoridades acreditam que o menino está.

Depois de escavado o túnel, os operacionais vão introduzir uma câmara para perceber o que existe no interior do poço. Se encontrarem Julen, vão analisar a viabilidade de abrir um buraco maior para proceder ao resgate. Em paralelo, e enquanto se escava o túnel, as equipas de salvamento vão continuar a extrair terra com uma máquina de sucção de ar.

Para a subdelegada do Governo de Málaga, María Gámez, esta é a opção “com maior fiabilidade e que se pode concretizar no menor período de tempo possível”. Desta forma, evita-se que o poço, que não está revestido, se desmorone.

Há três factores a influir na tomada de decisões da Guarda Civil, como adiantou María Gámez: “O primeiro é a segurança da criança, para conseguir chegar a ela sem causar danos. Paralelamente, conta-se com o tempo para fazer tudo com a maior celeridade. Pusemos de lado várias alternativas por serem muito lentas. Para além disso, tem-se em conta a orografia do terreno, já que há soluções que são muito difíceis ou impossíveis.”

É também a subdelegada do Governo de Málaga, María Gámez, quem está a manter o contacto com os pais do menino. Victoria e José, que estão a receber acompanhamento psicológico, perderam outro filho em 2017, que morreu de forma inesperada aos três anos.

Na noite de segunda-feira, a rainha Letízia telefonou ao presidente da câmara de Totalán, Miguel Ángel Escaño, para saber o estado dos trabalhos de resgate e se mostrar solidária com os pais do menino.

“Tapo sempre os meus trabalhos por segurança”

O dono da empresa de perfurações local que fez o poço, António Sánchez Gámez, falou ao diário El Español sobre o acidente. O empresário disse que, depois de fazer o poço e perceber que não conseguira obter água, o tapou com uma pedra. O furo foi aberto por si há pouco mais de um mês, disse.

PÚBLICO -
Aumentar

“Tapo sempre os meus trabalhos por segurança. Se ninguém tivesse tirado a pedra depois, o menino não teria caído lá dentro.” Sublinhou, junto das autoridades, que fez bem o seu trabalho, mas que alguém o sabotou: “Não tenho culpa do que aconteceu.”

“Sabe o que é esperar 30 horas para que tirem o seu filho de um poço?”

Esta manhã, numa entrevista ao Programa de Ana Rosa, o magazine matinal do canal Telecinco, o pai do menino, José, acusou quem está à frente do resgate de não fazer o suficiente: “Muitos tweets, muitos tweets de apoio, muitos votos, mas meios, nenhuns. Sabe o que é esperar 30 horas para que tirem o seu filho de um poço?”

“Não digam: ‘Vem daí o presidente da câmara nem nada.’ Digam o que estão a fazer aqui, que não estão a fazer a ponta de um corno [“No están haciendo una puta mierda”, no original]. Há 30 horas que está uma criança num poço e estamos a morrer!”

Julen desapareceu no domingo, enquanto brincava com um dos seus familiares, num terreno que era da propriedade da família, em Totalán, a 22 quilómetros de Málaga. Um adulto que estava presente no local viu-o a cair dentro do orifício. Durante alguns segundos ainda o ouviram a chorar, enquanto caía; depois, silêncio.

Desde então, as operações de resgate, liderada pela Guarda Civil, contam com mais de cem operacionais no local e com a ajuda de várias empresas privadas que entraram em contacto para ajudar. O poço estava sem protecção e sem sinalização num terreno sem demarcação, na serra de Totalán, em Málaga. A orografia impossibilita que os meios necessários cheguem ao local.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários