Se é para sair, é para sair

Pobres e mal-agradecidos, os britânicos cospem no prato da União Europeia e exigem um prolongamento do prazo de modo a evitar uma saída às cegas, sem se lembrarem que tal exigência só será aceite se os 27 países da UE estiverem para aí virados.

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Toby Melville/Reuters

Resumindo, se a 23 de Junho de 2016 o Reino Unido tivesse votado para ficar na União Europeia (UE) ninguém quereria saber de todos quantos votaram para sair, o assunto morreria por si só e o mundo continuaria a girar. A realidade, no entanto, é outra, ou não tivessem os ingleses percebido como vão levar das boas uma vez fora da União.

Convenhamos, em 2016 os britânicos não queriam saber da Europa, não queriam saber de um acordo, a UE vista como um sorvedouro de dinheiro, uma torneira sempre aberta que urgia fechar e uma fonte constante de imigrantes, larápios natos sequiosos das regalias sociais britânicas. Uma vez fora, seria o El Dorado e o dinheiro, infinito, de imediato distribuído nas ruas, escolas e hospitais para gáudio geral, loucura geral, histeria geral.

Desde então, a imagem dos imigrantes não mudou, ainda é a mesma. Continuamos a ser uns larápios, ainda mais sequiosos. O que mudou foi a percepção das consequências económicas para uma ilha que de repente decidiu ser mesmo uma ilha, orgulhosamente só e isolada do resto do mundo, como se fosse possível viver e sobreviver orgulhosamente só em pleno século XXI e em plena contracorrente contra uma globalização capitalista tantas vezes promovida pelo próprio Reino Unido.

O Reino Unido acreditava ser possível, pelo menos até a ficha cair. Agora, os britânicos clamam de joelhos e a uma só voz por um acordo. Afinal, precisam da Europa. No entanto, e ao melhor estilo de uma criança mimada, os britânicos acham-se no direito de chumbar esta terça-feira o acordo estabelecido por Theresa May. No entanto, os britânicos, vítimas da sua soberba, acham-se no direito de impor condições. Pobres e mal-agradecidos, cospem no prato da União Europeia e exigem um prolongamento do prazo de modo a evitar uma saída às cegas, sem se lembrarem que tal exigência só será aceite se os 27 países da União Europeia estiverem para aí virados.

E aqui, meus amigos, entra a pescadinha de rabo na boca, pois como pode a União Europeia aceitar tal prolongamento sem dar a entender aos seus membros ser possível sair e não ter o devido castigo? Como pode Bruxelas prolongar o prazo de saída até Julho, ou indefinidamente, sem pedir um segundo referendo em troca de modo a torpedear o Brexit de uma vez por todas?

Dependendo de mim, a solução é simples: se é para sair, é para sair, à força e à bruta, sem acordo, não tivessem votado em primeiro lugar, custe o que custar e a quem custar. Mesmo sabendo não ter votado para sair. Mesmo sabendo que vou levar por tabela. É assim a democracia, podemos não estar de acordo, mas respeitamos a vontade da maioria. 

Resta-nos cair fora da Terra em direcção ao espaço vazio e frio onde não moram nem luz nem som, e de preferência cair de pé e não de joelhos, vão-se os anéis, ficam os dedos e o orgulho intacto. Mas como os britânicos não estão particularmente interessados em cair para fora da Terra, que triste espectáculo é ver o Reino Unido de mão estendida mas sem deixar de bater o pé no meio da birra. 

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