Nulo no clássico de Alvalade não desagradou a ninguém
FC Porto entra na segunda volta com cinco pontos de vantagem na liderança. Marcel Keizer mostrou uma face mais pragmática e substituiu a vertigem atacante pela solidez defensiva.
Não era o resultado que se anteciparia para o clássico entre o Sporting e o FC Porto, mas o empate a zero em Alvalade acabou por não desagradar às quatro equipas que ainda disputam o título nacional. Em termos objectivos, os “leões” foram quem mais perderam, mantendo os oito pontos de atraso para o líder, mas mostraram uma solidez defensiva rara desde que o treinador Marcel Keizer chegou ao clube.
Uma coisa é certa, o campeonato vai continuar vivo à entrada para a segunda volta. É verdade que os “dragões” são os campeões indiscutíveis de Inverno, dobrando a prova com cinco pontos de vantagem para o segundo classificado Benfica, mas um triunfo em Alvalade deixaria o título quase entregue aos campeões nacionais.
Pelo meio, também o Sp. Braga se manteve ligado à corrente, apesar do empate com o Portimonense nesta ronda. Os minhotos seguem no terceiro lugar com seis pontos atrás dos portistas e com dois de vantagem sobre os “leões”.
A pior notícia para o FC Porto acabou por ser mesmo estatística. Ficou em branco pela primeira vez nas últimas 19 partidas, em todas as competições, perdendo a oportunidade de fazer história em Portugal. Com um triunfo em Alvalade ultrapassaria o recorde de Jorge Jesus no Benfica de 18 vitórias consecutivas.
Mas, visivelmente, não era este o objectivo de Sérgio Conceição. Mais do que recordes efémeros, o técnico dos portistas não quis arriscar qualquer percalço em Lisboa, como ocorreu na deslocação ao Estádio da Luz, na sétima jornada, onde perdeu por 1-0 com o Benfica. O último desaire antes da longa série vitórias encerrada este sábado.
Golos desapareceram
O cartaz do clássico de Alvalade sugeria golos, mas não foi uma vertigem de futebol ofensivo a que se assistiu na partida, particularmente na primeira metade. Até porque Marcel Keizer, ao contrário do prometido, fez cedências à sua filosofia habitual de jogo atacante.
Os “leões” entraram em campo particularmente sóbrios, apostando na consistência defensiva e atacando pela certa, procurando não abrir muitos espaços na retaguarda. Um bloco mais baixo do que tem sido regra, mas justificável no contexto desta partida. Em caso de derrota, os lisboetas ficariam a distantes 11 pontos e diriam um adeus definitivo ao título, deixando também mais distantes os restantes lugares do pódio.
Na expectativa, o FC Porto também não arriscou em demasia, optando por aguardar pelas saídas do adversário para explorar as transições ofensivas, uma das suas armas preferenciais. O Sporting tinha bem estudada a lição, nunca se deslumbrou com os espaços concedidos pelo adversário, privilegiando sempre a organização defensiva e a consistência no meio-campo.
Sem surpresas nos “onze” iniciais, assistiu-se a 45 minutos disputados, com muitas faltas e paragens, mas praticamente sem balizas. O único lance de perigo assinalável surgiu já em cima do intervalo, com Bas Dost a rematar fraco para a figura de Casillas.
Sérgio Conceição não gostava do que via e acabou por aproveitar uma infelicidade de Maxi Pereira, que se lesionou aos 42’, para operar uma mudança táctica que faria toda a diferença na segunda metade. O treinador recuou Corona na lateral direita e chamou Óliver para reforçar o meio-campo e transformando o 4-4-2 inicial num 4-3-3.
Os visitantes começaram a ganhar os duelos no corredor central e em quatro minutos (56’ e 60’) criaram duas claras oportunidades de golo. As únicas que tiveram no encontro. Na primeira, Soares rematou com a canela para defesa complicada de Renan; na segunda foi Marega a falhar o alvo e a atirar por cima.
Os “leões” sentiram o toque, mas a resposta veio das suas individualidades e não pela organização ofensiva. Bruno Fernandes e Gudelj testaram os reflexos de Casillas de fora da área, com nota máxima para o guarda-redes portista.
A fadiga foi-se, entretanto, apoderando dos jogadores, com reflexos na qualidade e objectividade do futebol praticado, mas não na intensidade. Nos instantes finais, assistiu-se a uma espécie de anarquia táctica, com a bola a rondar as duas balizas e com os técnicos a roer as unhas nos bancos.
O apito final, contido, não deixou ninguém insatisfeito. Marcel Keizer não comprometeu neste seu primeiro grande teste à frente do Sporting e manteve os “leões” imbatíveis em casa para o campeonato. Um feito que já dura há 27 jogos. Este foi também o segundo empate dos “leões” esta época na prova, após o 1-1 no Estádio da Luz.
Agora, resta ao Sporting aguardar que o FC Porto vá perdendo gás para recuperar alguma da desvantagem. A história não ajuda: nunca um candidato ao título foi campeão depois de dobrar a primeira volta com oito pontos de atraso.