O MEL quer agitar a política, mas no primeiro dia da convenção foi agitado por ela
Sofia Afonso Ferreira, fundadora do Democracia 21, deixou um repto: "Acabem com as juventudes partidárias, é uma desgraça, não servem para nada, é patético”.
O ambiente neste primeiro dia da I Convenção da Europa e Liberdade, do Movimento Europa e Liberdade (MEL), não foi como o de uma convenção partidária, mas o MEL também não quer ser um partido. O que quer é agitar o debate político e reforçar o centro. Houve muita discussão de ideias numa sala cheia da Culturgest, mas lá fora a agitação era outra: à margem da iniciativa, vários foram os sociais-democratas interpelados a comentar a crise no PSD.
Pedro Duarte, Miguel Pinto Luz, Miguel Morgado, José Eduardo Martins e Luís Montenegro são apenas alguns rostos que marcaram presença na iniciativa e que prestaram declarações sobre o movimento que está a desafiar a liderança de Rui Rio.
Dentro da sala, porém, o debate prosseguia. Sem a habitual parafernália de slogans e sem o tamanho dos pavilhões, a convenção do MEL assemelhou-se mais a uma conferência. Nela, participaram vozes de diferentes partidos, só não se ouviram bloquistas ou comunistas. Logo de manhã, um dos oradores foi Marques Mendes que considerou que a actual comissão de ética da Assembleia da República (AR) não cumpre a função e que, por isso, é “urgente” criar outra com uma “composição diferente”, “menos partidária e mais senatorial”, composta por ex-presidentes e ex-vice-presidentes da AR e ex-provedores de Justiça.
O também comentador defende ainda, “para Portugal, uma solução completamente nova”, em que os membros do Governo, antes de assumirem funções, “deveriam passar a submeter se a um escrutínio parlamentar com vista a averiguar eventuais exemplos de incompatibilidades, impedimentos ou conflitos de interesse”.
Mas nem só de pessoas ligadas a partidos e movimentos ou de empresários viveu esta convenção. Jorge Baptista, bancário reformado de 69 anos, soube da iniciativa pela comunicação social e, como gosta de “aprender” e “confrontar” as próprias ideias, meteu-se a caminho.
Paulo Figueiredo, de 18 anos, fez o mesmo. O estudante de Engenharia Física e Tecnológica do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, foi com o pai que está ligado ao partido Iniciativa Liberal. Paulo Figueiredo não está filiado em qualquer partido, embora lhe interesse o Volt (que ainda não está formalizado como tal): “Estou a descobrir”, diz, considerando positivas iniciativas que mobilizem a sociedade civil.
Participaram neste primeiro dia muitos outros protagonistas da política portuguesa. O ex-ministro de um Governo PS, Luís Campos e Cunha, sugeriu, por exemplo, que os votos em branco contassem nas eleições; Pedro Duarte afirmou que há sectores da sociedade, como a Educação, que merecem um “sentido de responsabilidade mais elevado do que tem havido”, até com um pacto de regime; o centrista Adolfo Mesquita Nunes defendeu, através de um vídeo, entre muitas outras ideias, que “aquilo que tem faltado em Portugal é liberdade económica” até para “sustentar o Estado Social”.
E Sofia Afonso Ferreira, que lidera o Democracia 21, deixou um apelo: “Acabem com as juventudes partidárias, é uma desgraça, não servem para nada, é patético”, disse, defendendo que os jovens, assim que fazem 18 anos, devem juntar-se ao partido e “aprender com os grandes”. As juventudes partidárias “são miniacademias do pior”. No mesmo painel, estava Gaspar Macedo, da JSD, que, num estilo descontraído, se defendeu e arrancou várias gargalhadas à plateia.
Antes de entrar na sala, Miguel Pinto Luz dizia ao PÚBLICO: “Sou muitas vezes convidado para ser orador em iniciativas da sociedade civil. E isto é um movimento que tem no nome duas palavras que são tão caras à minha família política que é Europa e liberdade. Ainda nós não vivíamos em liberdade e não pensávamos aderir a esta construção europeia e já os fundadores do meu PPD/PSD envergavam essas duas palavras de uma forma tão presente. É uma iniciativa louvável da sociedade civil e aqui estou com o meu humilde contributo.”