Netanyahu marca eleições confiante de que as irá vencer
Ministério da Justiça diz que investigações a suspeitas de corrupção envolvendo o primeiro-ministro continuam. No entanto, ele é o favorito.
Israel vai ter eleições antecipadas a 9 de Abril. O que parecia que ia acontecer já em Novembro, quando se demitiu o então ministro da Defesa, foi evitado pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, cujo Governo ficou com a mais pequena das maiorias – 61 deputados num parlamento de 120.
Netanyahu invocou então a segurança nacional, quando decorria uma operação contra os túneis do Hezbollah, o grupo xiita libanês, no Líbano. Ir a eleições seria “irresponsável”, disse então Netanyahu. “Não se brinca à política a meio de uma batalha.”
Mas depois de se tornar claro, no domingo, que não ia conseguir aprovar uma lei sobre o serviço militar obrigatório para os judeus ultra-ortodoxos, Netanyahu declarou que esta ameaça já estava controlada e agora “era a altura ideal” para marcar eleições.
A maioria dos observadores não ficou convencida com as suas palavras, não só porque esta operação militar não terminou – e poderá mesmo continuar nos próximos meses – mas também porque a situação de segurança do país não melhorou nada desde então.
Na verdade, só terá piorado com o anúncio, feito na semana passada, da retirada das tropas americanas da Síria, onde apoiavam forças curdas na luta contra o Daesh. Esta retirada reforça o poder de várias forças hostis ao Estado hebraico, em especial dois dos seus principais inimigos, o Irão e o Hezbollah, presentes na Síria, onde apoiam o regime de Assad.
“Há um debate em Israel sobre quão má será a retirada americana para a segurança israelita”, escrevia o jornal Ha’aretz. Os especialistas de segurança, adianta, discutem se “vai ser mau ou se vai ser muito mau.”
O Ha’aretz, jornal de centro-esquerda, também nota que “talvez por coincidência, a decisão [de Netanyahu] repentinamente querer a eleição que anteriormente alertou que seria péssima ocorreu dias depois de se ter sabido que altos responsáveis do Ministério da Justiça recomendaram que o procurador-geral acusasse Netanyahu em pelo menos dois casos de corrupção”.
Numa declaração pouco habitual, após o anúncio das eleições, o Ministério da Justiça garantiu que o trabalho sobre as recomendações legais vai continuar apesar do anúncio de eleições. Vários analistas dizem que Netanyahu espera uma vitória, o que poderia deixar o procurador-geral constrangido em iniciar uma acusação formal.
O primeiro-ministro, de 69 anos, está no seu quarto mandato é o favorito nas sondagens numa paisagem política extremamente dividida. Isto apesar de há meses se somarem suspeitas de que está envolvido em três casos de corrupção.
Se acusado, há a possibilidade teórica de se manter no cargo, mas seria difícil: os precedentes de outros responsáveis, um Presidente e um primeiro-ministro, são de afastamento até antes de uma acusação quase-certa (o ex-Presidente Moshe Katsav acabou por ser condenado por violação e o antigo primeiro-ministro Ehud Olmert por corrupção).
E um dos seus aliados-chave, o ministro das Finanças Moshe Kahlon, disse que nenhum membro do Governo, seja ministro ou o primeiro-ministro, pode continuar no cargo se for acusado.
O primeiro-ministro acumula ainda actualmente as pastas do Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Defesa e ainda da Saúde.
Netanyahu, do partido Likud, disse ainda que esperava que a actual coligação, a mais à direita em Israel, fosse a base para o Governo que sair das próximas eleições. Junta o partido Kulanu, de Kahlon, dissidente do Likud, e os partidos religiosos Casa Judaica, Shas, e Judaísmo Unido da Torah.
Eleições antecipadas estão longe de ser uma raridade em Israel: a última vez que um Governo chegou ao fim sem ir a votos antes foi em 1998. O actual Governo está no poder desde Maio de 2015, e Netanyahu foi primeiro-ministro entre 1996 e 1999, para voltar em 2009.