Governo defende gestos políticos para “abrir caminho à saída do conflito” na Catalunha
Oposição de direita acusa Sánchez de “traição”. Um dia depois do encontro com o líder da Generalitat onde se prometeu “diálogo”, Conselho de Ministros decorreu no meio de acesos protestos em Barcelona.
Nem o comunicado conjunto que saiu do encontro entre o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e o presidente do governo catalão, o independentista Quim Torra, foi suficiente para diminuir os protestos previstos para esta sexta-feira, dia em que o executivo socialista se reuniu em Barcelona e aproveitou para votar medidas dirigidas à Catalunha – desde o investimento em estradas às mais simbólicas decisões de passar a chamar Josep Tarradellas Barcelona-El Pratt ao aeroporto da cidade e condenar o conselho de guerra que sentenciou à morte Lluis Companys.
Aliás, a porta-voz da Generalitat, Elsa Artadi, fidelíssima a Carles Puigdemont (o president deposto em Outubro de 2017 e desde então a viver na Europa para evitar a prisão), fez questão de comentar o que saiu do Conselho de Ministros (o segundo fora de Madrid, depois do que se realizou na Andaluzia), minimizando os anúncios como “menores” e “medidas estéticas”. Para isto, disse, o govern “não entende a necessidade de celebrar uma reunião do Conselho em Barcelona”.
Com a mudança de nome do aeroporto, Madrid reconhece aquele que foi presidente da Catalunha no exílio entre 1954 e 1977, e depois da Generalitat provisória, até 1980. Companys, outro presidente catalão, foi condenado à morte pelo franquismo, em 1940 – a anulação do conselho de guerra e a restituição da sua “dignidade” responde a um pedido da família.
Artadi criticou ainda que a mudança de nome do aeroporto se tenha feito “de forma unilateral”, sublinhando que “o aeroporto tem desafios e problemas que não têm nada a ver com o nome” e lembrando que a Generalitat quer poder assumir a sua gestão para que este se possa tornar num “hub [centro] internacional”.
Quanto aos 112 milhões de euros de investimentos em infra-estruturas rodoviárias em quatro províncias catalãs, o govern recorda que “já se tinham anunciado várias vezes” – o mesmo admitiu a porta-voz do executivo espanhol, Isabel Celaá, mas para notar que o que que noutra altura foram promessas, este Governo “está a materializar”. Para Celaá, os gestos do Governo de Madrid visam promover um diálogo que permita “abrir caminho à saída do conflito” na Catalunha.
Os protestos em várias zonas da cidade e junto à Llotja de Mar, o edifício perto do porto que é sede da Câmara de Comércio de Barcelona, onde se celebrou o Conselho de Ministros, deixaram 52 feridos sem gravidade e levaram à detenção de 12 pessoas.
As distâncias impostas esta sexta-feira por Artadi – a que se somam as declarações dos partidos independentistas ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) e PDeCAT (de Puigdemont), avisando que continuam à espera de mais para avaliar se aprovam o Orçamento para 2019 (depois de votarem a seu lado para subir o limite do défice) – não invalidam nem a conversa da véspera entre Torra e Sánchez no Palácio de Pedralbes (a segunda desde que ambos assumiram o poder, mais ou menos na mesma altura) nem o facto de terem conseguido concordar num comunicado conjunto.
Uma nova etapa?
No texto, ambos reconhecem a existência de “um conflito sobre o futuro da Catalunha” e afirmam que, apesar de terem “diferenças importantes” sobre “a origem, natureza ou vias de resolução” desse conflito, estão empenhados “em apostar num diálogo efectivo que conduza a uma proposta política que conte com um amplo apoio na sociedade catalã”. Por isso, acrescenta-se, “devem continuar a promover-se os espaços de diálogo que permitam responder às necessidades da sociedade e avançar numa resposta democrática às reivindicações dos cidadãos da Catalunha, no quadro da segurança jurídica”.
Em concreto, ficou decidido que os dois governos voltarão a encontrar-se em Janeiro – altura em que Sánchez estará a tentar fazer aprovar o Orçamento e a Catalunha voltará a sair à rua com o começo dos julgamentos dos líderes independentistas acusados por “rebelião” e “desvio de fundos”. Pouco para uns, tanto para outros: para o líder do PP e chefe da oposição, Pablo Casado, por exemplo, Sánchez “cedeu perante os que querem sequestrar Espanha sequestrando a Catalunha” e cometeu "um acto de traição a Espanha".
Num jantar organizado pela associação patronal da região, Sánchez defendeu que cabe “a todos abrir uma nova etapa, uma etapa em que o confronto dê lugar ao entendimento”. Perante Torra, também pediu autocrítica: “Todos devemos aprender com os nossos erros”. Já o presidente da Generalitat agradeceu ao primeiro-ministro “que tenha querido escutar o govern da Catalunha”, sublinhando que “na essência” do comunicado conjunto está o acordo para procurar “uma resposta democrática” às "exigências catalãs”.