Anticorpos travam aumento de peso em macacos obesos

Equipa desenvolveu um anticorpo que actua nas reservas de gordura, combatendo o aumento de peso e reduzindo o apetite. As experiências foram feitas em ratos e macacos, mas os cientistas acreditam que o método pode vir a ser útil nos humanos.

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Interacções entre o receptor da hormona GIP (a laranja) e a versão humana de anticorpo (com a cadeia mais pesada a azul e a mais leve a verde) Xiaoshan Min/Amgen

Os investigadores conseguiram aquilo que chamam um efeito “antiobesidade”, primeiro em ratinhos e depois em macacos. Nas experiências realizadas foi explorado o conhecimento adquirido em estudos genéticos que já apontavam para o papel de um receptor específico – o receptor do peptídeo inibidor gástrico (GIP), ou peptídeo insulinotrópico dependente de glicose –, que tem sido caracterizado como um promotor da obesidade. Os cientistas desenvolveram então um anticorpo dirigido a este receptor do GIP que usaram em ratos. Uma versão humana do anticorpo (denominada hGIPR-Ab) promoveu a perda de peso em macacos obesos, um efeito que foi melhorado quando foi adicionado um tratamento aprovado para diabetes de tipo 2.

É toda uma elaborada receita para ajudar a combater a epidemia da obesidade, um problema de saúde pública global que afectará já mais de 650 milhões de pessoas em todo o mundo. Os ingredientes desta receita são anticorpos que têm como alvo um receptor ligado à criação de reservas de gordura. É, dizem, os autores do estudo publicado na revista Science Translational Medicine, uma potencial terapia para a obesidade. Mas, antes de “alimentar” as esperanças de quem sofre por causa do aumento do peso, é preciso dizer que os cientistas sublinham que o trabalho ainda tem várias limitações e, por isso, é preciso fazer mais estudos para confirmar a eficácia e segurança desta eventual “terapia antiobesidade”.

Ainda assim, os primeiros resultados relatados no artigo são motivo para optimismo q.b. Os cientistas envolvidos neste estudo usaram os resultados obtidos em investigações anteriores que já mostravam que a hormona GIP promove a formação de gordura e desempenha um papel no desenvolvimento da obesidade. Já se tinha observado, por exemplo, que os ratos que não têm GIPR (o receptor para o GIP) são resistentes ao ganho de peso, mesmo quando alimentados com uma dieta indutora de obesidade. Agora, Elizabeth Killion, investigadora no Departamento de Distúrbios Cardiometabólicos na empresa biofarmacêutica norte-americana Amgen, coordenou o trabalho de uma equipa que desenvolveu um anticorpo contra o GIPR e investigou o seu potencial para combater a obesidade.

Os cientistas “administraram este anticorpo a modelos ratos obesos e descobriram que os roedores apresentavam uma redução média na massa de gordura de 37%, assim como níveis mais baixos de glicose no sangue e triglicerídeos (frequentemente um indicador de doença hepática gordurosa)”, lê-se no resumo do artigo. A versão humana do mesmo anticorpo (a hGIPR-Ab) promoveu uma perda de peso em macacos obesos, um efeito que foi melhorado quando se adicionou nesta receita um ingrediente chamado “dulaglutida”, um tratamento aprovado para diabetes. Este ingrediente adicional é descrito no artigo como um promotor da acção do receptor de GLP-1 (que é um regulador da glicose).

As análises realizadas posteriormente mostraram que a versão humana do anticorpo terá conseguido produzir o efeito “anti-obesidade” porque se ligou ao receptor do GIP impedindo o peptídeo inibidor gástrico de exercer os seus efeitos pró-obesidade. No artigo refere-se ainda que a primeira fase da experiência, com a administração do anticorpo em ratos, protegeu os animais do ganho de peso corporal e também “melhorou vários parâmetros metabólicos”, tendo sido igualmente associado a uma “redução da ingestão alimentar”, ou seja, do apetite. Nos macacos a perda de peso terá sido ainda mais pronunciada. E, nos dois casos, os efeitos foram melhorados quando se adicionou o tratamento para a diabetes de tipo 2. Confirmaram também, no modelo de ratos, que este “tratamento antiobesidade” não causava danos pancreáticos. “Em conclusão, os dados fornecem uma validação pré-clínica de uma abordagem terapêutica para tratar a obesidade com anticorpos anti-GIPR.”

Porém, escrevem os autores no artigo, este estudo “tem várias limitações”. Entre outras, o facto de não ser possível concluir que a receita que junta o anticorpo ao medicamento aprovado para o tratamento de diabetes leve a uma perda de peso superior do que se usarmos apenas o tal fármaco dulaglutida. Isto porque, explicam os autores, no estudo não foram usadas as doses máximas do fármaco para “estabelecer a perda de peso máxima absoluta”. Além disso, referem, o anticorpo que actuou no receptor do GIP “não resultou em melhoria da tolerância à glicose”, ainda que “os efeitos sobre a tolerância à glicose não tenham sido agravados, o que é notável, dada a redução nas concentrações séricas de insulina em jejum e pós-prandial [após a refeição]”.

Apesar de considerarem expectável que as alterações na insulina provocadas pelo anticorpo acabem por ter um efeito benéfico no metabolismo sem um impacto negativo na estabilidade da glicose, os cientistas admitem que são necessários mais estudos para esclarecer em detalhe estes possíveis efeitos. Por fim, o estudo refere ainda que foram notadas diferenças nos efeitos farmacológicos nos diferentes animais, mais concretamente “um efeito anoréxico mínimo” no rato e “um efeito mais pronunciado” nos macacos. São resultados que sugerem “diferenças específicas de espécies” na função do receptor do GIP, ficando por saber qual será (neste ponto específico) a espécie mais relevante para os humanos.

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