O caju de Moçambique é o mais saboroso do mundo mas valha-nos aquele que nos arranja a Casa Gispert

Se nunca comeu caju acabado de torrar, aviso já que nunca mais conseguirá comer o caju mole, velho e rançoso que se vende para aí em saquinhos pindéricos. É como comer caju pela primeira vez.

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A Casa Gispert, em Barcelona, é uma das lojas mais bonitas do mundo. Torra frutos secos desde 1850 - e ainda usa a mesma máquina, um cilindro virado à mão que vai agitando os frutos secos para que torrem por igual.

A máquina funciona a lenha - uma lenha escolhida - que dá um sabor fumado a todos os frutos secos. Este sabor é inconfundível. Eu gosto muito mas a Maria João acha que cheira a chouriço e ela não gosta que as amêndoas torradas saibam a chouriço.

Para quem não tem a sorte de poder ir à Casa Gispert, eles vendem muitos frutos secos na Amazon espanhola. A vantagem é ter portes grátis (para Portugal) a partir dos 19 euros. Felizmente, a Casa Gispert é muito rápida a expedir os frutos secos. Este ano introduziu umas embalagens especiais que mantêm os frutos secos em excelente condição.

Para quem tem preguiça de estar a descascar e torrar miolo de amêndoa (a única maneira de garantir que ficam absolutamente deliciosas), sugiro o miolo de amêndoa Marcona da Casa Gispert. A Marcona é a amêndoa espanhola mais popular: é quadradona, gorda, doce e saborosa. É suficientemente diferente das nossas dezenas de variedades portuguesas para valer a pena.

É só abrir o pacote, deitar para um tabuleiro de alumínio, salgar com flor de sal, enfiar num forno a 170 graus e ir agitando até estarem prontas - uma questão de minutos.

Quando saem do forno devem ir para um tabuleiro frio para arrefecerem. Só quando ficam meramente tépidas é que estão no ponto: estaladiças e crocantes.

O caju da Casa Gispert, oriundo da Índia e do Vietname, também é muito bom. Já vem ligeiramente torrado (e a cheirar a chouriço, umas vezes menos, outras vezes mais) porque o caju cru é venenoso.

É o único caju digno de ser comido por quem teve a sorte de provar o caju de Moçambique, que é seguramente o melhor do mundo (não conheço o brasileiro). Não acredito que não haja um importador português que esteja a vender este maravilhoso fruto seco - mas não o consegui encontrar.

Uma breve incursão pela Internet foi muito animadora. Segundo o Observador, a  Mozacaju está a recuperar caminho e a Incaju, Instituto do Fomento do Caju, previu que o ano de 2018/19 seja o de maior produção desde a independência.

Para quem pensa que o caju é só um aperitivo, sugere-se descarregar o impecável livrinho de receitas (moçambicanas, indianas e chinesas) que a Mozacaju oferece em PDF.

Já agora, aproveito para recomendar um pequeno curso de introdução às muitas virtudes do cajueiro. Fica-se cheio de admiração pela versatilidade desta planta magnífica que sustenta tantas pessoas.

Mesmo durante o Estado Novo não era fácil comprar caju moçambicano em Portugal. Eu trouxe muitas latas quando lá fui em 1970 ou 1971 e quando rapidamente acabaram fiquei a ver navios, à espera que alguém viesse de Moçambique para me trazer mais.

O caju da Casa Gispert é muito bom porque eles sabem escolher caju. Porque é que eles não experimentam o caju de Moçambique? De qualquer modo, cheira-me que os moçambicanos estão perto de reconquistar o mercado mundial - e bem merecem.

Para torrar o caju - ou, melhor, retorrá-lo - é preciso muito cuidado mas é facílimo. Despeja-se um saco (têm 500 gramas) para um tabuleiro metálico, pespega-se flor de sal, e enfia-se num forno a 170 graus. Sacodem-se de minuto a minuto até ficarem mais escurinhas. Aí tiram-se e espalham-se num tabuleiro frio para poderem arrefecer.

Se nunca comeu caju acabado de torrar, aviso já que nunca mais conseguirá comer o caju mole, velho e rançoso que se vende para aí em saquinhos pindéricos. É como comer caju pela primeira vez.

Mesmo guardando bem as amêndoas e cajus, elas perdem rapidamente a frescura: ao terceiro dia já não têm a mesma graça. É por isso que só vale a pena comprar frutos secos que estejam hermeticamente selados - em plástico agarradiço ou em lata.

Boas festas amendoeiras e cajueiras para todos!

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