Huawei desafia EUA e outros países a provarem que empresa é ameaça à segurança

Realização de uma conferência de imprensa pela Huawei sugere que a empresa está preocupada com as crescentes restrições no acesso ao mercado 5G.

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Presidente da Huawei garantiu que a empresa "nunca recebeu qualquer pedido para fornecer informação imprópria" REUTERS/Eric Gaillard

O presidente da Huawei desafiou hoje Washington e outros governos a provarem que a empresa chinesa é uma ameaça à segurança, depois de vários países a terem banido de participar no desenvolvimento de telecomunicações.

Numa rara conferência de imprensa, na sede da Huawei Technologies, Ken Hu afirmou que as acusações contra o maior fabricante global de equipamentos de rede derivam de "ideologia e geopolítica".

O responsável avisou que excluir a Huawei do desenvolvimento de redes de quinta geração (5G) na Austrália e em outros mercados vai prejudicar os consumidores, ao aumentar os preços e travar a inovação.

A Austrália e a Nova Zelândia baniram as redes 5G da Huawei por motivos de segurança nacional, após os Estados Unidos e Taiwan, que mantém restrições mais amplas à empresa, terem adoptado a mesma medida.

Também o Japão, cuja agência para a segurança no ciberespaço classificou a firma chinesa como de "alto risco", baniu as compras à Huawei por departamentos governamentais.

Em Portugal, durante a recente visita do Presidente chinês, Xi Jinping, foi assinado entre a Altice e a Huawei um acordo para o desenvolvimento da tecnologia 5G em Portugal, apesar de a UE ter assumido "estar preocupada" com a empresa e com outras tecnológicas chinesas, devido aos riscos que estas colocam em termos de segurança.

A realização de uma conferência de imprensa pela Huawei sugere que a empresa está preocupada com as crescentes restrições no acesso ao mercado 5G, que analistas estimaram que pode valer mais de 20 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros) por ano, em 2022.

"Se há provas e evidências, estas devem ser transmitidas (...) às operadoras de telecomunicações, porque são estas que compram à Huawei", afirmou Ken Hu.

Fundada em 1987, por um ex-engenheiro das forças armadas chinesas, a Huawei rejeitou as acusações de que é controlada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), ou que desenvolve equipamentos que facilitam a espionagem chinesa. Mas funcionários estrangeiros citaram uma lei da China que requer às empresas a cooperação com os serviços secretos.

A emergência das redes 5G acrescentou receios, à medida que os governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como activos estratégicos para a segurança nacional.

Esta tecnologia destina-se a expandir as redes de telecomunicações para conectarem carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais eléctricas.

"Nunca houve qualquer evidência de que o nosso equipamento constitui uma ameaça à segurança", afirmou Hu. "Nunca aceitámos pedidos de qualquer governo para prejudicar as redes ou negócios de um cliente nosso", acrescentou.

A Huawei é o primeiro actor global chinês no sector tecnológico, tornando a empresa politicamente importante, à medida que o PCC tenta transformar as firmas do país em importantes competidores em actividades de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos. A empresa emprega 180 mil pessoas e as vendas deverão superar os 100 mil milhões de dólares, este ano.

As ambições chinesas para o sector tecnológico chinês resultaram já numa guerra comercial com os Estados Unidos, com os dois países a aumentarem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um.

Hu garantiu que a empresa "nunca recebeu qualquer pedido para fornecer informação imprópria". "No futuro, vamos agir em estrita conformidade com a lei, ao lidar com situações semelhantes", disse.

O presidente da empresa citou ainda previsões que apontam que os custos de instalar estações para rede sem fio de 5G na Austrália sairá entre 15% e 40% mais caro sem a competição da Huawei. "Não podes tornar-te melhor ao bloquear o acesso de competidores ao campo de jogo", disse.

Hu garantiu que, apesar das interferências "políticas", a Huawei assinou já contratos para fornecer equipamentos 5G a 25 operadoras de telecomunicações, e que exportou já 10.000 estações para rede sem fios de última geração. "Estamos orgulhosos por ver que os nossos clientes continuam a confiar em nós", disse.