Com 15 anos e sem papas na língua: o discurso demolidor de Greta na Cimeira do Clima

Depois de ter feito greve à escola contra as alterações climáticas, Greta Thunberg subiu ao palco da Cimeira do Clima sem medo de apontar o dedo aos líderes mundiais que, diz, “não são maduros o suficiente” para encarar “o peso das alterações climáticas”.

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Greta segura um cartaz onde se lê "greve escolar pelas alterações climáticas" durante uma manifestação à porta do parlamento sueco REUTERS

Greta Thunberg é uma jovem sueca de 15 anos que tem dado nas vistas pelos sucessivos apelos a mudanças mundiais urgentes em relação aos problemas ambientais. A sua luta começou quando decidiu fazer greve às aulas para protestar contra as alterações climáticas. Daí a ser convidada para discursar na Cimeira do Clima das Nações Unidas, que terminou este fim-de-semana em Katowice, na Polónia, foram dois passos. Falou sem papas na língua e sem medo de apontar o dedo aos líderes mundiais que, segundo a jovem, “não são maduros o suficiente para encarar os factos e estão a deixar o peso das alterações climáticas para as crianças”. 

“Eu preocupo-me com a justiça climática e com o planeta onde vivo. A nossa civilização está a ser sacrificada para que um número muito pequeno de pessoas continue a lucrar enormes quantias de dinheiro. A nossa biosfera está a ser sacrificada para que pessoas ricas em países como o meu possam viver luxuosamente. É o sofrimento de muitos que paga pelos luxos de poucos”, disse a activista de 15 anos, enquanto discursava para representantes de mais de 200 países. 

A jovem terminou o seu discurso, que já se está a tornar viral, dizendo que não estava ali para implorar que os líderes mundiais se preocupassem com o que estava a acontecer, afirmando que quem luta contra as alterações climáticas já foi ignorado no passado e, certamente, sê-lo-á mais vezes. “Estamos a ficar sem desculpas e sem tempo. Viemos aqui para que vocês saibam que a mudança está a chegar quer vocês gostem ou não. O poder é do povo. Obrigada”, rematou Greta.

"Greve à escola contra as alterações climáticas"

Greta falou na cimeira em representação da Climate Justice Now!, uma rede que junta organizações e movimentos que lutam pela justiça climática. Mas a sueca chegou a Katowice já com uma bagagem de activismo às costas.

Tudo começou aos oito anos, quando lhe explicaram, pela primeira vez, o que estava a acontecer com o planeta e o porquê de ter de poupar água, reciclar e não desperdiçar comida. A partir daí nunca mais abandonou a causa ambiental. Em meados de Agosto deste ano, começou a ser notícia um pouco por todo o mundo. As eleições para o Parlamento sueco aproximavam-se e a adolescente decidiu sentar-se todos os dias nas escadas do edifício em Estocolmo durante o horário escolar. Chamou-lhe “greve à escola contra as alterações climáticas” e o objectivo era pressionar o Governo a adoptar uma postura radical no combate às alterações climáticas.

Depois das eleições, que se realizaram a 9 de Setembro, continuou o protesto apenas às sextas-feiras. “Estou a faltar à escola para protestar contra a inacção dos países no que toca às alterações climáticas — e tu também devias. Todas as sextas-feiras, falto às aulas e sento-me à porta do Parlamento do meu país e vou continuar a fazê-lo até que os líderes mundiais comecem a agir de acordo com o Acordo Climático de Paris.” É com estas palavras que Greta descreve a luta que tem desenvolvido nos últimos meses num artigo de opinião publicado no The Guardian, onde também refere que tem síndrome de Asperger e que, por isso, encara o mundo “a preto ou branco”. “Ouço as pessoas dizer que as mudanças climáticas são uma ameaça à existência, mas vejo-as a levar a sua vida como se nada se estivesse a passar”, reflecte. O seu protesto tem gerado debate nas redes sociais e fez com que, em solidariedade, centenas de jovens por todo o mundo faltassem às aulas, alguns apoiados pelos pais, para protestar contra a inércia dos governos dos seus países. 

Há poucas semanas, Greta subiu ao palco da conferência TEDxStockholm para falar sobre a sua greve e da forma como convenceu os pais a adoptarem um estilo de vida saudável. O título do seu discurso diz tudo: “School strike for climate - save the world by changing the rules” (em tradução livre, “Greve à escola pelo clima — salvar o mundo mudando as regras").

Razões não faltam, portanto, para justificar a sua nomeação para o Children's Climate Prize que desde 2016 distingue uma criança que se destaca por “ter feito algo extraordinário pelo clima e pelo ambiente”. O júri do prémio mundial anunciou que Greta foi nomeada como finalista deste ano porque “demonstrou mais determinação, dedicação e força no combate à mudança climática e no trabalho pelo futuro da humanidade do que a maioria dos adultos ou políticos já fez”.

No entanto, através do Twitter, Greta pediu para ser removida da lista de finalistas, uma vez que teria de viajar de avião para a cerimónia da entrega de prémios, meio de transporte que a jovem e a sua família já não utilizam devido às grandes emissões de carbono que provocam. Em caso de emergência, os país da activista, o actor sueco Svante Thunberg e a cantora de ópera Malena Ernman, bem como a irmã de Greta, que também tem síndrome de Asperger, usam um carro eléctrico, mas para o transporte diário toda a família usa apenas a bicicleta. 

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