Michael Clark e Mão Morta num GUIdance que ultrapassa os limites da dança
De 7 a 17 de Fevereiro, o festival internacional de dança de Guimarães apresenta seis estreias absolutas e estende-se ao teatro, à robótica e às artes marciais. Victor Hugo Pontes é o coreógrafo em destaque desta nona edição.
O GUIdance vai regressar aos palcos entre 7 e 17 de Fevereiro de 2019, dia em que a companhia do icónico coreógrafo e bailarino escocês Michael Clark regressa a Portugal, depois da sua passagem de há dois anos por Serralves, com a peça to a simple, rock n’roll… song, que encerrará a nona edição do festival internacional de dança de Guimarães no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF). A obra, estreada em 2016, é uma viagem em três actos pela música de Erik Satie, Patti Smith e David Bowie, mas convoca também o bailado clássico, as artes visuais e a moda.
A peça de Michael Clark será o corolário deste festival organizado pela cooperativa municipal Oficina, cujo programa de 11 espectáculos foi apresentado esta quinta-feira no CCVF. Na nona edição do evento, a dança vai cruzar-se com a música, mas também com o teatro e com a robótica. Ou com o hip-hop e as artes marciais, como em Everyness, da companhia francesa Wang Ramirez, que se apresentará em estreia nacional a 9 de Fevereiro, e em que os coreógrafos Honji Wang e Sébastien Ramirez procuram exprimir os vários tipos de relações humanas.
Além destas duas peças em estreia nacional, o GUIdance 2019 mostrará seis estreias absolutas. A primeira delas, Drama, de Victor Hugo Pontes, abre o festival no dia 7. O coreógrafo baseou-se na obra Seis personagens à procura de um autor (1921), do dramaturgo italiano Luigi Pirandello, para tentar fundir o teatro e a dança numa só linguagem, experiência que de certa forma já estivera na base do espectáculo com que há dois anos abriu o GUIdance, Se alguma vez precisares da minha vida, vem e toma-a, uma adaptação de A Gaivota, de Tchékhov. “Tudo está coreografado. Tudo está escrito. É uma saudável reflexão sobre como construímos as coisas, para perceber como é que as palavras ganham corpo”, explicou durante a apresentação do festival. Coreógrafo em destaque desta edição, Victor Hugo Pontes vai ainda apresentar, no dia 13, também no CCVF, uma remontagem de Fuga sem Fim, obra estreada em 2011 que se apoiou no trabalho do fotógrafo João Paulo Serafim para explorar a ideia de fuga permanente.
Os principais protagonistas do segundo dia do GUIdance não pertencem, contudo, ao universo da dança, mas ao da música. Nome consagrado do rock português, os Mão Morta aventuraram-se num outro território artístico, em parceria com a coreógrafa Inês Jacques, para apresentar No fim era o frio, na black box da Fábrica ASA –? espaço que regressa este ano ao alinhamento do festival. Presente na conferência de imprensa, o guitarrista António Rafael lembrou que de dez em dez anos, sensivelmente, a banda gosta de “pôr a cabeça a prémio” e de assumir um desafio numa “área de total desconforto”,
Esse desafio, levado a cabo com Inês Jacques devido à semelhança entre os “universos estéticos” da banda e da coreógrafa, vai traduzir-se numa performance com temas originais e “sonoridade Mão Morta”, mas não num espectáculo da banda. “Não vai haver uma banda. Há duas partes que se juntam e que passam a ser um todo. A montagem está a correr muito bem. Estamos muito entusiasmados”, disse António Rafael, sobre esta peça em que seis pessoas vão estar a tocar, uma a cantar e seis a dançar.
O lote de estreias absolutas fica completo com anesthize, de Maurícia Neves (dia 9), Fraternidade I + II, a nova criação da companhia Útero que explorará a relação entre o masculino e o feminino (dia 14), Lento e Largo, de Jonas & Lander, que viaja ao universo da robótica (dia 15), e Dos suicidados – o vício de humilhar a imortalidade, de Joana von Mayer Trindade e Hugo Galhim Cristóvão, que explora a obra do escritor modernista Raul Leal (dia 16).
A dança chega às famílias
O cartaz do GUIdance para 2019 cresceu face ao de 2018 devido à inclusão inédita de dois espectáculos vocacionados especialmente para as crianças e as famílias: Um ponto que dança, de Sara Anjo, para maiores de três anos (dia 9), e Oceano, de Ainhoa Vidal, para crianças entre os seis meses e os dois anos (dia 16).
O director artístico da Oficina, João Pedro Vaz, explicou que a decisão foi o resultado do trabalho de educação e mediação cultural desenvolvido nos anos anteriores pelo festival. “Começa a haver uma sensibilidade diferente de quem se torna pai em Guimarães, relativamente à cultura”, disse. “Temos sido muito solicitados quanto a oficinas, a actividades, e esta decisão acaba por ser natural."