Suspeito de Estrasburgo foi condenado 27 vezes e era vigiado por “radicalização"
Autoridades mobilizam mais 1800 militares de uma missão antiterrorismo para procurar o jovem que já passou duas vezes por prisões francesas.
Passavam quase 24 horas desde o ataque quando o primeiro-ministro, Edouard Philippe, anunciou a mobilização de 1800 militares suplementares da Operação “Sentinelle” a juntar aos mais de 720 polícias e soldados já envolvidos nas buscas no Leste da França e ao longo da fronteira com a Alemanha para tentar encontrar Chérif Chekatt, de 29 anos.
Ao mesmo tempo, a polícia nacional divulgava a foto do suspeito do ataque ao mercado de Natal de Estrasburgo que fez três mortos e deixou feridas 12 pessoas (uma está em estado de morte cerebral), na noite de terça-feira, apelando à população para estar atenta “sem intervir pessoalmente” contra “um indivíduo perigoso”.
Nos media faz-se uma pergunta inevitável: até que ponto é que as medidas de segurança postas em marcha vão limitar a acção dos Coletes Amarelos, o movimento nacional de protesto que testa o Governo de Emmanuel Macron e sábado se prepara para o “Acto V”, a sua quinta manifestação com reivindicações que cresceram a partir de preocupações com o imposto sobre o combustível ou o salário mínimo. Será preciso esperar um pouco pela resposta.
Apesar dos pedidos de cautela do secretário de Estado do Interior, Laurent Nunez, nas conclusões sobre os motivos do ataque, a procuradoria de Paris abriu um inquérito por “assassínio”, “tentativa de assassínio em relação com objectivo terrorista” e “associação criminosa terrorista”, entregando as investigações à Direcção Antiterrorismo (SDAT), à direcção inter-regional da Polícia Judiciária (DIPJ) e à Direcção Geral de Segurança Interna (DGSI) – era esta última que assegurava a vigilância “activa” do suspeito, inscrito desde 2016 na lista de pessoas identificadas para prevenção de radicalização de carácter terrorista.
A verdade é que todas as 27 condenações de Chérif Chekatt são por delitos comuns, na maioria assaltos, em França, mas também na Alemanha e na Suíça. Detido durante dois períodos em cadeias francesas, as autoridades acreditam que foi na segunda vez, entre 2013 e 2015, que se radicalizou. Na prisão, o jovem “incitava à prática da religião de forma radical, mas nada permitia detectar uma passagem à acção na sua vida corrente”, explicou Nunez.
Aliás, a política esteve na casa do suspeito pelas 6h de terça-feira, o dia do ataque, para o deter por assalto à mão armada com tentativa de homicídio, um caso de Agosto. Em vez dele, a DGSI encontrou uma granada, uma pistola e várias facas.
Desde esse segundo encarceramento em França, Chérif Chekatt foi condenado a dois anos e três meses de prisão por roubo na Alemanha, em 2016; cumpriu pouco mais de um ano e foi em seguida expulso para o seu país.
Segundo testemunhos, o homem nascido em Estrasburgo avançou pelas ruas do mercado de Natal mais antigo da Europa (encerrado esta quarta-feira, assim permanecerá na quinta) de arma em punho, disparando e empunhando uma faca. Pouco depois, envolveu-se numa troca de tiros com quatro militares da força “Sentinelle” (criada em 2015, no início da vaga de atentados que já fez 264 mortos no país). Ferido num braço, apanhou um táxi (contou ao taxista que tinha disparado contra militares e “assassinado” várias pessoas) que o deixou num bairro a Sul. À saída, cruzou-se com polícias e houve nova troca de disparos.
Família interrogada
Enquanto prossegue a caça ao homem, a mãe, o pai e dois irmãos do suspeito foram detidos para interrogatório. O nível de ameaça subiu para o alerta mais elevado em França e o centro de Estrasburgo vive um ambiente de recolher obrigatório.
O mercado de Natal da cidade, que acolhe a sede do Parlamento Europeu (em plenário por estes dias, para além de acolher a entrega dos Prémio Sakharov, como sempre na sessão de Dezembro), já contava com uma segurança apertada, incluindo centenas de polícias e dezenas de membros da Operação “Sentinelle”. Em 2000, o mercado que se realiza há 449 anos foi alvo de ameaças de um grupo salafista.
Em França, alguns questionam-se sobre se, “com 27 condenações antes dos 30 anos” Chérif Chekatt “não devia estar atrás das grades no dia deste atentado”, como escreveu no site do jornal Le Figaro o advogado e porta-voz do Instituto para a Justiça, Guillaume Jeanson. Muita tinta fez e fará ainda correr a chamada “ficha S”, como a que foi emitida em nome do suspeito em Maio de 2016.
Esta lista de vigilância inclui 26 mil pessoas suspeitas de ameaçar a segurança do país, incluindo dez mil que se pensa terem-se radicalizado, um número que torna impossível que todos estejam sob monitorização permanente. Para além disso, debate-se há muito em França se os suspeitos de radicalização devem permanecer na cadeia – precisamente onde vários atacantes por trás dos atentados dos últimos anos se tornaram fundamentalistas.