Os japoneses vão ver Lisboa a partir do eléctrico 28 - e em tecnologia 8K

Equipa do canal NHK veio a Lisboa fazer um documentário com a novíssima câmara de ultra alta definição. A escolha recaiu sobre o histórico meio de transporte da cidade.

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O produtor Kazuto Kimura acompanha a filmagem num pequeno ecrã Nuno Ferreira Monteiro
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Quem, na tarde de terça-feira, visse passar o mais icónico eléctrico de Lisboa, o 28, pelo seu percurso habitual, estranharia duas coisas: que não se detivesse em nenhuma das paragens habituais e que transportasse no interior um grupo de japoneses com uma câmara de filmar e diverso material de televisão.

Algumas pessoas aproximavam-se quando o viam chegar, preparando-se para subir a bordo, antes de se aperceberem que isso não ia ser possível. No 28 viajava uma equipa da televisão pública japonesa NHK e a câmara colocada logo atrás da condutora tinha a mais moderna tecnologia, a 8K (ou Ultra HD 8K ou ainda Super Hi-Vision, como é chamada pela NHK).

Lisboa e o seu 28 foram a primeira escolha da NHK para uma série documental sobre eléctricos em várias cidades do mundo. “Foi escolhido por unanimidade”, confirma Kazuto Kimura, o produtor que viajou até Portugal para dirigir a equipa responsável por este documentário. “Em termos de imagem, este eléctrico é sem dúvida o mais fotogénico, por isso começámos por aqui.” Mais tarde virão outros eléctricos do mundo, como o de São Francisco, por exemplo.

A partir deste mês de Dezembro, a NHK passou a ter, exclusivamente para o Japão, transmissões em 8K, tornando-se o primeiro canal do mundo a fazê-lo. No entanto, há restrições no número de horas de utilização do 8K porque ainda não existem programas suficientes gravados neste sistema – o eléctrico 28 fará parte desses programas pioneiros, esperando-se que seja transmitido em Março de 2019 no Japão e também em feiras de tecnologia pelo mundo onde a NHK estará a apresentar o seu trabalho nesta área.

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Aliás, mesmo no Japão, onde, para já, muito poucos utilizadores têm aparelhos compatíveis, a NHK criou espaços de demonstração num centro comercial de Tóquio para que as pessoas tomassem contacto com o 8K e percebessem as diferenças relativamente ao seu “irmão mais novo”, o 4K (uma versão restaurada do filme 2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick está a ser mostrada já em 8K nestes espaços).

A diferença do 8K, que se anuncia como a tecnologia do futuro no audiovisual (embora alguns especialistas da área questionem se o seu uso irá efectivamente generalizar-se), está na resolução, que, na imagem, é 16 vezes superior ao HD. Mas Kazuto Kimura destaca também a importância do som e a complexidade deste trabalho, que obriga, entre outras coisas, a ter uma equipa maior do que é habitual para a filmagem de um documentário como o que está a ser feito em Lisboa. Um exemplo: dada a quantidade de informação que entra pela câmara, é necessário ter, para além do operador de câmara, uma pessoa unicamente para fazer o foco.

“Só o som tem cinco canais, as informações que entram são muitas e mais para a frente será necessário um dia para processar todos os sons que estamos a captar aqui. E, no futuro, [esta tecnologia] passará a ter 22 canais”, explica o produtor. No interior do 28 é necessário estar em silêncio, precisamente porque o microfone oval que um dos técnicos segura capta todos os sons que se ouvem ao redor. E num eléctrico ouvem-se muitos sons, desde a ambulância que passa na rua até às vozes dos transeuntes no exterior, passando por todos os ruídos da maquinaria do próprio eléctrico e a campainha que toca para se fazer anunciar.

A condutora da Carris que está a ser filmada neste percurso faz as manobras necessárias perante o olhar atento dos japoneses. Por acaso, durante o percurso que a Fugas acompanhou, o eléctrico pára apenas devido aos semáforos ou ao trânsito normal da cidade, e nunca encontra o caminho bloqueado por um carro, como acontece por vezes em Lisboa.

No pequeno ecrã que Kazuto Kimura segura no colo vê-se o que a câmara capta: a parte de trás da cabeça da condutora e as janelas da frente do 28, através das quais Lisboa vai entrando. Passam prédios de azulejos, roupa a secar à janela, pessoas que se encolhem nas ruas mais estreitas para deixar passar o eléctrico, monumentos, igrejas, estátuas, turistas, tuk-tuks, lojas, restaurantes. É esta a Lisboa que os japoneses vão ver em 8K – e é esta a imagem que muitos deles já conhecem de uma cidade que tem visto aumentar muito o número de visitantes vindos do Japão.

“A ideia que as pessoas têm é a de uma cidade com colinas, onde se sobe e desce”, confirma Kazuto Kimura. “É nesse ambiente que anda este eléctrico, por isso damos exactamente esta sensação, como se as pessoas estivessem aqui.”

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