Liga dos bombeiros admite "abrir porta à negociação" e perdoar "ofensas" e "azedume" do ministro
Jaime Marta Soares diz que 85% das associações de bombeiros deixaram de reportar ocorrências aos centros distritais de operação e socorro.
Os bombeiros vão manter o boicote e não vão reportar aos comandos distritais de operação de socorro as informações operacionais sobre as ocorrências em que estão presentes. De acordo com o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Marta Soares, 85% das associações de bombeiros "aderiram" ao protesto. Números, disse, que são "inquestionáveis, não podem ser postos em causa".
Numa conferência de imprensa na terça-feira à tarde, depois da reunião da direcção da LBP, Jaime Marta Soares fez saber que a Liga apresentou "propostas que o Ministério da Administração Interna [MAI] simplesmente ignorou" e que estes documentos mostram "quem fala a verdade e quem não fala a verdade", afirmou, referindo-se ao facto de o ministro Eduardo Cabrita ter dito que não tinha conhecimento de propostas dos bombeiros.
Marta Soares refere que a Liga está "disponível na contenção das palavras para abrir o diálogo" sugerido pelo Presidente da República, apesar de o ministro ter proferido declarações — já depois do apelo de Marcelo Rebelo de Sousa — que ofenderam os bombeiros. "Fomos ofendidos com a palavra de irresponsáveis. Atitudes irresponsáveis teve o senhor ministro com os seus alertas quando colocou em pânico a sociedade portuguesa", disse, garantindo que o não reporte de informações não põe em causa o socorro às populações.
Marta Soares lembrou ainda que "as declarações proferidas" pelo MAI reforçaram "o azedume e a ofensa e desrespeitar o pedido do Presidente da República de abertura ao diálogo". E que perante o Governo devia "aceitar as propostas dos bombeiros portugueses, porque são eles que estão no terreno".
"Não está, não esteve, nem nunca estará em causa aquilo que possa ser entendido como falta de socorro por não haver reporte", assumiu.
O protesto dos bombeiros começou à meia-noite de domingo e irá prolongar-se até que o Governo abra a porta à efectiva negociação com a Liga aos diplomas que aprovou na generalidade em Conselho de Ministros no passado dia 25 de Outubro. Os bombeiros querem um comando de bombeiros próprio, autónomo e com orçamento próprio e não ficarem sob tutela da Autoridade Nacional de Protecção Civil.
Esta lei, tal como o PÚBLICO avançou em primeira mão, muda a estrutura de comando da renomeada Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC), criando estruturas sub-regionais coincidentes com as comunidades intermunicipais e acabando com as actuais estruturas distritais (os CDOS). Além disso, a legislação prevê que os bombeiros deixem de participar no ataque inicial a incêndios florestais, ficando essa tarefa entregue aos GIPS da GNR.