“Os nossos algoritmos não têm noção de sentimento político”, defendeu presidente do Google
Sundar Pichai explicou ao Congresso americano porque é que fazer uma pesquisa usando a palavra "idiota" mostra fotos de Donald Trump.
O presidente do Google, Sundar Pichai, foi questionado durante horas pelo Congresso americano, onde passou boa parte do tempo a garantir que a empresa respeita a privacidade dos utilizadores, que não tem não tem planos para relançar um motor de busca na China e que os serviços que disponibiliza são politicamente neutros.
“Os nossos algoritmos não têm noção de sentimento político”, disse Pichai, em resposta a uma das muitas questões sobre possíveis inclinações políticas reflectidas no funcionamento dos serviços da empresa. “É importante demonstrar que os nossos produtos funcionam sem qualquer enviesamento”, acrescentou.
Pichai testemunhou nesta terça-feira no comité judicial do Congresso, numa altura em que as empresas de tecnologia enfrentam a maior onda de críticas das últimas décadas. Este ano, outros executivos de topo do sector tecnológico – incluindo Mark Zuckerberg, do Facebook, e Jack Dorsey, do Twitter – já foram questionado pelos legisladores americanos, em sessões onde a privacidade e a possibilidade de manipular as plataformas online para condicionar eleições foram temas quentes. Zuckerberg também já foi ouvido pelos deputados europeus.
Na audiência de Pichai, as preocupações com a influência eleitoral e com a privacidade foram transversais aos dois partidos. Mas o grupo de congressistas estava dividido pela linha partidária num dos temas que várias vezes foi posto em cima da mesa: está o Google a manipular os resultados das pesquisas para prejudicar ideias conservadoras e de direita? É uma ideia defendida pelo próprio Presidente americano. Em Agosto, Donald Trump afirmou, no Twitter, que os resultados das buscas no Google privilegiavam as ideias de esquerda, conclusão a que chegou após ter pesquisado o seu próprio nome. A Casa Branca anunciou então que iria avançar com uma investigação.
No Congresso, Pichai notou que o motor de busca do Google usa mais de 200 variáveis para ordenar páginas na Internet e seleccionar as que apresenta como resultado de uma pesquisa. Foi uma argumentação em que o executivo contou com a ajuda de vários congressistas democratas.
“Neste momento, se fizermos uma pesquisa de imagens pela a palavra ‘idiota’, surge uma fotografia de Donald Trump. Como é que isso acontece?”, questionou a democrata Zoe Lofgren. A pergunta serviu de mote para Pichai descrever em traços gerais o funcionamento do motor de busca. “Não interferimos manualmente em nenhuma pesquisa em particular”, notou. A explicação levou Lofgren a concluir sarcasticamente: “Então não há nenhum homenzinho atrás de uma cortina a decidir o que vai mostrar aos utilizadores?”
Nem todas as perguntas foram tão fáceis. O embaraço de Pichai foi notório quando um congressista republicano leu emails internos do Google, nos quais uma directora com o pelouro da diversidade cultural referia que a empresa tinha, nas presidenciais de 2016, apelado ao voto dos eleitores latinos e tinha pago o transporte até às urnas “em estados-chave”. O presidente da multinacional repetiu várias vezes que uma investigação interna não tinha encontrado indícios de que o Google tivesse agido para beneficiar qualquer um dos lados da eleição – mas não conseguiu explicar o conteúdo dos emails.
A questão chinesa também surgiu com frequência, depois de, em Agosto, ter sido noticiado que o Google estaria a preparar um regresso do seu motor de busca à China. Isto implicaria o acordo das autoridades chinesas e a censura de alguns dos resultados que são incómodos para o regime de Pequim – o que foi a razão para o Google ter fechado em 2010 o serviço de pesquisa naquele país.
“Não há planos para lançar a pesquisa na China”, disse repetidamente Pichai.
Uma expansão das operações do Google na China seriam sempre uma questão política, mas o tema é mais sensível numa altura em que os dois países estão envolvidos numa guerra comercial. Além disso, a tensão acentuou-se na semana passada, quando o Canadá, a pedido das autoridades americanas, deteve uma importante executiva da Huawei, devido a suspeitas de que a multinacional quebrou as sanções económicas ao Irão. A justiça canadiana está agora a avaliar uma possível extradição para os EUA.
Já as preocupações com privacidade (esta semana, uma falha na rede social Google+ levou a empresa a antecipar o encerramento do serviço) motivaram um dos momentos mais difíceis da sessão para Pichai. Um congressista pegou no telemóvel (um iPhone, que não usa o sistema Android desenvolvido pelo Google) e perguntou ao executivo se a empresa registava a sua localização e se saberia caso ele se deslocasse até ao outro lado da sala. “Não por defeito”, respondeu o presidente do Google, acrescentando que dependeria das aplicações instaladas e das configurações dessas aplicações.