Investimento na saúde mental das crianças reduz custos sociais no futuro
O que não é investido na promoção da saúde das crianças e dos jovens vai reflectir-se mais tarde na maior prevalência de doenças crónicas, avisa Isabel Loureiro, vice-presidente do Conselho Nacional de Saúde.
"As doenças começam mais cedo e a esperança de vida vai até mais tarde. Em termos de gastos para a sociedade, isto é brutal", diz Isabel Loureiro, vice-presidente do Conselho Nacional de Saúde que esta quarta-feira apresenta o segundo estudo deste órgão consultivo do Governo em Lisboa.
Numa altura em que temos cada vez mais idosos e menos crianças, por que motivo é que optaram por estudar as políticas públicas para o grupo etário dos 0 aos 18 anos?
Quisemos chamar a atenção para áreas que têm sido descuradas. Sabemos que a sociedade está a envelhecer e que os idosos e o envelhecimento activo têm sido o foco, mas não podemos descurar aquilo que acontece no início de vida. Mesmo em termos económicos, o que não é investido na promoção da saúde das crianças e dos jovens vai reflectir-se mais tarde na maior prevalência de doenças crónicas não transmissíveis. Sabemos hoje, por exemplo, que a obesidade infantil é um dos factores determinantes da diabetes e da hipertensão. Se temos uma esperança de vida mais longa e doenças crónicas como a diabetes e a hipertensão a iniciarem-se mais cedo, o tempo que existe em termos de dependência dos serviços de saúde é muito maior. As doenças começam mais cedo e a esperança de vida vai até mais tarde. Em termos de gastos para a sociedade, isto é brutal.
No relatório, começam por olhar para os dados da demografia e destacam a importância das políticas e dos apoios antes e depois da gravidez e nas idades precoces.
Se não valorizamos o nascer, se não assegurarmos que vale a pena ter crianças, porque há condições para as podermos educar, não há dúvida de que estamos condenados a uma sociedade de idosos. Se queremos reverter este cenário, temos de investir neste período do ciclo de vida [antes do nascimento e durante a gravidez], até porque os bebés de baixo peso ou prematuros têm maior risco de desenvolver determinadas patologias. Mas temos de ter depois boas condições para receber as crianças e apoiar as famílias.
Uma das áreas que destacam é a da saúde mental. Há uma grande falta de respostas para as crianças e jovens em Portugal?
Sim. Há problemas que se podem detectar precocemente e que têm de ter uma resposta imediata. Se perdemos essa oportunidade, vamos pagar isso no resto da vida. Quando falamos na necessidade de mais psicólogos nas escolas, por exemplo, não podemos olhar para esta aposta como uma questão de aumento de gastos. Trata-se, fundamentalmente, de um investimento que vai diminuir os custos em termos sociais no futuro.