Deixei de fumar há nove anos. É a tua vez!

A nicotina é tão viciante como a heroína, por isso a dificuldade, por isso o desafio. E de cada vez que vem a tentação de um cigarro, encho o peito de ar e penso que só deixa de fumar quem quer deixar de fumar. É tão simples quanto isso.

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Bruno Lisita

Alguém abriu a janela e nove anos voaram rua fora soprados pelo vento: 18 de Novembro de 2009, o último cigarro, até hoje. Não por querer celebrar a data, não quero e não vale a pena, os cigarros não me fazem falta e penso neles todos os dias. Não, não é um contra-senso, é mesmo assim. E apesar de pensar em fumar todos os dias, fumar não me faz falta nenhuma.

Quando deixamos de fumar nunca passamos a não-fumadores. Ao invés, seremos sempre ex-fumadores. Deixar de fumar foi uma luta. Não, uma humilhação. A primeira tentativa foi em 2007. A primeira? Não, a primeira, a segunda, a terceira, a décima, as centésimas tentativas foram em 2007. Louco, corria a contar a toda a gente, “Vou deixar de fumar!”, a começar pelos amigos e a acabar na namorada e restante família, na esperança de que a pressão social me mantivesse à tona de água.

Escusado será dizer que de pouco serviu. À 22.ª tentativa já ninguém acreditava e deixar de fumar era motivo de anedota à mesa do café. Já não podia dizer a ninguém. Nem à namorada.

Mais uma tentativa, três dias sem fumar. À beira de um ataque de nervos, a minha namorada pergunta o que se passa e eu perco as estribeiras e grito “Deixei de fumar!”.

Mas desta vez é que foi! Sem substitutos de nicotina, corria todos os dias para acalmar os nervos e o corpo. Todos os dias corri durante um mês até o corpo se cansar mais de correr do que por não fumar. 

E se ao fim de umas horas é notória a melhoria da visão, em poucos dias recuperei o olfacto e o paladar. Redescobrindo um mundo de sabores para além da cebola e dos picantes, comi como se não houvesse amanhã para rapidamente descobrir uma pança com cinco quilos onde antes não havia nada. 

Dois anos foi o tempo de cessação tabágica. Depois emigrei para Inglaterra e em poucos dias voltei ao mesmo. Afinal, não queria deixar de fumar, ainda não... e partir à aventura sozinho não é fácil.

Chegámos a 2009 e a uma constipação cuja mistura com tabaco me tirou o sono durante cinco dias. “Tenho de deixar de fumar”, disse em desespero. Resposta pronta da minha namorada: “Nem penses!”. 

Mas à segunda foi de vez. Se entretanto havia perdido os cinco quilos lá de cima, rapidamente ganhei outros 20, tudo puro músculo, claro, faço 40 quilómetros de bicicleta todas as semanas, nunca mais me constipei, como bem e durmo melhor. Ah, e os nervos que se acalmam depois de um cigarro? Tretas, sem cigarros não há nervos, e o dia corre por inteiro sem necessidade de intervalos.

A nicotina é tão viciante como a heroína, por isso a dificuldade, por isso o desafio. E de cada vez que vem a tentação de um cigarro, encho o peito de ar e penso que só deixa de fumar quem quer deixar de fumar. É tão simples quanto isso. Eu quis, e quero, deixar de fumar, a força de vontade é maior e o desejo passa logo.

E semana após semana, desde sonhar com cigarros a não poder com cigarros e só querer cigarros já tive um pouco de tudo. De caminho passaram nove anos. Chegou a tua vez! Boa sorte, vale a pena, não fumes o último cigarro, o último cigarro já foi, sai de casa e deita o maço fora, nunca mais olhes para trás! E não contes a ninguém, este segredo será só nosso. Veste os calções e calça as sapatilhas, estou à tua espera lá fora!

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