A Cinemateca Portuguesa pode "preencher um espaço que já muito poucos no mundo preenchem"

Marcelo Rebelo de Sousa encerrou o colóquio Cinemateca - Passado, Presente, Futuro, realizado esta sexta-feira em Lisboa. O director da instituição defendeu a urgência de se "digitalizar em alta definição todo o cinema português".

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Ricardo Silva

O Presidente da República defendeu esta sexta-feira a necessidade de a Cinemateca Portuguesa agarrar a "oportunidade única, nesta mudança tecnológica", para "atingir uma dimensão mais vasta" do que a nacional, com a digitalização, suportando os argumentos do director deste organismo.

Marcelo Rebelo de Sousa falava no final do colóquio Cinemateca - Passado, Presente, Futuro, que se realizou em Lisboa, a propósito dos 70 anos da instituição, e que também contou com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca.

No fecho da sessão, Marcelo Rebelo de Sousa partiu das palavras do director da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa, sobre "a oportunidade única" dada pela tecnologia digital para a circulação do património, e defendeu "a ideia de um projecto" que "tem capacidade para atingir uma dimensão mais vasta do que a dimensão meramente nacional".

A Cinemateca Portuguesa pode "preencher um espaço que já muito poucos no mundo preenchem, de ponte entre um passado muito rico, o presente e o futuro, e fazê-lo com projecção universal", disse Marcelo Rebelo de Sousa.

José Manuel Costa, por seu lado, salientou a "taxa de preservação muito grande" que a Cinemateca tem empreendido, ao longo do seu percurso, nomeadamente do cinema português, mas alertou para a necessidade de circulação das obras, para que possam ser vistas "sem pôr em risco a sua sobrevivência", tendo em conta novos suportes e novas tecnologias.

Para o director da Cinemateca, que alertou para diferentes dificuldades da instituição e do sector, é urgente constituir um "marco patrimonial" e "digitalizar em alta definição todo o cinema português", aproveitando "a oportunidade única" que a tecnologia fornece.

Para José Manuel Costa, a digitalização "não tem de ser só um esforço público", já que envolve diferentes agentes, mas defendeu que tem de ser "o Estado a tomar a iniciativa" e a estabelecer as linhas orientadoras.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, apontou a necessidade de dar resposta urgente a problemas da Cinemateca, mas também de projectar estrategicamente o seu futuro e o do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM), para que, daqui por 70 anos, a Cinemateca continue "a unir gerações".

Graça Fonseca destacou o espólio, o trabalho de preservação, a investigação "altamente sofisticada", a Cinemateca Júnior e a importância da programação. "Aquilo que aqui hoje [sexta-feira] quero dizer é que estamos a trabalhar para a Cinemateca", disse, destacando ter como matéria-prima o plano apresentado pelo próprio organismo.

O colóquio contou com os professores e ensaístas António Guerreiro e Maria Filomena Molder, e com a realizadora Teresa Villaverde, que testemunhou o impacto da Cinemateca na sua formação. O sociólogo francês Jacques Lemière, que abordou o cinema português como lugar de resistência, colocou a Cinemateca entre as melhores do mundo, pela sua "riqueza inestimável", numa era de massificação de imagens.

A presença de Marcelo Rebelo de Sousa na Cinemateca Portuguesa aconteceu um dia depois da visita ao ANIM, onde falou da necessidade de dotar o organismo de "mais meios e melhores condições".

A Cinemateca dispõe de 4,7 milhões de euros no Orçamento de 2019, mas tem enfrentado constrangimentos administrativos, sobretudo das cativações financeiras do sector público. Em Setembro, José Manuel Costa dava conta à agência Lusa do estado do Museu do Cinema: "Estamos a lutar pela sobrevivência, quando devíamos estar a responder a novos desafios e a uma dinâmica de conjunto que está a evoluir muito depressa. As cinematecas estão a mudar, o contexto digital mudou muita coisa, todo o panorama de trabalho é bastante diferente (...) e não estamos a poder usar o nosso próprio potencial", lamentou então.