Resgatados corpos de dois dos três desaparecidos na pedreira de Borba

Há quatro vítimas mortais confirmadas na sequência do colapso da Estrada n.º 255, no dia 19. Uma pessoa continua desaparecida.

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Nuno Ferreira Santos

Os corpos de dois dos três desaparecidos na sequência do deslizamento de terras e colapso de parte da estrada que ligava Borba a Vila Viçosa foram resgatados de uma das pedreiras. São, assim, quatro as vítimas mortais confirmadas na sequência do colapso da Estrada n.º 255, no início da semana passada.

As duas vítimas estavam numa carrinha de caixa aberta, onde seguiam no momento do colapso e que foi engolida para o interior de uma pedreira inactiva. As operações prosseguem para tentar encontrar um homem de 85 anos, residente no concelho de Alandroal, que seguiria noutra viatura, ainda dado como desaparecido.

Nas buscas estão a ser usados meios de detecção remota da Marinha. E continuam as operações de extracção e bombeamento de água para o exterior desta pedreira mais profunda, deu conta o comandante operacional nacional de Protecção Civil, Duarte da Costa, no ponto da situação ao início da tarde. Participam, entre outros, bombeiros voluntários, da Força Especial de Bombeiros e militares das Companhias de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) da GNR.

Os corpos agora retirados vão ser autopsiados nos serviços de Medicina Legal de Évora, disse fonte da GNR de Évora à Lusa. Ao que tudo indica tratam-se de dois homens, cunhados, de Bencatel, no concelho de Vila Viçosa. "O condutor da carrinha de caixa aberta e de cor cinzenta, na casa dos 50 anos, terá informado a mulher que ia à tarde [do dia 19 deste mês] com o cunhado, na casa dos 30 anos, ao contabilista a Borba", segundo relatou na altura à Lusa fonte da junta de freguesia de Bencatel.

Já na tarde de quinta-feira, tinha sido detectada uma estrutura metálica submersa, a uma profundidade de cerca de sete metros, cuja configuração se parecia com a de uma viatura. Foi possível extrai-la neste que é o 12º dia de buscas da pedreira mais profunda e que não tinha actividade, entre rochas, blocos de mármore e terra.

Contígua a esta existe uma pedreira que estava activa, de onde foram recuperados os corpos de dois trabalhadores da empresa que ali extraía mármores, um maquinista e um auxiliar de uma retroescavadora, de acordo com a Protecção Civil.

Também esta sexta-feira, o secretário de Estado da Protecção Civil, José Artur Neves, sublinhou que o Governo está a acompanhar "a par e passo este processo" e que o primeiro-ministro é informado "permanentemente do desenrolar dos acontecimentos". 

Autarca é sócio de empresa de mármores

O autarca de Borba, António Anselmo, recusou desde o primeiro momento ter sido avisado do risco em que o troço de estrada se encontrava. Ainda assim vários estudos e relatórios deram conta ao longo dos últimos anos da fragilidade das paredes daquelas pedreiras. De acordo com a agência Lusa, a antiga Direcção Regional de Economia do Alentejo alertou mesmo, nos finais de 2014, o então Governo e a câmara de Borba, já presidida por António Anselmo, para o risco de colapso da Estrada n.º 255. Isto na sequência de uma reunião entre essa tutela, o autarca e uma dezena de empresários em que o encerramento da antiga estrada nacional foi discutido.

O autarca independente, eleito pelo Movimento Unidos por Borba, é também sócio de uma empresa de fabrico de artigos de mármores e de rochas similares. Detém 50% da Carapinha & Anselmo Lda, microempresa com 19 anos e um volume de negócios de 80 mil euros, cuja outra metade é detida pelo sócio-gerente António Carapinha, de acordo com o relatório comercial consultado pelo PÚBLICO. Esta função não é incompatível com a presidência da autarquia.

António Anselmo é também vogal do conselho de administração da EDC Mármores – Empresa Gestora das Áreas de Deposição Comum dos Mármores, da qual a câmara de Borba, e três outros municípios vizinhos, é accionista. A empresa está actualmente em processo de insolvência.