A história da livraria Trezor termina com uma “última grande venda” — e descontos até 70%
A livraria (com álcool) mais barulhenta do Porto vai silenciar-se, apenas oito meses depois de ter chegado à cidade. Lukas Palan, o livreiro, anunciou descontos de 40 a 70% em todos os livros, de Aaronovitch a Zizek, no primeiro fim-de-semana de Dezembro.
Ironizava o livreiro checo quando o conhecemos na Trezor, aberta desde finais de Abril, no Porto: se com o lucro da livraria conseguisse “comprar dois pastéis no final do mês já era bom”. Lukas Palan sabia então que ao abrir uma livraria na baixa portuense “ia lutar só para sobreviver”. Quase oito meses depois, a aventura provou-se insustentável a nível financeiro e a Trezor vai mesmo fechar as portas a 31 de Dezembro. "Escrevam as vossas cartas de despedida antes", anunciou o livreiro. "Foi divertido. Mas muito caro."
Até lá, tudo o que ainda está dentro da porta 22 da Rua do Ferraz vai estar à venda — isto inclui mobília, prateleiras e os cerca de 300 livros em inglês que ainda as preenchem. De Aaronovitch a Zizek, passando por Burgess, Camus, Dostoyevsky, Garcia Marquez, Kundera, Orwell e outras dezenas de autores ausentes na maior parte das livrarias portuguesas, todos os volumes vão estar com descontos entre 40 a 70%. A “última grande venda”, como Lukas lhe chama, vai decorrer no fim-de-semana de 1 e 2 de Dezembro, das 12h às 20h. Os preços variam entre os três e os 20 euros (e a lista completa pode ser consultada aqui, com os devidos preços).
Os livros que Lukas Palan vendeu ao longo da época alta turística não foram suficientes para compensar todos os outros que têm ficado nas prateleiras nos dias de chuva e de menos visitantes. Por isso, no final do ano, a Trezor fecha de vez — pelo menos no Porto, já que o livreiro considera pegar no conceito da loja e levá-lo para Praga, onde vivia antes de se mudar para Portugal, há dois anos.
O livreiro checo que só vende livros porque não sabe “fazer mais nada” — palavras dele, que escondem o romantismo com que olha para as páginas dos muitos que leu — já o fazia antes de chegar ao Porto. Quando em Abril usou as poupanças que tinha para abrir a própria livraria, só com livros em inglês, pensava que ia “oferecer algo diferente do que existe no mercado” da cidade e captar leitores portugueses, especialistas estudantes de Literatura ou em Erasmus. Acabou a vender maioritariamente para turistas que por acaso lá passavam, na descida acentuada que liga a Cordoaria à Rua das Flores e à Ribeira.
A ideia era tornar a Trezor diferente das outras livrarias que conhecia, “mais silenciosas do que um mosteiro”, onde ficava nervoso ao fim de alguns minutos a ter de sussurrar. Por isso é que por lá tem sempre cerveja, café, licores checos e shots de vodka que bebe com quem tirar das prateleiras um autor russo (e no fim-de-semana não vai ser diferente). As conversas em voz alta e de copo na mão são apreciadas, o telemóvel deve ser guardado antes de entrar.
Em Praga, Lukas Palan trabalhava na Neoluxor, uma empresa que tem sete livrarias espalhadas pela capital checa onde vendia best sellers que na maior parte das vezes nada lhe diziam. Em boa hora decidiu abrir uma livraria no Porto que, além dos livros, tem álcool à mão: “Brindemos, então.”