Malparado continua a cair na UE com Portugal em destaque
Comissão Europeia tenta passar mensagem aos líderes dos governos de que, com o malparado a descer, é altura de avançar mais rápido para uma união bancária completa.
Portugal foi, durante os últimos 12 meses, o segundo país da União Europeia a registar uma descida mais forte do rácio de crédito malparado dos bancos, uma tendência que se observou em quase todo o continente e que, defende a Comissão Europeia, deve servir para convencer os países mais cépticos, como a Alemanha, a completar a união bancária e a aceitar uma maior partilha de riscos na zona euro.
Os dados são apresentados no terceiro relatório do executivo europeu sobre os progressos na redução do crédito malparado publicado esta quarta-feira. No total da União Europeia, o crédito malparado (aquele onde o banco assume a existência de um risco sério de não pagamento) passou a representar, no segundo trimestre deste ano, 3,4% do total do crédito concedido, uma nova descida face aos 4,6% do mesmo período do ano anterior.
No entanto – e é isto que preocupa os líderes europeus – existem muitas diferenças entre os países, com alguns sectores bancários nacionais, como o português, com níveis de crédito malparado ainda muito elevado. A boa notícia que a Comissão tenta passar neste relatório é que, nesses países, o rácio também voltou a descer. E Portugal destacou-se.
Nos bancos nacionais, este indicador passou de 15,5% no segundo trimestre de 2017 para 11,7% no segundo trimestre de 2018, uma descida de 3,8 pontos percentuais que foi a segunda mais acentuada em toda a União Europeia.
Apenas Chipre regista uma descida maior, de 5,3 pontos (de 33,4% para 28,1%). Na Grécia, o país com o valor mais elevado (44,9%), a descida foi de dois pontos. E na Itália, cujo sector financeiro concentra muitas das atenções na zona euro, o rácio do crédito malparado desceu de 12,2% para 10%.
A este nível, portanto, Portugal aproximou-se do nível de Itália, mas manteve-se com um rácio mais alto, preservando assim o terceiro lugar do ranking (atrás de Grécia e Chipre) entre os países com um rácio de malparado mais preocupante na União Europeia.
Esta semana, a vice-governadora do Banco de Portugal, Elisa Ferreira, referindo-se a esta questão, defendeu que “o problema do malparado [em Portugal] está contido, regulado, controlado”, mostrando-se confiante de que uma resolução pode acontecer “num período relativamente curto de tempo”.
Para a Comissão Europeia, este relatório serve sobretudo para passar uma mensagem aos líderes europeus que, em Dezembro, se irão reunir e que terão de decidir que passos dar na reforma da união monetária, um processo que tem a conclusão da união bancária como um elemento fundamental.
Nesta questão, os países mais reticentes em avançar em matérias como a criação de um seguro de depósito comum a nível europeu têm defendido que, antes de assumirem uma maior partilha de riscos, é preciso que os riscos actualmente existentes sejam minimizados. Em particular, países como a Alemanha, Holanda e Finlândia, não se sentem à vontade para assumir a responsabilidade de fazer face a futuras falências bancárias, quando o actual cenário aponta para a existência de fragilidades importantes nos sistemas financeiros de alguns países, nomeadamente por causa do elevado nível de crédito malparado.
A Comissão, neste relatório, tenta mostrar aos diversos governos que os progressos no malparado têm sido significativos, justificando que se dêem passos na partilha de riscos. Embora assumindo que em alguns países o problema continua a ser “desafiante”, o relatório defende que “a redução do risco no sector bancário da UE continua a um ritmo sustentável e progressos significativos continuam a ser feitos”. Isto, diz a Comissão, é um contributo para as discussões que vão ter lugar na próxima cimeira, alertando que os progressos rumo à conclusão da união bancária são “urgentes” e “devem ser feitos em paralelo com os progressos na redução do risco”.
Grandes avanços nesta matéria são contudo considerados para já como improváveis. Alemanha e França chegaram a acordo relativamente a alguns temas, como a criação de uma garantia para o mecanismo de resolução, mas têm optado por deixar para mais tarde decisões importantes sobre o seguro de depósito comum, por exemplo.