O espelho do fumo
Macron teve a coragem de não adiar mais um confronto que é inevitável. Cada ano que se adia a decisão de começar a restringir dramaticamente a circulação de viaturas a gasóleo é um ano de mais milhões de mortes prematuras e escusadas.
Está provado que o gasóleo envenena o ar. A gasolina também - mas menos.
É esta o facto indesmentível que dá razão a Macron. Os gilets jaunes representam toda a gente: toda a gente que se deixou enganar com a conversa do diesel ser melhor para o ambiente e para a bolsa.
Fomos todos enganados pelo diesel. As pessoas que nos enganaram também foram enganadas por engenheiros que não sabiam que estavam enganados.
Mas há uma diferença: nós fomos obrigados a investir no diesel. Os governos subsidiaram o gasóleo de maneira a levar-nos a comprar viaturas muito mais caras do que as versões a gasolina.
E porquê? Porque "compensava" (as aspas são necessárias) a longo prazo por causa do preço inferior do gasóleo.
Visto do ponto de vista da poluição é um pesadelo: as viaturas que mais andam nas estradas têm os motores que mais poluem.
Macron teve a coragem de não adiar mais um confronto que é inevitável. Cada ano que se adia a decisão de começar a restringir dramaticamente a circulação de viaturas a gasóleo é um ano de mais milhões de mortes prematuras e escusadas.
Macron não pertence às gerações que nos impingiram o diesel. Mas sabe que a culpa é dos governantes e não dos cidadãos.
É por isso que os governantes têm a obrigação de suavizar a passagem do gasóleo para a electricidade - e para a gasolina, como combustível intermédio, até só ficarem motores não-poluentes.
É preciso fazer o que se fez com os carros muito velhos - mas a uma escala muito maior. Mesmo assim, iremos desconfiar: já fomos escaldados.