O que António Costa continua sem dizer
Com o actual sistema científico e os recursos humanos não é possível fazer melhor? Claro que sim, mas aí estaríamos a agitar as águas mansas que o optimismo anestesiante do primeiro-ministro, a irresponsabilidade da esquerda e a incompetência da direita fazem gala em preservar.
A verdade sobre o estado da nação há-de estar algures entre o discurso optimista que o Governo proclamou por estes dias de comemoração de três anos de mandato e as críticas da oposição. Aliás, está sempre. Mas, já que estamos num momento de efeméride, era bom que saíssemos por instantes da querela político-partidária e tentássemos ver o país de fora para dentro. Porque se há feridas ainda abertas pela incompetência do capitalismo português em histórias como a da Cimpor, se continuam por aí a pulular rostos de um passado velhaco e suspeito na alta finança, como é o caso de Tomás Correia, depois de três anos de estabilidade e recuperação está na hora de perguntar: vamos continuar satisfeitos com o suficiente menos? E o que é preciso fazer para chegar ao bom?
Portugal esteve no rol dos condenados da crise do euro e surpreendeu com uma saída limpa, com a preservação dos seus equilíbrios políticos e institucionais, com a resposta da economia privada e com uma sociedade que resistiu com admirável coragem às agruras da troika. Mas continua ao lado da animação que varreu a Europa. Este ano há 17 países na UE que crescem mais que Portugal. O país caminha para a cauda da riqueza medida por pessoa – depois da ultrapassagem da Eslováquia estamos na 21ª posição. Os salários continuam estagnados, apesar do sucesso da redução do desemprego. A produtividade por trabalhador fica-se pela metade da média europeia.
Talvez o país tivesse que passar por um compasso de espera de distensão confiança depois da troika. O Governo ajustou-se na perfeição a esse momento. Agora vai ser preciso muito mais do que redistribuir rendimentos e afagar a função pública. É preciso olhar para a economia, de falar de economia, de alocar investimento, estima, apoio e protecção à economia. O PS manteve-se fiel ao seu programa no défice, mas deixou-se enredar nos discursos românticos e arcaizantes que tendem a encarar a riqueza como um pecado. E, como que por contágio, o PSD deixou de ser o partido da iniciativa privada e o próprio CDS é incapaz de um discurso coerente. Com o actual sistema científico e os recursos humanos não é possível fazer melhor? Claro que sim, mas aí estaríamos a agitar as águas mansas que o optimismo anestesiante do primeiro-ministro, a irresponsabilidade da esquerda e a incompetência da direita fazem gala em preservar.