Costa fecha a porta do Governo ao BE

Primeiro-ministro fez um balanço dos três anos de governação da "geringonça" e aproveitou para zurzir no Bloco, acusando-o de ter “definido como objectivo eleitoral enfraquecer a capacidade eleitoral do PS”.

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António Costa escolheu o Porto para fazer um balanço dos três anos de Governo LUSA/FERNANDO VELUDO

No discurso de encerramento da XI Convenção do Bloco de Esquerda, há duas semanas, Catarina Martins garantiu que o BE fará parte do Governo "quando o povo quiser" e até elencou as áreas nas quais o partido se baterá por mais conquistas. Mas nesta sexta-feira António Costa parece ter travado definitivamente a disponibilidade do partido fazer parte de uma futura solução governativa.

Numa conferência de imprensa, no Porto, onde fez o balanço de três anos de Governo, o primeiro-ministro lamentou algumas atitudes do Bloco, acusando este partido de ter “definido como objectivo enfraquecer a capacidade eleitoral do PS”.

A menos de um ano das legislativas, António Costa falou das relações entre os diferentes partidos políticos que viabilizam o Governo na Assembleia da República e declarou sobre eles: “Não é muito inteligente irmos para as eleições combatendo-nos uns aos outros. Acho que é inteligente irmos para eleições dizendo cada um o que é que propõe, cada um argumentando porque é que a sua proposta é a melhor e deixar os portugueses julgarem”. E deixou uma certeza: “Pela minha parte não tenciono fazer campanha eleitoral a combater o PCP, o Bloco de Esquerda ou o PEV”.

Afirmando que este “Governo não existiria se o PS não fosse o partido maioritário da esquerda portuguesa”, o primeiro-ministro sublinhou que, “quanto mais força o PS tiver, melhores condições” existem para executar uma política "que tem tido bons resultados”. Depois, focando-se, no BE disse: “Lamento que pelo menos o Bloco de Esquerda tenha definido como objectivo eleitoral não projectar-se a si próprio e combater a direita, mas enfraquecer a capacidade eleitoral do PS. Não me parece que isso seja saudável”.

Antes, numa resposta a um jornalista, Costa tinha admitido que o executivo a que preside foi “mais eficaz” tendo como base acordos parlamentares com o BE, PCP e PEV do que se estes tivessem feito parte do Governo e deixou claro que a evolução do PS, BE, PCP e PEV não aconselham avançar para a formação de um Governo conjunto na próxima legislatura. E quando questionado sobre se está disponível para integrar os três partidos num próximo Governo, Costa contornou a pergunta, dizendo que, “quando as coisas estão bem, o melhor é continuarem como estão”.

Num registo sempre descontraído, o primeiro-ministro revelou que, por vezes, lhe perguntam “se não era melhor tê-los [aos partidos à esquerda do PS] dentro [do Governo]. Eu questiono-me, porquê? O Governo não é uma prisão, mas antes um instrumento de acção política” e foi a este propósito que desabafou: “Sinceramente, entendo que o Governo teria sido menos eficaz se tivéssemos feito uma coligação a três”. Estava dado o recado.

"Respeitar as diferenças"
Costa destacou a seguir que as “grandes qualidades” da actual solução governativa “passaram por cada um ter sido capaz de respeitar as diferenças dos outros”. “Não andamos aqui com um a pretender crescer à custa do eleitorado do outro, e isso constituiu um enorme factor de estabilidade”, vincou.

Numa conferência de imprensa em que recordou muitos “sucessos da governação, mas também onde falou dos “momentos dramáticos” por que passou este Governo, o primeiro-ministro não resistiu a apontar as virtudes da solução que encontrou comparando-a com a coligação PSD/CDS. “Quem tenha lido o último livro do professor Cavaco Silva terá verificado que a solução coligativa teve muitas crises e esteve várias vezes para acabar, porque os partidos, estando juntos no Governo, tinham uma enorme tentação de disputar o eleitorado um do outro. Isso é um erro”, apontou.

Em matéria de Orçamento do Estado para 2019 que vai entrar numa fase de negociação na especialidade no Parlamento, Costa alertou para a “catástrofe financeira” que acontecerá, se os partidos votarem as suas propostas e também as dos outros. Falando várias vezes das “boas contas” do Governo, Costa concluiu que “não se pode dizer que é pouco o que o Governo tem feito”. “Acho que não há um único português que tenha qualquer dúvida de que se há coisa que não pode ser apontada a este Governo é que não tenha sido amigo da administração pública”.

Quanto aos “momentos dramáticos” por que passou este Governo, apontou dois: os incêndios do ano passado e o roubo de material de guerra de Tancos.

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