Mudança do emblema do Watford está nas mãos dos adeptos
O clube inglês poderá seguir uma tendência que o futebol começa a viver cada vez mais, reflexo das ligações mais próximas com o mundo empresarial.
O Watford, clube da Premier League, tem um veado no emblema, mas são conhecidos como os “The Hornets” (as vespas, em português). A alteração do logótipo está em cima da mesa, mas o clube entregou aos adeptos essa responsabilidade e serão eles que irão decidir se “querem ou não a mudança”. Se for essa a opção, os simpatizantes do Watford vão poder submeter os seus próprios logótipos durante os próximos 18 meses.
O clube inglês formou-se em 1881, chamando-se inicialmente os Watford Rovers, nome dado pelo Conde de Essex que permitiu a um grupo de rapazes jogar futebol pelo seu condado. Mais tarde, em 1898, o rival Watford St. Mary’s foi absorvido pelo Rovers e juntos formam o Watford FC até aos dias de hoje. Já no século XX, em 1922, o clube foi transferido para as instalações do actual estádio, Vicarage Road, e receberam a alcunha “The Brewers” devido a um patrocínio desse mesmo estádio com a cervejeira Benskins Brewery.
As cores do logótipo e equipamentos mudaram várias vezes até se estabelecerem no dourado e preto e tornarem-se as tais vespas (“hornets” em inglês). Nos anos 50, o clube colocou um veado no seu logótipo em honra ao condado de Hertfordshire, onde está sediado o Watford, a norte de Londres. Na década seguinte, a vespa (finalmente) aparece nos equipamentos e as letras do Watford. Porém, em 1978, o logótipo com o veado voltou a surgir, permanecendo até hoje a diferença com a alcunha.
Para o director executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) do Porto e especialista em marketing desportivo, Daniel Sá, isto não é surpreendente porque “vai ser cada vez mais normal nos próximos tempos os clubes mudarem os seus logótipos. Muitos deles tem idades longas, são centenários até, e acabam por ter símbolos pouco modernos”. “Vamos assistir mais a isto porque a estrutura de receitas dos clubes mudou completamente nos últimos dez anos, os clubes conseguem ganhar dinheiro não só com os adeptos tradicionais, mas ainda mais com aqueles que não estão tão perto e não podem viver à volta da receita que fazem dos trinta jogos que fazem por época”. “Acho interessante auscultar os adeptos, consumidores do clube. Vai de encontro a uma tendência que todas as marcas têm: desenvolver com o consumidor. A estrutura e possibilidade de lucros ainda maiores está noutras fontes de rendimento”, acrescentou.
Para ilustrar este fenómeno, Daniel Sá relembrou ainda ao PÚBLICO a mudança que aconteceu em Itália. “Recordei-me logo da Juventus porque o novo emblema representou não só uma renovação como também um conjunto enorme de mudanças que têm feito nos últimos anos e em várias áreas”, referiu. “A Juventus tem a alcunha ‘velha senhora’, uma expressão simpática, e logicamente que não lhe interessará perder isto, mas agora chamar-lhe-ia uma velha senhora charmosa, digital e inovadora”, disse entre risos.
Do outro lado, há quem não goste destas mudanças, como ocorreu no Leeds United, também de Inglaterra, que em Janeiro fez uma proposta de alteração do emblema prontamente contestada. Isto é natural porque, diz Daniel Sá, “há uma questão emocional que faz muito a diferença". "Há adeptos mais inovadores e mais conversadores cuja fatia pode não achar piada nenhuma, mas não seria a primeira vez que víamos um clube mais arrojado. Pode haver uma perda de legado, mas os clubes são cada vez mais globais, têm adeptos de outros países que não estão só à volta dos seus estádios”, concluiu.