"Não tem falhado nada" nas operações de resgate em Borba. Chuva nos próximos dias pode causar perigo

Pelas dificuldade colocadas pelo local, é necessário estar preparado "para que a operação leve o seu tempo", diz o comandante distrital de Operações de Socorro de Évora.

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EPA/NUNO VEIGA

O comandante distrital de Operações de Socorro (CODIS) de Évora, José Ribeiro, afirmou nesta quinta-feira que "não tem falhado nada" nas operações de resgate nas pedreiras em Borba, mas diz que o que é realmente "difícil" é o teatro de operações, "com blocos de grandes dimensões difíceis de remover".

"Eu acho que não tem falhado nada, o que é difícil é, realmente, o teatro de operações que nós temos, o local", declarou o comandante operacional, quando questionado pelos jornalistas sobre a alegada falta de resultados ao fim do quarto dia de trabalhos.

O responsável insistiu, tal como tem vindo a dizer desde o acidente, que é necessário estar preparado "para que esta operação leve o seu tempo", pois trata-se de "um local onde ocorreu uma derrocada muito significativa de massa, de terra e de pedras, com blocos de grandes dimensões e que são muito difíceis de remover".

"Tudo isso acrescenta dificuldade, ao mesmo tempo em que estamos a trabalhar a uma profundidade muito significativa e em que corremos, permanentemente, o risco de uma nova derrocada. Portanto, todas as manobras têm de ser calculadas, porque todas as remoções de pedras, todos os trabalhos lá em baixo, podem ter repercussão depois em novos desmoronamentos", acrescentou, ao fazer o ponto de situação, ao início da noite, no quartel dos bombeiros local, sobre as operações em curso em Borba, no quartel dos bombeiros local.

Segundo José Ribeiro, ao longo do dia de hoje, "não foi possível colocar o equipamento da Marinha na água por razões de segurança", o que está agora previsto para as "primeiras horas" de sexta-feira, estando ainda em avaliação o equipamento que o Instituto Hidrográfico levou para o local das operações.

Na tarde de sexta-feira, está prevista a colocação na água de mergulhadores, "numa zona segura da pedreira maior, onde, supostamente, estarão as viaturas", para desenvolverem "algum trabalho complementar ao sonar" que "dê algumas indicações da eventual localização" das mesmas.

O CODIS de Évora acrescentou que a operação de drenagem "está a correr dentro daquilo que era estimado", mas "o volume de água é muito grande".

"Vamos ter de fazer a entrega da água mais à frente, cerca de um quilómetro do local onde estávamos a pensar efectuá-la, o que implica a colocação de mais tubo", referiu.

Em articulação "com a câmara e o proprietário de uma pedreira próxima", foi encontrada "uma solução". Esta passa pela "colocação de uma quarta bomba", que começa a funcionar na sexta-feira e vai permitir "aumentar significativamente o volume de descarga", precisou.

As operações, com equipas cinotécnicas e maquinaria para retirar pedras, que decorriam nesta quinta-feira junto à máquina giratória, na pedreira mais pequena, foram interrompidas devido à chuva, mas estão previstas serem retomadas ainda esta noite.

Geólogos alertam para risco de desabamento do restante troço da estrada

O presidente da Associação Portuguesa de Geólogos (APG), José Romão, alertou para o risco de desabamento do restante troço da estrada, junto às pedreiras em Borba, no distrito de Évora, que colapsou na segunda-feira.

Em declarações à agência Lusa, o responsável avisou que os possíveis novos deslizamentos podem ser provocados pela liquefacção do material argiloso que não caiu ou pela falha por onde o material que já caiu descolou.

José Romão observou que "a argila entrou em liquecfação e provocou o deslocamento do material", mas advertiu que "outra parte, que ainda não entrou em liquefavção, está lá e pode chegar, outra vez, ao limite de liquidez" e provocar um novo deslizamento.

Por outro lado, o presidente da APG alertou que "a falha por onde escorregou o material", na segunda-feira, "pode prolongar-se para um lado ou para o outro" da estrada e pode originar um novo deslizamento "mais à frente ou mais atrás".

O também geólogo salientou, por outro lado, que podem ocorrer "novos escorregamentos em consequência de um novo desequilíbrio da vertente", sublinhando que terá de haver "muito cuidado com a retirada do material" que se acumulou no sopé da vertente.

"Se este tempo continuar, com mais chuva, a água vai fazer com que haja instabilidade das argilas que estão no topo e vai lubrificar as zonas de acidente", havendo "tendência para a ocorrência de mais escorregamentos", sublinhou.

José Romão considerou que "as vertentes íngremes próximas de 90 graus e a existência de falhas e fracturas" são "factores que potenciam os escorregamentos", mas referiu que o deslizamento de terras e colapso de um troço da estrada, na segunda-feira, poderá ter sido desencadeado pela "chuva e vibração" dos veículos que passavam na via.

O deslizamento de um grande volume de terras e o colapso de um troço da estrada entre Borba e Vila Viçosa, no distrito de Évora, para o interior de poços de pedreira ocorreu na segunda-feira às 15h45.

Segundo as autoridades, o colapso de um troço de cerca de 100 metros da estrada terá arrastado para dentro da pedreira contígua, com cerca de 50 metros de profundidade, uma retroescavadora e duas viaturas civis, um automóvel e uma carrinha de caixa aberta.

Na terça-feira à tarde foi retirado o corpo de um dos dois mortos confirmados, havendo ainda três pessoas dadas como desaparecidas.

O Ministério Público instaurou "um inquérito para apurar as circunstâncias que rodearam a ocorrência", segundo a Procuradoria-Geral da República, e duas equipas da Polícia Judiciária estão no local desde quarta-feira a proceder a investigações.

O Governo pediu na quarta-feira uma inspecção urgente ao licenciamento, exploração, fiscalização e suspensão de operação das pedreiras situadas na zona de Borba.