Costa e César juntos para mostrarem que a relação está normal
António Costa vai este sábado às jornadas parlamentares do PS amenizar o clima entre PS e Governo. Desta vez, o líder parlamentar decidiu não convidar nenhum outro membro do Governo.
Carlos César tinha a resposta preparada: “Estamos a fazer jornadas parlamentares, não é um Conselho de Ministros”. "Eles", os ministros, ficaram totalmente de fora da reunião dos deputados socialistas que acontece este fim-de-semana em Portimão. Desta vez, nem um governante além de António Costa – “o nosso melhor ministro”, disse César em tom de brincadeira – terá presença marcada nas jornadas parlamentares do PS. Mostra esta atitude um distanciamento da bancada para o Governo em pleno debate do Orçamento do Estado e depois da divergência pública sobre o IVA das touradas?
O líder parlamentar apressa-se a desmentir que haja problemas. “Quantos mais anos passam, melhor é essa relação”. Como no futebol, quando se diz que está tudo bem, é porque algo vai mal e os últimos dias correram muito mal. Quando se distrai na conversa é na terceira pessoa do plural e não na primeira que César se refere aos membros do Governo que apoia. Não que não os apoie - e a bancada fá-lo em 99% dos casos -, mas César é conhecido por ter um sentido de humor que usa para passar as suas ideias políticas e neste caso, quer unir ainda mais a bancada à sua volta, nem que para isso tenha de ir, pelo menos na retórica, contra governantes que defendem algo com que não concorde.
Nesta fase final da legislatura, sobretudo depois do Congresso do PS em Maio, César pareceu apostar mais na sua imagem pública, querendo mostrar a autonomia da bancada em relação ao Governo, mesmo que essa autonomia só tenha sido visível em dois ou três momentos.
A proposta do IVA das touradas provocou um mal-estar entre o primeiro-ministro e o líder parlamentar que foi patente - e parece entretanto amenizado -, mas não foi a primeira vez que houve desaguisados entre César e o Governo. Muitos acreditam que as tensões são apenas fogo de vista e não passam de manifestações da vontade de Carlos César de se impor, colocando-se na calha para vir a ser candidato socialista na próxima legislatura ao cargo de presidente da Assembleia da República. Aliás, repete sempre que pode que a bancada é autónoma do Governo e não, enquanto ele for líder parlamentar, mera "caixa de ressonância".
Nos últimos meses, chocou de frente com Vieira da Silva por duas vezes. E nas duas vezes António Costa defendeu a posição do ministro. Até agora, o resultado é um empate entre os dois.
Quando Vieira da Silva anunciou o acordo na concertação social para mexer na lei laboral, Carlos César apressou-se a dizer que, depois da acção do Governo, era tempo da "concertação parlamentar" e que o partido ia apresentar propostas de alteração à legislação. Esta decisão foi tomada em Julho, remetida para Setembro e até agora nada foi apresentado. A proposta ainda vai ter de ser debatida na comissão, mas as audições e as propostas socialistas têm sido adiadas e o assunto deve ficar mais para o início do ano.
A outra guerra com Vieira da Silva já foi "ganha" por César. O líder parlamentar disse que ia clarificar o Orçamento do Estado para eliminar o travão às reformas antecipadas, que o ministro queria, e muitas voltas já foram dadas. Vieira da Silva admitiu que a lei pudesse ser alterada e o PS acabou por apresentar uma proposta de alteração ao Orçamento nesse sentido.
Na bancada, os críticos da gestão férrea de César lembram que o presidente do partido criou ali o seu grupo de fiéis, que gere consoante as suas ideias e os seus interesses, tendo afastado ao longo do tempo quem tinha algum protagonismo ou discordava de si.
Será com este clima na bancada, controlado e sem previsão de grandes problemas entre os deputados, que se iniciam as jornadas parlamentares que vão debater questões ligadas ao turismo, inovação e aos orçamentos do futuro que, na perspectiva de César, já assentarão numa previsão de défice zero ou até de superavit.