"Navio-fantasma" da Autoeuropa já está a carregar no porto de Setúbal

Navio com carros da Autoeuropa deverá sair de Setúbal durante a madrugada. PSP desmobilizou estivadores que tentaram impedir entrada de autocarro com outros trabalhadores.

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A PSP retirou do acesso ao porto de Setúbal os estivadores que se sentaram no chão para bloquear a passagem de um autocarro que transportava outros trabalhadores, chamados a substituir os estivadores em protesto, para carregar um navio com automóveis da Autoeuropa.

O autocarro acabou por avançar com a escolta das carrinhas da PSP e percorrer a estrada antes ocupada pelos estivadores, entrando no terminal, onde entretanto começaram os trabalhos para carregar o navio. A embarcação que vai transportar os carros produzidos na fábrica de Palmela chama-se Paglia e prevê-se que parta de Setúbal à uma da manhã de sexta-feira. Até lá, deverão existir dois turnos para fazer o carregamento.

Os trabalhadores substitutos que seguiam no autocarro serão cerca de 50. Os estivadores eventuais não sabem de onde vieram, mas têm informação de que não serão nem de Lisboa, nem de Leixões.

A concentração começou às 6h. Os estivadores começaram a sentar-se no chão por volta das 8h30, já a polícia tinha começado a tentar abrir caminho à passagem do autocarro. Minutos antes das 9h, os elementos da Unidade Especial de Polícia começaram a levar os trabalhadores um a um, para desfazer a barreira humana. Os trabalhadores começaram a pegar os estivadores em braços depois de a PSP ter inicialmente afastado outros que estavam em pé, afirma a Lusa. Foram levados para uma zona lateral, ficando atrás de um gradeamento. Apesar da tensão, a maioria não ofereceu resistência e desmobilizou.

Os trabalhadores eventuais estão parados desde 5 de Novembro, exigindo um contrato colectivo de trabalho negociado entre os operadores portuários e o Sindicato dos Estivadores e Actividade Logística (SEAL). A maioria dos 150 casos são da empresa Operestiva, havendo também estivadores ao serviço da  Setulsete. Os trabalhadores que normalmente operam no terminal Tersado, onde actua a Setulsete, decidiram solidarizar-se com o protesto desta quinta-feira.

Maria do Céu Viola, comissária da PSP do comando distrital, considera que a intervenção da polícia correu bem. Ao PÚBLICO, afirmou ter havido uma “situação de stress inicial” que considerou “normal”. “Já tínhamos planeado a intervenção e sabíamos que este cenário podia ocorrer”, disse.

A PSP vai manter-se no local o tempo que for necessário, mas apenas e só para “manter a ordem pública”, afirmou à RTP o comandante da PSP António Viola da Silva. A polícia, disse, quis evitar “ao máximo usar a força” e por isso decidiu-se pela desmobilização dos estivadores um a um. Foi o que chamou uma “hipótese de não-violência”, para evitar uma carga policial.

Para o local foi mobilizado o corpo de intervenção da Unidade Especial de Polícia e foram chamadas as equipas de intervenção rápida de Almada, Seixal, Barreiro e Setúbal.

Carregamento avança

Já a barreira de estivadores tinha sido desmobilizada quando a Operestiva, empresa de trabalho portuário de Setúbal, emitiu um comunicado a dizer que tinha sido possível iniciar o carregamento do navio. A intenção da Autoeuropa é embarcar cerca de 2000 viaturas dos vários milhares que tem parqueadas no terminal e que ficaram retidas desde dia 5 de Novembro por causa do conflito laboral que paralisou o porto.

Como o PÚBLICO noticiou na quarta-feira, a embarcação é considerada um “navio-fantasma” por dar entrada fora do sistema habitual em vigor na Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), a Janela Única Portuária (JUP).

Apesar de a operação do Paglia estar em marcha, outros terminais parecem estar mais parados do que nos outros dias, como são os casos dos terminais Sapec e Tersado. Neste último, está acostado um navio com perto de mil viaturas para descarregar; há também uma outra embarcação de fruta que está por descarregar. Ao largo do estuário vêm-se mais três navios ancorados.

Críticas ao Governo

A Autoeuropa afirmou, ainda na quarta-feira, que o Governo e o operador logístico tinham encontrado uma solução para assegurar o carregamento do navio, que seguirá para o porto de Emden, na Alemanha. Até quarta-feira, tinham sido canceladas as paragens de sete navios.

António Mariano, do Sindicato dos Estivadores e Actividade Logística (SEAL), apontou o dedo ao Governo de António Costa, acusando-o de estar “ao lado de criminosos”. À Lusa, considerou este dia “vergonhoso para a democracia portuguesa”, pela “perseguição aos sócios do sindicato, discriminação salarial e tudo mais”.

Temos a informação de que os trabalhadores que vêm substituir os eventuais do porto de Setúbal vêm ganhar 500 euros para trabalhar três dias. Durante 20 anos nunca tiveram disponibilidade para fazer um contrato sem termo aos 150 trabalhadores eventuais do porto de Setúbal [90 da Operestiva e os restantes Setulsete]”, afirmou o dirigente sindical à agência de notícias.

A Operestiva reafirmou a vontade de “contratar trabalhadores para as operações de estiva” em Setúbal, rejeitou “veementemente todas as iniciativas para bloquear estas contratações” e prevê que até ao fim do mês – dentro de uma semana – seja reposto o “normal funcionamento das operações no porto de Setúbal através do esforço de recrutamento que tem sido feito”.

Aos estivadores substitutos, que a Operestiva diz estarem a ser alvo de pressões, a empresa saúda a “coragem”, dizendo que eles perceberam a “importância que esta operação tem para toda a região e para o país”, por se tratar da Autoeuropa.

O dirigente sindical admite que a luta dos trabalhadores portuários se poderá agudizar “face a este comportamento” das empresas portuárias, mas remete para mais tarde uma decisão sobre um eventual agravamento das formas de protesto.

De visita ao local, o deputado do PCP Bruno Dias afirmou à RTP ser necessário saber qual é a garantida de credenciação e certificação dos estivadores que hoje entraram no porto. “Confirma-se a perspectiva do envolvimento das autoridades do Estado português” na solução de “arranjar outras pessoas para fazer” o trabalho dos estivadores que hoje estão em protesto, criticou. com Lusa

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