Árvore Portuguesa de 2019 é uma azinheira de Mértola com uma sombra majestosa
Com cerca de 150 anos e uma copa com mais de 23 metros de diâmetro, a Azinheira Secular do Monte Barbeiro (concelho de Mértola) foi escolhida pelos portugueses para árvore de 2019. Se hoje tem uma sombra majestosa, podemos agradecê-lo a três guardiões.
A uns sete quilómetros da aldeia de Alcaria Ruiva (no concelho de Mértola), permanece na ponta de um montado, há já cerca de 150 anos – estima-se –, uma azinheira que com a sua copa pode envolver quatro ou cinco outras da sua espécie que tenham um tamanho normal. Não há como enganar quando chegarmos ao terreno, garante-nos Jorge Rosa, presidente da Câmara Municipal de Mértola: “Esta árvore é uma gigante no meio de outras azinheiras de tamanho normal.” Chama-se Azinheira Secular do Monte Barbeiro e agora foi a vencedora da votação online Árvore Portuguesa de 2019.
Esta azinheira (Quercus rotundifolia) conquistou a medalha de ouro com 3445 votos e vai representar Portugal no concurso Árvore Europeia do Ano, em Fevereiro. Ainda no pódio, ficou o Plátano do Rossio (de Portalegre) com 2989 votos e o Quercus do ISA (Lisboa) com 1667 votos.
“[A Azinheira Secular do Monte Barbeiro] é especial pela idade que conseguiu atingir e porque se desenvolveu de uma forma extraordinária”, destaca o autarca do município de Mértola, que foi a entidade responsável pela candidatura desta árvore no concurso.
E este desenvolvimento extraordinário guarda uma história, aponta Miguel Sampaio, filho da proprietária (Maria Antónia Sampaio) do terreno onde se encontra a árvore, a Herdade do Monte Barbeiro. “Esta árvore distingue-se porque pode estar num sítio onde haverá alguma fonte de água subterrânea e por isso começou a desenvolver-se mais”, especula. Mas destaca que a azinheira teve três grandes guardiões.
“Durante muitos anos, o meu avô [Álvaro Sampaio] só permitia que duas pessoas intervencionassem a árvore e que a orientassem enquanto estivesse em crescimento. Eram dois funcionários: Francisco Bartolomeu e Joaquim Guerreiro”, conta Miguel Sampaio.
Estes dois trabalhadores rurais foram os guardiões da árvore, provavelmente, desde os anos 20 até aos 70. “Tinham indicações do meu avô para defender o mais possível a árvore, para que as pernadas ficassem a pouco mais de 90 graus. Era para que chegassem o mais longe possível do pé, o centro da árvore”, explica.
Hoje, tornou-se na tal azinheira gigante: tem uma copa de 23,28 metros de diâmetro e que ocupa uma área com cerca de 487 metros quadrados. Como tal, a sua sombra em dias de muito calor (afinal, situa-se no Baixo Alentejo) foi a principal característica destacada num comunicado da UNAC – União da Floresta Mediterrânea, que organizou o concurso nacional e que tem o apoio do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural. “Sentarmo-nos debaixo da sua copa faz com que o calor abrasador do Alentejo nos pareça suportável e nos permita contemplar a vastidão da planície envolvente respirando a sua tranquilidade”, refere-se no comunicado.
Jorge Rosa sublinha então a forte ligação da comunidade a esta árvore. “Desde logo, há uma ligação sentimental das pessoas à volta daquela zona. Há uma série de pequenos povoados que conhecem a árvore há muito tempo”, indica o autarca. “Essas pessoas sabem que os seus pais, avôs e bisavôs já conheciam esta árvore e que já tinham estado debaixo dela.”
Depois, há ainda a ligação da árvore às novas gerações. “Temos procurado dá-la a conhecer a todo o território do concelho de Mértola, nomeadamente aos mais novos, porque ela é realmente um ser vivo excepcional”, refere. Desta forma, sempre que há um dia especial nas escolas, há turmas que se deslocam para ver a azinheira do Monte Barbeiro. Nessas visitas de campo, os alunos fazem desenhos desta árvore: há quem desenhe rebanhos de ovelhas a descansar lá debaixo ou quem prefira representar os seus frutos.
“Penso que já todos a conhecem. Para nós, aqui no concelho, já era a árvore de todos os anos porque é a maior que temos. Agora ficamos muito satisfeitos e felizes por saber que também é a árvore do ano de Portugal”, diz entusiasmado o autarca.
Como está inserida na Zona de Protecção Especial do Vale do Guadiana, Jorge Rosa refere que isso é uma ajuda para que estes reconhecimentos aconteçam. Além disso, para si, esta distinção também marca o que se tem feito pelo turismo de natureza no concelho.
“A Azinheira Secular é um digno representante de um sistema de produção mediterrânico único, de cariz agro-florestal, que sustenta uma economia de territórios frágeis e contribui para a biodiversidade, a mitigação das alterações climáticas e o combate à desertificação, sendo um elemento marcante na paisagem do Alentejo”, frisa-se ainda no comunicado. E Jorge Rosa concorda: além de o montado ter uma importância económica muito grande na região – o fruto da azinheira pode ser aproveitado na pecuária ou pode vender-se a lenha –, este ecossistema é determinante na resiliência dos territórios às alterações climáticas.
Mas, além da azinheira, do plátano e do Quercus do ISA, houve mais árvores no concurso (ao todo, um júri seleccionou dez a partir de 29 candidaturas). Para além do pódio, foi esta a classificação por ordem decrescente: Nosso Sobreiro (Abela, em Santiago do Cacém); Zambujeiro Milenar (Foros de Vale de Figueira, Montemor-o-Novo); Carvalho de Calvos (Bouça da Tojeira, Póvoa do Lanhoso); Oliveira do Mouchão (Mouriscas, Abrantes); Dragoeiro (Lisboa); Aroeira A Fazedora de Chuva (Valongo, Avis); e a Tuia-gigante (Sintra).
Ao todo, o concurso online – que decorreu até às 23h59 desta terça-feira – teve 19.328 votos e, como frisa o comunicado, o período de votação suscitou o entusiasmo e apelo ao voto das comunidades locais.
Em Fevereiro do próximo ano, a Azinheira Secular do Monte Barbeiro vai tentar igualar o Sobreiro Assobiador da aldeia de Águas de Moura, no concelho de Palmela, que conquistou o primeiro lugar no concurso Árvore Europeia de 2018. Com 17 metros de altura e 30 metros de diâmetro de copa, estima-se que este sobreiro tenha mais de 230 anos. E por que lhe chamam assobiador? Devido à sua copa muito larga, as aves pousam nele e chilreiam imenso. Representa ainda a forte importância do sobreiro no território português.
Quanto à azinheira gigante de Mértola, como é que se pode visitar? “Quem quiser, é ir: o caminho é livre”, responde Miguel Sampaio. Mas, como há uma cerca, deve-se avisar alguém para abrir a porta, avisa. O autarca de Mértola aconselha ainda que se peça indicações do caminho a alguém nas povoações vizinhas, porque tem de se passar por caminhos de terra batida e não há placas que indiquem o trajecto. Também se podem pedir informações na Junta de Freguesia de Alcaria Ruiva ou na Câmara Municipal de Mértola.
Neste momento, como se espera que mais pessoas queiram visitar a árvore, Jorge Rosa diz que irá “intensificar” a maneira de lá chegar facilmente – que está a ser avaliada – e de falar com a proprietária do terreno. Contudo, avisa que terá de haver um controlo. “A intenção não é que vá lá muita gente, porque a árvore pode ficar a perder com isso. Mas tem de haver oportunidade para quem o quiser fazer.”