Dez vinhos para a noite de Natal: não beba o melhor, mas beba bom

O Natal, pela sua natureza festiva e diversidade gastronómica, é uma época que convida ao consumo de vinho. Mas não a um vinho só, nem tão-pouco ao vinho mais caro. Sem gastar muito, podemos celebrar em grande com vinhos bons e mais ou menos do agrado de todos.

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Nuno Ferreira Santos
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Nuno Ferreira Santos

A partir de uma certa altura da nossa vida, ficamos sem tempo para beber vinho mau. Antes beber água. "Sim, pois, mas os grandes vinhos são muito caros e só quem tem muito dinheiro consegue chegar até eles", podem contestar. Também não precisamos de beber Romanée-Conti para sermos felizes. Nem precisamos de comprar vinho estrangeiro. Um vinho muito bom não tem forçosamente que ser muito caro e em Portugal há belíssimos vinhos a preços acessíveis.

Não falamos de Barca Velha, claro, que custa mais de 400 euros a garrafa. O vinho é grandioso, mas o grosso do preço corresponde ao nome e à fama. O vinho propriamente dito, o líquido ingerível, tem um valor mais baixo e não é assim tão manifestamente superior a alguns tintos nacionais que custam muito menos.

Mais do que um vinho, o Barca Velha é um produto de luxo e, como tal, é indicado para devaneios, para momentos especialíssimos. Num país de tradição católica como o nosso, o Natal pode ser um desses momentos especiais em que dá vontade de fazer uma loucura e abrir a tal garrafa. Se o dinheiro não lhe fizer falta, pois que seja feita a sua vontade. Se o dinheiro não lhe sobra, se tem brio no que bebe e dá a beber, se beber um grande vinho é para si um momento sempre solene de partilha e de descoberta, que não deve ser desperdiçado com quem não consiga perceber minimamente o vinho, então guarde as grandes garrafas para outra altura. O seu pai, a sua mãe, a sua esposa ou marido, os seus filhos até podem merecer o melhor vinho, mas imagine que o genro ou o sogro só estão habituados a beber vinho de bag-in-box, que os tios nunca foram além do vinho da casa, que os primos querem é vodka e cerveja. Já viu o desperdício que vai ser? Há maior frustração do que partilhar um grande vinho com alguém que faz uma cara feia ou nos diz "é bom, mas prefiro o vinho da cooperativa"?

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No Natal, esqueça pois os Barcas Velhas desta vida. O mais apropriado é optar por vinhos bons mas não muito caros e que sejam mais ou menos consensuais. Vinhos que possam casar com a diversidade e a riqueza da ementa natalícia: espumantes e brancos leves e aromáticos para os fritos, brancos mais gordos e tintos carnudos para o bacalhau assado, tintos mais delicados e especiados para o peru, Porto, Madeira ou Moscatel para a doçaria final. E, já depois de tudo, para limpar a boca e aliviar o estômago, um bom champanhe ou um bom espumante. A "arrotadeira", como lhe chamam na Bairrada. Para lhe facilitarmos a busca, deixamos-lhe aqui dez sugestões.

Herdade do Rocim Amphora Branco 2017

Como fermentou em ânforas de barro sem controlo de temperatura (e de forma espontânea, sem adição de leveduras seleccionadas), perdeu alguma fruta. Mas, em contrapartida, ganhou notas mais especiadas e vegetais e também sensações de evolução que nos remetem para certos vinhos fortificados, como o Xerez, por exemplo, o que pode ser explicado pela presença no lote da casta Perrum, que não é mais do que a Palomino Fino, a variedade mais utilizada naquela região espanhola. Na boca é um branco leve de álcool, ligeiramente apimentado e com uma secura formidável. Um branco belíssimo e cheio de carácter, daqueles que nos dão realmente prazer a beber. Dá para ir bebendo ao longo do dia de Natal e pode ser uma boa companhia para o bacalhau assado. P.G.

Herdade do Rocim
Vidigueira
Castas: Antão Vaz, Rabo de Ovelha, Perrum e Manteúdo
Graduação: 12% vol
Região: Alentejo
Preço: 16€ 

Quinta da Romaneira Reserva Tinto 2015

É um vinho perfumadíssimo, com deliciosas notas de mirtilos e violetas a predominar no aroma, amplo e vigoroso na boca, suportado por taninos finos e sedosos e por uma frescura de natureza mineral que vem das profundezas do xisto. Novo mas de grande classe. Um tinto perfeito para o bacalhau e para o peru. P.G.

Quinta da Romaneira
Alijó
Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinto Cão
Graduação: 13,5% vol
Região: Douro
Preço: 40€

Quinta das Bágeiras Espumante Bruto Natural 2016

Um espumante novo, singelo mas agradabilíssimo. Por apenas 7 euros, permite-nos enfrentar o grande sortido de fritos natalícios com galhardia e contentamento. Tenso, seco e cheio de frescura, é um daqueles espumantes que nunca cansam. A fruta é madura, as sugestões de levedura são contidas e a acidez não magoa. Com esta qualidade e este preço, não é fácil encontrar melhor. P.G.

Quinta das Bágeiras
Fogueira, Sangalhos
Castas: Maria Gomes, Bical e Baga
Graduação: 12,5% vol
Região: Bairrada
Preço: 7€

Rascunho By Quinta de Santiago Alvarinho 2015

Bastante austero de aroma, não cheira, nem sabe a frutos tropicais, e ainda bem. Na verdade, impõe-se mais pela sua dimensão mineral, que advém da casta mas, acima de tudo, do solo e que se pressente mais na boca do que no nariz. Fermentado de forma espontânea em balseiros de carvalho e em contacto parcial com cachos não desengaçados, estagiou depois durante nove meses sobre borras totais, com bâtonnage regular. Isto, associado à madureza da fruta, explica o seu enorme volume e untuosidade. É um Alvarinho, gordo e envolvente mas, ao mesmo tempo, fresquíssimo e bem balanceado. P.G.

Quinta de Santiago
Cortes, Monção
Castas: Alvarinho
Graduação: 13,5% vol
Região: Vinhos Verdes
Preço: 24,50€

Ravasqueira Premium 2014 Alicante Bouschet

O primeiro Alicante Bouschet da Ravasqueira é um vinho magnífico. Ponto. Um vinho da série que vale a pena mastigar, fazendo durar as suas sensações no palato. O seu aroma é sofisticado, com a nota de couro e sugestões de especiaria bem afirmadas, o seu volume de boca exprime um notável equilíbrio entre um tanino firme mas já muito polido e atraente e uma expressão de fruta e influência da barrica (estagiou 28 meses em carvalho francês) bem integrada, o seu final de boca é potente, rico, fresco e muito longo. É um grande vinho a acrescentar aos pergaminhos da grande casta alentejana. E uma prova de classe da Ravasqueira. Produziram-se 6600 garrafas. Um vinho para momentos muito especiais. Haverá momento mais especial do que a ceia de Natal? M.C.

Ravasqueira, Arraiolos
Graduação: 14% vol
Região: Regional Alentejano
Preço: 56€
Pontuação: 95

Quinta de Carvalhais Reserva 2015

O Dão é o lugar onde se produzem alguns dos mais sedutores tintos portugueses e este Carvalhais é um magnífico exemplo desse potencial. Pelo seu aroma floral, límpido e intenso. Mas também pela sua estrutura fina e a sua textura deliciosa. Ainda na sua fase de crescimento em garrafa (mais uns cinco anos acentuarão a sua finesse), é um vinho que já dá um enorme prazer beber. Bom para a mesa, bom para a cave, sofisticado e com aquele toque aromático que faz o exotismo do Dão, este tinto de Beatriz Cabral de Almeida é irresistível. A sua classe e delicadeza ficarão por certo bem ao lado do bacalhau do Natal. M.C.

Sogrape, Avintes
Castas: Touriga Nacional (80%), Alfrocheiro (14%) e Tinta Roriz (6%)
Graduação: 14,5% vol
Região: Dão
Preço: 25€
Pontuação: 93

Roquette & Cazes 2015

A parceria entre a Quinta do Crasto e Jean-Michel Cazes estreou-se no Douro na década passada com uma proposta que se submetia mais aos padrões da modernidade inspirada nas notas dos críticos de vinhos norte-americanos do que na essência do Vale do Douro. Esse tempo acabou. Vinificado por duas estrelas da enologia (Miguel Lobo e Daniel Llose, do Château Lynch-Bages, este vinho é atraente pelo aroma de fruta, com sugestões florais e notas de bosque muito durienses, intenso e cheio na boca, envolvente e longo. Estagiou 18 meses em barricas de carvalho francês, mas a marca da madeira está bem integrada e apenas enriquece a sua estrutura firme mas fina e contribui para sua enorme complexidade. M.C.

Roquette & Cazes, Sabrosa
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca
Graduação: 14,5% vol
Região: Douro
Pontuação: 95
Preço: 20,30€

Quanta Terra Branco 2011

Que os brancos portugueses têm um enorme potencial de guarda, já se sabia. Celso Pereira e Jorge Alves decidiram ainda assim ousar o lançamento no mercado, este ano, de um branco com sete anos de evolução para tirar as dúvidas que persistissem. Fizeram muito bem. Este branco, com a sua tonalidade dourada, as suas notas de mel, erva seca e sugestões balsâmicas que denunciam o seu longo estágio em barrica, o seu volume que enche a boca e a sua acidez final, longa, tensa e fresca, é um pequeno tesouro do Planalto de Alijó, do Douro e da casa que o criou. Um grande vinho, exigente à mesa (ideal para queijos, mas fica bem com o bacalhau), que nos desperta sensações originais e nos proporciona um magnífico prazer. M.C.

Quanta Terra, Alijó
Castas: Viosinho e Gouveio
Graduação: 14% vol
Região: Douro
Preço: 70€ (em onwine.pt)
Pontuação: 96

Ribeiro Santo Escolha Branco 2007

Um branco que está na sua fase perfeita e é um hino aos vinhos do Dão. Puro deleite, para saborear em momentos mesmo especiais. À cor dourada brilhante começa por associar suaves aromas de frutos secos, inundando depois a boca de sensações frescas de limão e tília. Textura fina e muito elegante, mas ao mesmo tempo sempre intenso e num crescendo de sabor que evolui para notas de geleias e apetroladas. Puro prazer. Estará perfeito para o assado de peru, mas o ideal é mesmo saboreá-lo noite fora. Longa e demoradamente. J.A.M.

Magnum Carlos Lucas
Carregal do Sal
Castas: Encruzado e Malvasia Fina
Graduação: 13% vol
Região: Dão
Preço: 16,90€

Bacalhôa  Moscatel Roxo Superior 2003

Este delicioso Moscatel passou dez anos em barricas de 200 litros que antes tinham armazenado uísque. É um vinho com sugestões florais típicas da casta (rosas e flor de laranjeira), outras mais de fruta bem madura tipo passas e mel e outras ainda geradas pela fortificação e evolução, que evocam frutos secos e destilados nobres. Apesar de ser um vinho doce, possui uma acidez vibrante que equilibra a prova. Bebido com moderação, pode fazer um figuraço com a doçaria natalícia. P.G.

Bacalhôa Vinhos
Castas: Moscatel Roxo
Graduação: 19,5% vol
Região: Península de Setúbal
Preço: 21,90€

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