O Mónaco passou do estrelato à luta pela manutenção
A equipa monegasca está a ter uma temporada para esquecer. No penúltimo lugar do campeonato francês, luta pela sobrevivência.
Depois de se sagrar campeão na temporada 2016-17, com Leonardo Jardim no comando técnico, as últimas semanas da Association Sportive de Monaco têm sido para esquecer. O treinador português deixou o clube a 11 de Outubro e o ex-futebolista Thierry Henry assumiu o cargo. Pouco ou nada mudou até ao momento.
O Mónaco é 19.º classificado, penúltimo, da Ligue 1, com apenas sete pontos, os mesmos do último, o Guingamp. A última e única vitória dos monegascos foi na primeira jornada, a 11 de Agosto, frente ao Nantes, que ainda tinha Miguel Cardoso como treinador. Desde então, oito derrotas, quatro empates e um desaire também na Liga dos Campeões.
Os objectivos de um clube candidato ao título mudaram por completo e foram anunciados de forma breve pelo novo treinador. “Jogamos apenas pela manutenção, já não jogamos por outro objectivo”, disse Thierry Henry em conferência de imprensa após a derrota do Mónaco por 4-0 contra o suposto rival directo no campeonato, o poderoso e endinheirado Paris Saint-Germain.
Apesar da situação sensível, esses mesmos adjectivos também ainda podem definir o poder do Mónaco. Ao PÚBLICO, Olivier Bonamici, cidadão monegasco, adepto do clube do principado e comentador da Eurosport e SIC, diz não entender o que está a acontecer na equipa da sua terra natal. “É inadmissível o Mónaco chegar a este ponto, com 200 milhões de euros de orçamento”, referiu sem deixar de acrescentar: “Isto é surreal, mas o facto é que o Mónaco está mesmo em risco de descer de divisão”.
Olivier Bonamici nega que Henry tenha dito isto para se defender, até porque o próprio clube assumiu que o novo treinador “não é bombeiro de serviço”. “O Thierry foi contratado para o longo prazo, não para o imediato. Caso contrário, deveríamos ter escolhido outro perfil de treinador. Tem faltado confiança e sorte”, disse o vice-presidente do Mónaco, Vladimir Vasilyev ao Canal+.
Há vários motivos para atribuir o actual mau momento do emblema monegasco e começam logo pelo novo treinador. Apesar de ser uma lenda do clube como jogador, "Henry é um treinador inexperiente e ainda tem muito que aprender no contexto psicológico dos jogadores". "Temos um plantel muito jovem e não pode ser. É necessário ter jogadores experientes para poder ter um jogo pragmático, é isso que o Mónaco agora precisa, para vencer partidas, e não de um futebol espectacular que já tivemos”, acrescentou Bonamici. O plantel tem 34 jogadores e uma média de idades de 23,76 anos.
Kylian Mbappé (Paris Saint-Germain), Benjamin Mendy, Bernardo Silva (Manchester City); Fabinho(Liverpool); Anthony Martial (Manchester United); Yannick Ferreira-Carrasco e Thomas Lemar (Atlético Madrid) foram jogadores que exibiram um rendimento invulgar no Mónaco nos últimos cinco anos e encheram os cofres do clube com valores de transferência. Agora, “não há investimento, não há projecto desportivo e tudo se torna uma bola de neve”, disse Olivier Bonamici.
No entanto, a saída de Leonardo Jardim não peca por tardia e já podia ter acontecido mais cedo, quando foi campeão em 2017, diz Olivier. “Fez muito bem em sair e o risco não é dele. É um treinador extraordinário. Era o fim da linha para ele, mas deixou uma marca na história do Mónaco. Já se notava que não estava feliz com o projecto”, explicou.
Com o treinador português no comando técnico durante os últimos quatro anos, o Mónaco terminou sempre o campeonato no pódio e juntou alguns desempenhos notáveis nas competições internacionais. A excepção foi só no ano do inédito título porque é “impossível competir com o Paris Saint-Germain. Aconteceu uma vez”, reforçou Olivier Bonamici.
Em 2011, o Mónaco terminou o campeonato no 18.º lugar. Esteve no segundo escalão do futebol gaulês até 2013, ano em que recebeu uma injecção de capital russo e contratou jogadores de topo e de conhecimento dos portugueses: os ex-FC Porto, James Rodríguez, João Moutinho, Ricardo Carvalho e Radamel Falcao. Dmitri Ribolovlev, o presidente do clube desde 2011, foi quem decidiu devolver a influência do Mónaco no futebol.
O dinheiro ainda poderá existir, mas as coisas não mexem. O milionário russo foi detido, em Monte Carlo, por suspeitas de corrupção poucas horas antes do Mónaco entrar em campo para enfrentar o Club Brugge, da Bélgica, na quarta jornada do grupo A da Liga dos Campeões, jogo que perdeu por 0-4. O clube é ainda acusado de contratar ilegalmente jogadores menores de idade.
Na última partida do Mónaco, frente ao Paris Saint-Germain, Thierry Henry foi a jogo com 14 baixas no plantel, todas elas por lesão, excepto uma por castigo. Estará o clube condenado a um novo fracasso desportivo? Irá o Mónaco perder apoio financeiro? Veremos qual será a reacção da equipa após a pausa dos jogos para as selecções. A partir deste sábado, o Mónaco vai disputar quatro partidas em dez dias, sendo que apenas uma será em casa, diante do Montpellier, terceiro classificado do campeonato. Os jogos fora de portas serão nos terrenos de Caen, Atlético de Madrid e Amiens. Estas equipas francesas (17.º e 16.º lugares, respectivamente) também estão no fundo da tabela e lutam pela manutenção, em conjunto com o Mónaco.