Há outra super-Terra gelada e sombria bem perto de nós
Chama-se Barnard b, tem 3,2 vezes a massa da Terra e os cientistas suspeitam que este planeta pode estar acompanhado por mais planetas.
Fica a uns meros seis anos-luz de distância da Terra, é gelado e sombrio. São estas as principais características de um exoplaneta que terá sido encontrado a orbitar a estrela de Barnard. Esta super-Terra – que tem pelo menos 3,2 vezes a massa do nosso planeta – recebeu o nome Barnard b, uma descoberta publicada esta quinta-feira por uma equipa internacional de cientistas na revista científica Nature.
A estrela de Barnard – denominada assim devido ao astrónomo norte-americano Edward Emerson Barnard – é uma anã vermelha, ou seja, uma estrela fria com pouca massa. Provavelmente, terá o dobro da idade da nossa estrela e tem o movimento aparente mais rápido de todo o céu nocturno, segundo um comunicado do Observatório Europeu do Sul (ESO). E é considerada a estrela individual mais próxima do Sol.
Uma equipa de cientistas analisou observações de duas décadas sobre estrela vindas de vários instrumentos, como os caçadores de planetas do ESO – os espectrógrafos (instrumento que decompõe a luz nas suas várias cores) HARPS e UVE.
E como encontraram exactamente o exoplaneta? Usou-se o método da velocidade radial: “À medida que o planeta orbita a estrela, a sua atracção gravitacional faz com que a estrela oscile ligeiramente”, explica-se no comunicado. Depois, quando a estrela se afasta da Terra, o seu espectro desvia-se para a parte infravermelha do espectro electromagnético (associado a maiores comprimentos de onda) e quando se aproxima da Terra desvia-se para azul (menores comprimentos de onda). Esta foi a primeira vez que um exoplaneta com esta dimensão e distância à sua estrela foi detectado através desta técnica.
“Depois de uma análise cuidada, estamos cerca de 99% confiantes de que o planeta está lá”, considera Ignasi Ribas, do Instituto de Ciências Espaciais (Espanha) e líder deste trabalho. “Contudo, continuaremos a observar esta estrela rápida para excluir possíveis, mas improváveis, variações naturais do brilho estelar que poderiam ser confundidas com um planeta.”
Apesar da estrela de Barnard ser nossa vizinha, Ignasi Ribas explica que o seu planeta ainda não tinha sido detectado porque tem um sinal ténue e era necessário ter milhares de observações. “Tivemos de combinar cerca de 800 medições de sete espectrógrafos diferentes para termos provas suficientes”, indica o cientista.
Esta super-Terra com pelo menos 3,2 massas terrestres fica a 60 milhões de quilómetros da sua estrela, que orbita num período de cerca de 233 dias terrestres. Como a Barnard é uma estrela fria, ilumina pouco o seu exoplaneta: a luz de Barnard dá apenas 2% da energia que a Terra recebe da sua estrela. Além disso, situa-se na designada “linha de neve”, uma região onde compostos como a água podem tornar-se gelo. Portanto, Barnard b é gelado – poderá ter uma temperatura de 170 graus Celsius negativos – e é sombrio.
Os cientistas frisam que o facto de a sua estrela ter uma massa reduzida (as super-Terras são o tipo de planeta mais comum em torno dessas estrelas) reforça esta descoberta.
Estará acompanhado?
Até agora, o Barnard b é o segundo exoplaneta mais próximo da Terra. Actualmente, o exoplaneta mais perto de nós é o Próxima do Centauro b, que está na zona habitável da estrela Próxima do Centauro (que faz parte do sistema triplo Alfa do Centauro), a cerca de quatro anos-luz da Terra (em 2012 foi proposto um segundo planeta no sistema do Centauro cuja existência entretanto não se confirmou). Tanto o Barnard b como o Próxima do Centauro b foram descobertos no âmbito da campanha Pontos Vermelhos e do consórcio Carmenes, que procuram exoplanetas rochosos perto de nós.
“A detecção do segundo exoplaneta mais próximo do nosso sistema solar é uma grande notícia. Estamos literalmente a começar a conhecer os nossos vizinhos do lado”, assinala Ignasi Ribas. “O exoplaneta da estrela de Barnad é óptimo para se caracterizar através da astrometria e de imagens directas. A sua curta distância à Terra e a órbita relativamente ampla oferece a possibilidade de termos imagens mais realísticas a médio prazo.”
Além disso, o cientista mostra-se surpreendido por ainda não se terem encontrado mais planetas a orbitar esta estrela. “Devido aos resultados do [telescópio] Kepler, sabemos que os planetas em torno de estrelas anãs-vermelhas (como a Barnard) são muito comuns, com uma média de dois planetas por estrela em órbitas aproximadas”, indica. “Por agora, parece que o sistema planetário em torno da Barnard está muito vazio. Talvez futuras observações desvendem novos pequenos planetas.”
Num comentário também na revista Nature, Rodrigo Díaz (do Instituto de Astronomia e Física do Espaço, na Argentina) destaca que uma próxima geração de instrumentos astronómicos poderá dar-nos informação ainda mais detalhada sobre este exoplaneta. “Este extraordinário planeta pode ser assim uma peça-chave no puzzle da formação e evolução planetária e poderá estar entre os primeiros planetas de massa reduzida com a atmosfera investigada em detalhe.”