António Guterres adverte para "escalada imprevisível" de polarização
Secretário-geral da ONU diz que o projecto europeu é demasiado significativo para fracassar, e alerta para as consequências dramáticas do isolacionismo.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, advertiu hoje para factores preocupantes capazes de desencadear uma "espiral imprevisível" como a que levou à Grande Guerra há cem anos, ao discursar na abertura do Fórum de Paris para a Paz.
Guterres manifestou preocupação com a "crise de confiança" na União Europeia (UE), frisando que "o projecto europeu não pode perder apoio das populações europeias" e alertando que ele é "demasiado significativo para fracassar".
Para explicar essa crise citou, entre outros factores, as consequências da crise financeira internacional de 2008, a desestabilização das classes médias, os entraves à mobilidade social, o acentuar das desigualdades e a revolta, citando o filósofo francês René Descartes contra a "traição das elites", como criadoras de uma "polarização que desgasta valores e direitos".
"Foram paixões amargas que alimentaram o nacionalismo, o isolacionismo e o anti-semitismo no princípio do século XX", evocou.
"Foi a falta de interesse e de capacidade de diálogo que levou à guerra de 1914-18", acrescentou, frisando que "a indiferença às regras comuns" abala "o espírito de democracia" em que assentam os governos europeus.
António Guterres destacou ao longo de toda a sua intervenção a importância do multilateralismo e, consequentemente, das Nações Unidas, que permitiram criar "um quadro para a cooperação internacional".
Admitiu, no entanto, a necessidade de reformar a organização, afirmando que o trabalho por ela desenvolvido "pode por vezes não corresponder aos ideais, mas tornam o mundo melhor".
O Fórum de Paris para a Paz é uma iniciativa associada às comemorações dos 100 anos do Armistício.