Mariana Mortágua: "Vamos ser governo? Estamos prontos, camaradas, estamos prontos!"

Convenção do BE faz balanço da "geringonça" e olha para a frente. "O capital quer que esta legislatura seja um parênteses", afirmou Jorge Costa.

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LUSA/JOSE SENA GOULãO

Na manhã deste domingo, a deputada bloquista Mariana Mortágua não deixou quaisquer dúvidas sobre as pretensões do partido para a próxima legislatura: “Perguntam-nos se queremos ser governo. Sim, queremos ser governo. Perguntam-nos se vamos ser governo? Estamos prontos, camaradas, estamos prontos!”, exclamou debaixo de fortes aplausos.

Para a deputada, este é o “momento” de se preparar “o país para o futuro”. E o BE tem pessoas à altura desse desafio, diz Mortágua: “Somos uma força capaz e por tudo isso lutaremos nas próximas eleições.”

Antes, no discurso, Mariana Mortágua não poupou críticas ao PS. Na intervenção que fez, defendeu que as propostas com que o PS se apresentou às últimas eleições eram “erradas” e que, o contrário do que queria PS e Bruxelas, houve conquistas, como no salário mínimo e nas pensões. “O emprego cresceu e melhorou as contas do Estado”, exemplificou a economista.

A forma como o Governo resolveu os problemas da banca também não ficaram de fora do discurso. “O que aconteceu foi a cedência do PS e o desmantelamento de boa parte do sistema bancário nacional. O que aconteceu foi que o Governo desprotegeu o país porque não teve determinação de fazer aquilo que tinha de ser feito. E a isto, camaradas, chama-se irresponsabilidade. Meço bem as palavras”, afirmou, argumentando ainda que “a gestão das contas públicas numa lógica de curto prazo” “não é responsável, é facilitista, porque se esconde atras de falsas restrições orçamentais” e é “imprudente”, por ser “uma enorme cedência a Bruxelas” e “ao discurso da direita”.

A bloquista continuou o ataque: “O PS, que hoje propagandeia o défice zero, amanhã será incapaz de explicar por que é que os instrumentos públicos de combate à pobreza são mais importantes do que as metas do défice. E sabem que mais, camaradas? São mesmo mais importantes. Porque não há pior défice que a pobreza. Não há pior dívida para os nossos filhos do que uma escola fraca e um Serviço Nacional de Saúde esburacado.”

Por isso, defendeu: “Este é o momento de fazermos justiça na economia.” E acrescentou mais um exemplo: “é o momento” de se fazer “justiça” aos “que pagam na conta da luz a factura dos lucros” que “a EDP entrega aos accionistas da China e que os accionistas da China entregam a António Mexia, que ganha num mês aquilo que um trabalhador no seu call center precisará de mais de 200 anos para ganhar”.

“O capital quer que esta legislatura seja um parênteses”

Antes tinha discursado Jorge Costa. Com um ano de eleições a aproximar-se, o deputado bloquista decidiu neste domingo alertar o BE para a campanha difícil que se avizinha, porque o PS vai lutar pela maioria absoluta. E isso vai, sublinhou, agradar ao poder económico que quer se regresse “à velha alternância”. “O capital quer que esta legislatura seja um parênteses para não esquecer”, disse Jorge Costa na XI Convenção Nacional do partido, em Lisboa.

Esse poder económico, que inclui, segundo Jorge Costa, empresas como a Galp ou a EDP, mas também as confederações patronais, “olham para esta legislatura e não perdoam” as conquistas sociais alcançadas. “Vão lá perguntar se o BE é mesmo um partido igual aos outros”, afirmou.

"Eles sabem de onde nós vimos e para onde vamos: conquistar o controlo público de sectores estratégicos privatizados, defender a saúde, o ensino, a segurança social pública, travar a invasão destes sectores pelo poder do dinheiro e pela lógica do mercado, nacionalizar a banca porque o Estado deve ser dono daquilo que paga, levar a democracia às empresas e todo o mundo do trabalho e combater a precariedade", disse.

Para alguns empresários, aliás, continuou Jorge Costa, BE e PCP – os parceiros do Governo nesta legislatura – “só atrapalham”, mas o PS não. Querem, por exemplo, que a expressão “partidos de protesto”, que saiu do léxico político com a “geringonça”, seja recuperada.

Mas tudo isto só dá “uma certeza” a Jorge Costa: “Alguma coisa andamos a fazer bem nos últimos tempos.”

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