A decepção dos revolucionários
Vários críticos da "social-democratização" do BE expressaram o seu desapontamento.
O Bloco institucionalizou-se, "social-democratizou-se", abandonou a sua matriz de esquerda radical? Para os críticos da direcção e da aliança com o Governo PS, tudo isto é verdade. "Hoje estamos mais fracos", disse aos camaradas Inês Ribeiro Santos, subscritora da moção M. E "mais fracos" porquê? "A radicalidade do Bloco perdeu-se entre a sede de mediatismo e o trabalho burocrático e parlamentar, confundindo-se os meios com os fins, seguindo sem estratégia clara (...) dentro de uma bolha partidária com paredes cada vez mais grossas, fortalecidas por um encantamento de aproximação do poder, pela arrogância de quem se acha sempre certo e pelo sectarismo de quem se recusa a dialogar dentro de casa mas que abre as portas ao centro".
Inês Ribeiro Santos acusou a direcção de "passividade" e ainda pior: "A passividade do Bloco e a incapacidade de mobilizar e comunicar com as pessoas para lá das teias da comunicação social e da politiquice são gritantes". Não foi para isto que o Bloco nasceu, defende a subscritora da moção M. "Estamos posicionados num espectro político centrista e recuado face aquilo que é a génese do Bloco. E a naturalização dos recuos é a garantia da nossa derrota", disse.
A militante acusou também a direcção de falta de democracia interna: "O Bloco, mais semelhante ao PCP do que quer admitir, tem vindo a atropelar as decisões tomadas colectivamente". A moção M defende que o partido "necessita afirmar-se como uma alternativa às políticas liberais e não ser confundido com um partido-fantasma que não está nem no Governo nem na sua oposição". Quanto ao BE ir para o Governo, a militante crítica da direcção diz que o partido "não pode ser confundido com uma muleta de um qualquer governo que não cumpra aquilo que defendemos como modelo de sociedade".
Outro crítico, Américo Campos, primeiro subscritor da moção C, apontou que "o Bloco de Esquerda precisa de um sobressalto (...). Somos fraquíssimos em termos organizativos". Criticando o documento estratégico da líder, Américo Campos afirmou: "A moção A está mais preocupada com a institucionalização do Bloco de Esquerda e obcecada por lugares, cargos e empregos, objectivos egoístas e pequeno-burgueses".
O militante decepcionado Mateus Sadock foi claro ao mostrar aos congressistas a sua desilusão: "Infelizmente descobri que o Bloco de Esquerda não é o partido que eu achava que era". Sadock acha que o partido está a "normalizar cada vez mais o sistema da contra-revolução" e também se queixa de que "os militantes do Bloco sabem da acção política do partido através das televisões. Para esta direcção, a democracia interna e o radicalismo são inconvenientes". Sadock critica "a linha reformista da direcção", que "abandonou a transformação radical da sociedade": "Vivemos das migalhas que o PS nos dá".
Hoje, o BE, afirma o militante crítico, é "um partido de esquerda que não põe em causa a democracia burguesa". "O Bloco deve ser um partido de ruptura com o sistema. Só assim não estaremos condenados aos tristes destinos dos partidos sociais-democratas".
Para Pedro Pereira, para lá dos "ténues aumentos de rendimento", o apoio ao Governo PS "não alterou rigorosamente em nada a relação de forças com a Europa". Além disso, por muito que os documentos bloquistas se insurjam contra a NATO, "nunca se fala na questão da NATO".